Devíamos
estar todos doidos quando deixámos a Alemanha controlar o euro.
Pedro
Passos Coelho, por via do sol ou dos churrascos a mais na Manta Rota, apareceu
ontem na festa do PSD do Pontal com um discurso alienígena. Em plena crise do
euro, com o ministro das Finanças alemão a boicotar qualquer hipótese de
títulos de dívida pública europeia, com George Soros a dizer que a única saída
que Portugal tem é abandonar o euro, Passos Coelho faz um discurso de "bom
aluno" da troika - mas que na altura em que a Europa se encontra, é uma
conversa típica de "nerd".
É
espantoso como Pedro Passos Coelho conseguiu isolar a crise portuguesa como se
não estivesse englobada na crise do euro. O que ontem Passos Coelho repetiu foi
uma espécie de discurso do "orgulhosamente sós" versão dívida. Sim, é
bom culpar Sócrates que, aliás é culpado de muita coisa, incluindo de gastos
inconcebíveis para propaganda eleitoral. Mas é difícil de perceber como é que
um primeiro-ministro tem da crise do euro uma versão tão tosca.
As
coisas agravaram-se para a zona euro desde que Sócrates saiu do poder. A situação
portuguesa pode estar melhor em termos de juros da dívida - pagamos menos juros
que há quatro meses atrás - mas está pior porque de um momento para o outro,
tudo pode implodir. E, assim de um momento para o outro, os nossos empréstimos
negociados nos velhos tempos de juros inexistentes de repente podem ser
convertidos no bom e velho escudo, levando à catástrofe económica e financeira.
A ameaça que paira sobre as economias italiana, espanhola e francesa, sem que a
Alemanha dê mostras de qualquer cedência é insustentável. A reunião de amanhã
entre um já muito acossado Sarkozy e Angela Merkel pode não servir para nada. A
entrevista do ministro alemão das Finanças ao Spiegel foi já a antecâmara dessa
conclusão: da esquerda à direita, já todos concluíram que a única maneira de
resolver a crise do euro é mais federalismo com a emissão dos famosos Eurobonds,
títulos de dívida pública europeia. Mas a Alemanha não vai deixar.
Devíamos
estar todos doidos (incluindo os tais grandes líderes europeus que já não existem,
como Jacques Delors) quando deixámos a Alemanha controlar o euro: ou seja,
quando aceitámos passivamente que a moeda única fosse uma cópia do marco alemão
e o BCE um émulo do Deutsche Bank. Um país miserável como o nosso, com uma
fraquíssima estrutura produtiva que ainda foi mais prejudicada com as das
negociações das quotas agrícolas e de pesca, passou a viver com uma moeda
equivalente ao marco alemão, para felicidade de todos. Isto é insustentável,
mas neste momento a bem-amada União Europeia também parece insustentável. Que
nada disto pareça interessar ao alienígena do Pontal, que volta candidamente a
anunciar que vai cortar nas despesas mas não diz como, e que acha que "a
salvação portuguesa" depende exclusivamente de "nós próprios" é
deveras impressionante. Que Pedro Passos Coelho não perceba que este tipo de
conversa de "nerd" se vai virar contra si na próxima esquina é muito
estranho. E entre tantos especialistas contratados, não há ninguém que lhe
explique isto?
Editorial
do “i”, por Ana Sá Lopes
Dispensamo-nos de qualquer comentário…
Nerd é um termo que
descreve, de forma estereotipada, muitas vezes com conotação depreciativa, uma
pessoa que exerce intensas actividades intelectuais, que são consideradas
inadequadas para a sua idade, em detrimento de outras atividades mais
populares. Por essa razão, um nerd muitas vezes não participa de atividades
físicas e é considerado um solitário pelas pessoas. Pode descrever uma pessoa
que tenha dificuldades de integração social e seja atrapalhada, mas que nutre
grande fascínio por conhecimento ou tecnologia.
Passos diz que, se continuarmos a fazer "o trabalho de casa" (Abomino a expressão!!!), Portugal terá futuro. Era para ficarmos todos sossegados ou o homem está mesmo convencido?
ResponderEliminarComo muito bem pergunta o Miguel, não há ninguém que lhe explique?...
A subservivência e a burrice estão a empurrar-nos para o abismo. Quantos (ou quais?) se salvarão?
Elisabete
ResponderEliminarPelo que se diz e ouve de quem mexe os cordéis, a coisa vai de mal a pior e corremos o risco de pagar tão depressa (os juros) ainda vamos ficar a meio do caminho, deixar o euro, fazer sacrifícios e ficar a dever mais... Por isso é que dizem que a pressa não é boa conselheira e o homem anda mesmo no outro mundo. Não é à toa que a editorialista do "i" diz o que diz, bem com Loureiro dos Santos, coisas que eu ainda não diria.
Quem se salvará? Os bem aventurados...
"Tentou fazer isso pela guerra, com o Kaiser e com Hitler, e agora está a fazê-lo pela via económica, pagando as fronteiras."
ResponderEliminarEsta frase vinda de quem vem é pavorosa. Não saberá o senhor General os verdadeiros motivos da Primeira Guerra Mundial foram uma série de alianças entre diversos países que, pela primeira vez na história, provavelmente, funcionou em pleno? Depois do primeiro tiro em Sarajevo foram uma série de declarações de guerra nas quais a Alemanha, não só não foi única, como não foi sequer a primeira.
Esta pseudo-intelectualidade que nos rodeia em todo o espectro da sociedade portuguesa é de meter medo e cada vez me faz perceber mais porque é que somos um pobres miseraveis.
Mas, de facto, Merkel está a conseguir o que Hitler não conseguiu. Só mesmo de uma comunista convertida.
Elenáro
ResponderEliminarUm até acho que ELA ainda é comunista, via economia democrática do Cavaco, em que através da bolsa, todos seríamos donos de qualquer coisinha nas empresas. Só que a coisinha, é darmos dinheiro para essas empresas, como se fossemos comunistas...