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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Realmente!

O humor na Europa (6/10)
O humor está para o Reino Unido como a coluna de Nelson para Trafalgar Square: é um monumento! Não se brinca com esta qualidade reconhecida no mundo inteiro, como explica Le Monde no 6º capítulo da série sobre o humor.
“Os chineses enviaram, pela primeira vez, uma mulher astronauta para o espaço. Fazem realmente tudo para se livrarem das suas filhas.” A frase é lançada numa conversa, com o ar mais sério possível. No Reino Unido já passa das 22 horas e a televisão emite um dos seus muitos concursos de perguntas e respostas consagrado à atualidade.
O formato do programa é sempre o mesmo: 2 equipas de 2 ou 3 convidados que se confrontam sobre os temas da semana. Não há prémio, as pessoas não querem saber dos pontos que ganham e dar a resposta certa não tem qualquer interesse. O confronto é uma desculpa para ver quem dá as melhores respostas, manda as piadas mais ferozes e utiliza as palavras certas.
Este formato é tão popular que praticamente todas as noites é emitido um. “Mock of the Week”, “8 out of 10 Cats”, “Never Mind the Buzzcoks”, “QI”O mais conhecido, que opõe o hilariante e incrível Ian Hislop – também chefe de redação do Private Eye, o equivalente britânico de Canard enchaîné – e Paul Merton, chama-se “Have I Got News for You”, existe desde 1990 e reúne regularmente mais de 5.000.000 de espetadores.
Subentendidos e sentido crítico
Mas atenção: o humor é algo muito sério no Reino Unido, provavelmente o único país no mundo que se define por esta qualidade. Não há qualquer problema em cair no grosseiro – desde que não seja demais. Idealmente, os convidados devem possuir um humor seco, repleto de subentendidos e sentido crítico. Se o elogio é um erro imperdoável e os americanos que passam por estas emissões estão, por norma, totalmente perdidos – deveriam ter visto a profunda incompreensão de David Hasselhoff, a estrela de Marés Vivas, que recentemente participou em “8 out of 10 Cats”
Nesta mesma emissão, Jon Richardson, um dos convidados, passou o tempo todo a falar de como é antissocial, de esquerda e desastrado. “Normalmente, é preciso ir para a universidade para descobrirmos quem somos. Eu descobri que sou um idiota.” Tudo isto é provavelmente falso, tendo em conta que é uma estrela do pequeno ecrã e cujos espetáculos enchem as salas. Mas é tão britânico.
No seu livro sobre a sociedade inglesa, a antropóloga Kate Fox consagra um capítulo inteiro ao humor. “Noutras culturas, o humor é utilizado ‘em determinadas alturas e locais’; é outra linguagem, especial. Nas conversas em inglês, existe sempre um ligeiro tom humorístico. (…) O humor é o nosso estilo por defeito: não precisamos de o ativar, mas não o podemos desligar.” Os ingleses não são necessariamente mais engraçados do que os outros, diz ela, mas dão mais importância ao humor. E é por isso que, praticamente todas as noites há um programa para os divertir. E dizer o que não ousariam normalmente dizer noutras circunstâncias por educação. “O suor, o sofrimento, a resistência, essas pessoas superam os seus limites… É este o ambiente do metro durante os Jogos Olímpicos.”

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