O humor na Europa (7/10)
Quando se vive isolado do mundo e se descende de um povo Viking conhecido pelas suas dificuldades na arte da comunicação, é melhor saber manipular o sentido crítico com destreza. No seu 7º episódio, Le Monde transporta-nos a Reykjavik onde a paródia continua a ser o melhor remédio para o narcisismo insular.
Os habitantes da capital, Reykajavik, elegeram um humorista para presidente da Câmara, Jon Gnarr, cujo programa era “encher os bolsos durante 4 anos e fazer a sua família beneficiar disso”. Obteve 40% dos votos. Uma exceção? Não. O antigo primeiro-ministro, David Oddsson, que não fazia as pessoas rirem enquanto diretor do Banco Central durante o colapso bancário de 2008, tinha-se estreado como humorista na rádio. E o mais célebre ecologista fez rir várias gerações ao longo das suas atuações. O narcisismo desta pequena nação insular é tão grande que chamam ao seu antídoto: sentido crítico.
Rir de si mesmo é fácil, mas rir dos outros, num país em que toda a gente se conhece mais ou menos, é delicado. Quando um pastor ou um político eleito cometem um erro, de preferência de carisma sexual, surgem imediatamente rimas de quatro versos; mas o melhor fica para mais tarde, e o nome da personalidade em causa nunca mais surge.
A paródia é uma outra forma de gozar com as pessoas sem as mencionar. As festas que absorvem cerca de 1/3 da sociedade islandesa são uma boa ocasião para caricaturar aqueles com quem se convive o ano inteiro. Depois de brindarem, obviamente, uma vez que este humor de proximidade apenas funciona quando a bebedeira serve de desculpa para todas as ousadias.
O humor não parece ser o forte dos Vikings. As suas declarações lacónicas nas sagas limitam-se ao silêncio. Mas atualmente gozam com a sua total indiferença, para ridicularizar a dificuldade dos islandeses em exprimir os seus sentimentos.
Patetas desastrados e raparigas ingénuas sem pudor
A inocência e a ignorância dos camponeses serviram durante muito tempo como fonte de inspiração para o cómico islandês. Patetas desastrados que levam a sua quinta ao desastre e raparigas ingénuas dos fiordes do norte revelam-se mais espertas do que aparentam. A uma delas que veio trabalhar na época de pesca do arenque, o contramestre explica que é preciso colocar o peixe nos barris com as cabeças encostadas umas às outras e a cauda virada para cima. “Oh, já vi isso centenas de vezes”, responde a jovem desprovida de pudor.
A urbanização e a penetração da cultura dinamarquesa e americana mudaram as mentalidades no século XX. Exprimir-se em inglês ou em dinamarquês passou a ser considerado engraçado e provocador. A Islândia, pós-independente, rejeita a autarcia linguística, e a atualização do léxico nacional está na ordem do dia! É o presidente da câmara de Reykjavik que está na origem deste renascimento, passando da paródia à sátira de caráter em que se goza com arquétipos islandeses.
Num sketch, por exemplo, a sua personagem mais popular, o insuportável Senhor Sabe-Tudo, numa conversa com a sua mulher, elogia os talentos de um ator inglês conhecido que viram, segundo ele, na véspera num filme. Perante a esposa, que lhe garante que esse ator não participou no filme, e um amigo que o confirma, ele mantém-se seguro da sua posição. Uma confiança que preservará ao tentar convencer ao telefone o ator em questão, num inglês manchado por um péssimo sotaque islandês.
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