Não é raro ouvi-lo criticar as políticas de austeridade adoptadas na zona euro. E o alerta que repetiu nos últimos dias é um sério aviso à espiral recessiva que diz deixar a Europa à beira do caos. Joseph Stiglitz, Nobel da Economia em 2001, um olhar um tanto pessimista sobre o futuro europeu, fala nesta quarta-feira em Lisboa, no IV Congresso da Distribuição Moderna, depois de uma série de apelos recentes a um pensamento menos conformista com a austeridade na gestão da crise.
“A austeridade como solução é simplesmente [uma política] errada” para a Europa superar a crise, afirmou ainda numa entrevista à Bloomberg, repetindo o argumentário que fora na véspera apresentar num fórum financeiro em Hong Kong.
Professor na Universidade de Columbia, antigo vice-presidente do Banco Mundial, actual presidente da Associação Económica Internacional, o economista norte-americano tem insistido recentemente contra uma política de combate à crise apenas centrada na austeridade, que diz ser um caminho insustentável.
Quando os líderes europeus acertam detalhes para finalizarem um pacto que reforça a disciplina orçamental na zona euro – alargado voluntariamente aos países da União Europeia –, Stiglitz diz que a direcção que a Europa está a tomar é a errada.
É um assumido partidário das posições keynesianas. O que propõe é exactamente o contrário dos repetidos apelos à redução orçamental na eurolândia: o aumento da despesa pública, com investimento público como motor de um efeito de multiplicação orçamental.
Se, pelo contrário, os líderes da zona euro insistirem na fórmula da austeridade, é previsível uma grave recessão, sustenta. Ainda há dias defendia que, mesmo se o reforço das regras orçamentais e a austeridade possam prevenir a próxima crise, estas medidas “não são a solução para a crise actual”.
Stiglitz, que no Banco Mundial exerceu também o cargo de economista-chefe, diz ser urgente repensar a arquitectura financeira global – e isso exige regulação e transparência. Há duas razões essenciais que o justificam: por um lado, porque o mundo moderno só viveu um período de estabilidade financeira (no pós-crise de 1929); por outro, porque só com transparência porá fim à turbulência nos mercados financeiros.
Sobre a Europa, o economista tem um olhar profundamente pessimista – acredita ser quase inevitável o desaparecimento do euro.
Escrevia num artigo de Dezembro, passando em revista o ano de 2011, “o ano do pessimismo racional”: “É provável que os problemas económicos e políticos que se manifestaram nos Estados Unidos e na Europa em 2011 – e que foram terrivelmente mal geridos até agora – só piorem em 2012”.
Será o ano de todos os perigos, como resumia num outro texto. As hesitações sobre o futuro da Grécia e a escolha da austeridade pelos principais países da moeda única considera, “custaram caro à Europa no último ano”. E continua: “A Itália foi tocada pelo contágio. Em Espanha, o desemprego que já se encontrava nos 20% no início da recessão, continuou a aumentar. O impensável – o fim do euro – começou a tornar-se uma possibilidade real”.
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