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sábado, 21 de janeiro de 2012

Os pilares estruturantes do método da “amorização”?

Segundo a Teoria da Interpretação dos Sonhos elaborada por Freud, o desejo é o que move o aparelho psíquico, é o que nos faz dormir, sonhar e acordar. E o sonho na sua representação onírica é a manifestação de um desejo. Um desejo inconsciente. Entretanto, o desejo que Freud nomeia é enigmático e difere da forma absoluta designada da necessidade - da falta – mas que deve ser compreendido e apreciado como elemento de uma pulsão que permeia o limite entre a vida e a morte – entre o ensinar e o aprender.
Na visão psicanalítica, o desejo, não se trata simplesmente de algo a ser realizado, mas de uma falta nunca realizada pelos seres finitos e imperfeitos – o sujeito. O sujeito que ensina e o sujeito que aprende.
Para Lacan, o desejo, na sua função, é inconsciente. O desejo é o desejo do desejo, isto é, o desejo do Outro, porque o sujeito é um ser faltante e se constitui através do Outro e pode levar uma vida inteira procurando a plena realização, uma vez que, o sujeito, não satisfaz um desejo, mas goza por desejar.
E, segundo o pensamento filosófico, quando consciente, o desejo é uma atitude mental que acompanha a resposta do fim esperado e, assim, Hegel, define o desejo como algo imparável que está sempre em movimento e, Sócrates, na sua imensurável sabedoria, afirma que todo o homem, por natureza, tem o desejo de aprender e por esse processo evolui.
Piaget, na estruturação da epistemologia genética postula que o conhecimento se dá na relação entre o sujeito e o objeto a ser conhecido e, também, Ruben Alves, numa postura educadora, filosófica e psicanalítica declara que, “o conhecimento são extensões do corpo para a realização do desejo” e, um desejo realizado é como um pensamento morto, mas que pode ressuscitar numa nova roupagem e originar outro desejo e, assim, sucessivamente.
Contudo, o formato e o conceito psicanalítico de ‘transferência’ na relação professor/aluno pode auxiliar na compreensão de como o desejo se faz presente no processo de ensinar e de aprender no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo.
Partindo deste pressuposto, a importância do desejo no processo de ensinar  e de aprender passa pelas bases do pensamento filosófico (uma vez que, o desejo é considerado  uma atitude mental) e pela matriz do pensamento psicanalítico que aponta para uma pulsão que se origina na estrutura do princípio do prazer.
O desejo de ensinar de um indivíduo constitui-se no entrelaçamento do objeto de prazer, de poder e de domínio do conhecimento que, segundo Lacan, busca ocupar o lugar do “sujeito suposto-saber”, comummente conhecido por ‘professor/analista’. Embora, o ensinar não esteja diretamente ligado só à figura do professor, mas a todos aqueles que têm o desejo de ensinar, de transmitir o conhecimento adquirido e, com isso, beneficiar a vida de outras pessoas e, este ato, é facilitado quando ocorre  a transferência, ou seja, quando o aprendente  ‘se apaixona’ pelo ensinante. 

E, nesta mesma linha de pensamento ‘apaixonado’, o desejo de aprender, também, emerge da constituição psíquica do sujeito sedenta por conhecimento. E, este conhecimento transita pelos corredores dos mais simples para os mais complexos, dos mais rudimentares para os mais elaborados, dos empíricos para os académicos e científicos. E nesta caminhada, o processo de aprendizagem, fundamentado no desejo de aprender, eclode.

Entretanto, quando o aprender sistematizado é apresentado ao sujeito como obrigação e destituído de desejo, ele apenas germina, mas não floresce, não frutifica - estagna. Embora, o sujeito nunca para de aprender, a vida, enquanto durar é um constante processo de aprendizagem.
Portanto, quer seja aprendendo, quer seja ensinando, sejamos repletos de desejos, porque o desejo é o que nos move, é o que nos faz sonhar, realizar e novamente desejar.
E o meu desejo, hoje, é que possamos ser professores e professoras desejantes.
Corina de Mello Decco - Pedagoga, psicopedagoga, terapeuta de família e psicanalista

2 comentários:

  1. Desejar... é apenas um querer que vem de dentro e que por vezes é difícil de controlar!

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    1. Mas aí entra o educador, que com o mesmo desejo, consegue ensinar.

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