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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Esta crise prejudica todos, menos os RESPONSÁVEIS!

Será que a União Europeia entrou em fase terminal? Num ensaio, o jornalista e historiador holandês Geert Mak considera que esta deve escolher, em 2012, a via política que lhe permite sair da lógica do dinheiro. Sob pena de ficar sem o seu estatuto no mundo.
Não era algo que fizesse parte dos seus projetos imediatos. Geert Mak escreve atualmente um livro sobre os Estados Unidos e a Europa passou, portanto, para segundo plano. Mas quando o semanário alemão Die Zeit se interrogou sobre o motivo que levava os intelectuais europeus a esconderem-se por trás do silêncio, decidiu escrever De hond van Tišma. Wat als Europa klapt?  [O cão de Tišma. E se a Europa explodisse?]
O cão de Tišma é um pequeno livro sombrio. Com Norman Davies, historiador especialista da Europa, Geert Mak chegou à conclusão que a cimeira dos dirigentes europeus, ocorrida em dezembro deitou por terra as últimas esperanças. “Temo que seja o fim”.
É a história do demasiado pouco, demasiado tarde. Demasiado pouco dinheiro para o fundo de resgate, demasiado poucas possibilidades de sanções, demasiada pouca visão e finalmente demasiada pouca direção europeia. “A Alemanha de Merkel, escreve Geert Mak, perdeu uma oportunidade histórica de se tornar o verdadeiro dirigente da Europa. Com medo do espetro demoníaco, o espetro da inflação, a Alemanha encaminha a Europa para uma recessão”. “É um erro, afirma Geert Mak. Mais valia emitir papel-moeda, em vez de apertar o cinto no sul ao ponto de os esganar”.
Escreveu que é preciso reconquistar a Europa, a qual deve parar de obedecer a uma lógica do dinheiro. Mas de que forma? Em 1989, o ocidente livre venceu o comunismo e autorizou um terrível deslize para um capitalismo de casino.
Quando realizamos negócios, corremos riscos. Tanto podemos ver os nossos esforços recompensados como pode correr mal. Todos os feirantes o sabem. Mas o livre-câmbio é ameaçado pelos bancos, que quase começaram uma revolução antidemocrática. Estes últimos apoderaram-se do poder. Todos saem prejudicados desta crise, exceto os responsáveis. Os bancos não correm qualquer risco e o setor público assume as consequências.
Recentemente, assisti a uma reunião onde um grande economista chinês e um responsável africano do Banco Central censuravam um grupo de especialistas europeus do setor financeiro. Uma reviravolta histórica interessante. O africano dizia: “os vossos bancos estão repletos de pessoas extremamente competentes, mas cometeram todos os erros possíveis e imagináveis. Algo que só se pode explicar pela intervenção de outros fatores nas suas decisões. Em África, qualificamos estes fatores de corrupção.” Fez-se silêncio na sala. Este fazia referência aos prémios, e tinha toda a razão.
A Europa representava uma tentativa de colocar a democracia acima das fronteiras nacionais. Será a democracia incapaz de enfrentar um mercado mundial desenfreado?
É o que me entristece profundamente. Apesar de todos os seus defeitos e de todas as suas feridas, a União Europeia é uma experiência fantástica nesta área. Devemos portanto defendê-la com unhas e dentes. Neste feroz século XXI, a UE deveria ser o modelo que preserva os valores democráticos. Se esta desaparecer, outros virão preencher o vazio deixado pela Europa. Os americanos, os chineses, os brasileiros, os russos.
A UE é um produto característico da fé na exequibilidade de uma vida comunitária. Acabarão os populistas por ter razão? Será que isto não funciona?
Não. Apenas têm razão num ponto: um sentimento de mal-estar abate-se sobre a Europa como um nevoeiro. Na Holanda, este sentimento é muito forte. Enquanto outros países continuam a ronronar de satisfação. Os populistas refletem este mal-estar. Compreendo as críticas feitas à Europa. Mas isolar-se equivale a acreditar em magia. O mito nacional é incrivelmente sedutor. Por vezes, quando estou deitado à noite na cama, penso: e se eu fosse de direita durante um quarto de hora. Seria maravilhoso!
Este mal-estar é algo tangível no seu livro. Você é europeu por instinto, mas o seu ponto de vista reflete a visão de um historiador. E é sem sucesso que acaba por admitir que isto não funciona.
Talvez seja lamentável, mas não fiquei surpreendido. No último capítulo do meu livro In Europa já referia que o barco estava muito desequilibrado com 27 capitães a bordo e anunciava o aparecimento de graves problemas em caso de tempestade. Eis que agora a tempestade causa estragos.
O seu pequeno livro termina com uma nota sombria. Que esperanças tem para 2012?
No ano que vem, a questão consiste em saber qual será o futuro da Europa. Continuará a ser um sistema comunitário sob a direção de uma poderosa Comissão Europeia ou tornar-se-á um sistema intergovernamental descentralizado, como desejam os alemães. A Holanda poderá neste caso desempenhar um papel de mediador. Não somos tão dogmáticos como os alemães. Desempenharemos portanto esta função plenamente, por interesse pessoal. Uma vez que somos, e continuaremos a ser, um país virado para o mundo.

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