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sábado, 14 de maio de 2011

A poesia foi premiada e o poeta também!

O escritor Manuel António Pina, Prémio Camões 2011, "rompeu com a tradição" na literatura para a infância e criou uma obra de "grande exigência" para os leitores mais novos, disseram duas investigadoras de estudos literários.
Jornalista e poeta, Manuel António Pina publicou a primeira obra em 1973, "O país das pessoas de pernas para o ar", que reúne 4 contos para a infância.
Na época, o livro "rompeu com a tradição e deu um salto qualitativo na literatura para a infância", afirmou Ana Margarida Ramos, professora de Literatura para a Infância na Universidade de Aveiro.
A obra de Manuel António Pina, 67 anos, inclui teatro, poesia, coletâneas de crónicas e muitos contos para o leitor infanto-juvenil, tendo publicados títulos como "O pássaro da cabeça" (1986), "O inventão" (1987) e "O pequeno livro da desmatemática" (2001).
"Pina vai buscar inspiração a uma certa literatura virada para o absurdo e que explora muito a palavra e a própria linguagem. E a obra dele convoca referências de intertextualidade que não são da literatura infantil", defendeu Ana Margarida Ramos.
A obra de Manuel António Pina para a infância e juventude foi o tema de tese de doutoramento de Sara Reis da Silva, professora na Universidade do Minho.
Para a investigadora, a obra de Manuel António Pina não faz distinção entre leitores novos e adultos e "cultiva modos e géneros muito diferentes". "A questão do humor e do nonsense são alicerces da sua obra", afirmou, recordando que o primeiro livro do autor, "O país das pessoas de pernas para o ar", contém dois contos que "derrubaram [à época] dogmas do catolicismo".
O anúncio da atribuição do Prémio Camões a Manuel António Pina foi feito no Rio de Janeiro.
A escritora Maria Velho da Costa, Prémio Camões em 2002, considerou que este ano o maior galardão da literatura em língua portuguesa "foi parar a boas mãos", ao ser atribuído a Manuel António Pina.
"Acho que era tempo de ir para um poeta", vincou, sublinhando, porém, que não é a primeira vez que tal acontece. "Os prémios são sempre aleatórios, sempre discutíveis", realçou a escritora, recordando que ficou "estarrecida" por ter recebido o Prémio Camões antes de Agustina Bessa-Luís (2004).
O Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, foi atribuído a Manuel António Pina por unanimidade.
Integraram o júri desta 23.ª edição Rosa Maria Martelo (professora da Universidade do Porto), Abel Barros Baptista (professor da Universidade Nova de Lisboa), por Portugal, a escritora Edla Van Steen e o professor António Carlos Secchin, pelo Brasil e, em representação dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), a professora Inocência Mata e a escritora Ana Paula Tavares.
A sua obra poética está traduzida em vários países e venceu os prémios da Fundação Luís Miguel Nava (2004) e da Associação Portuguesa de Escritores (2005) com o seu volume de poesia "Os Livros", editado pela Assírio em 2003.
Porque gosto dos trabalhos do autor, sobretudo como cronista, por desconstroir a realidade construída pelos media em que trabalha e porque, por isso, tenho recorrido a alguns trabalhos seus para preencher o meu tempo e o dos leitores deste blogue, é consequente ficar satisfeito com esta distinção e endereçar-lhe os PARABÉNS merecidos, com um obrigado.
Aos Filhos

Já nada nos pertence,
nem a nossa miséria.
O que vos deixaremos
a vós o roubaremos.

Toda a vida estivemos
sentados sobre a morte,
sobre a nossa própria morte!
Agora como morreremos?

Estes são tempos de
que não ficará memória,
alguma glória teríamos
fôssemos ao menos infames.

Comprámos e não pagámos,
faltámos a encontros:
nem sequer quando errámos
fizemos grande coisa!

Manuel António Pina, in "Um Sítio onde Pousar a Cabeça" 
Foto

2 comentários:

  1. As suas crónicas são de leitura obrigatória. Nada de politicamente correcto,AP prima pela objectividade, doa a quem doer. Pessoas como ele são cada vez mais raras nos media.A maior parte dos jornalistas não passa de gente vendida ao poder.Parabéns ao escritor e jornalista.

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  2. maria
    Estou de acordo! A independência obriga à inteligência!

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