O escritor Manuel António Pina, Prémio Camões 2011, "rompeu com a tradição" na literatura para a infância e criou uma obra de "grande exigência" para os leitores mais novos, disseram duas investigadoras de estudos literários.
Jornalista e poeta, Manuel António Pina publicou a primeira obra em 1973, "O país das pessoas de pernas para o ar", que reúne 4 contos para a infância.
Na época, o livro "rompeu com a tradição e deu um salto qualitativo na literatura para a infância", afirmou Ana Margarida Ramos, professora de Literatura para a Infância na Universidade de Aveiro.
A obra de Manuel António Pina, 67 anos, inclui teatro, poesia, coletâneas de crónicas e muitos contos para o leitor infanto-juvenil, tendo publicados títulos como "O pássaro da cabeça" (1986), "O inventão" (1987) e "O pequeno livro da desmatemática" (2001).
"Pina vai buscar inspiração a uma certa literatura virada para o absurdo e que explora muito a palavra e a própria linguagem. E a obra dele convoca referências de intertextualidade que não são da literatura infantil", defendeu Ana Margarida Ramos.
A obra de Manuel António Pina para a infância e juventude foi o tema de tese de doutoramento de Sara Reis da Silva, professora na Universidade do Minho.
Para a investigadora, a obra de Manuel António Pina não faz distinção entre leitores novos e adultos e "cultiva modos e géneros muito diferentes". "A questão do humor e do nonsense são alicerces da sua obra", afirmou, recordando que o primeiro livro do autor, "O país das pessoas de pernas para o ar", contém dois contos que "derrubaram [à época] dogmas do catolicismo".
O anúncio da atribuição do Prémio Camões a Manuel António Pina foi feito no Rio de Janeiro.
A escritora Maria Velho da Costa, Prémio Camões em 2002, considerou que este ano o maior galardão da literatura em língua portuguesa "foi parar a boas mãos", ao ser atribuído a Manuel António Pina.
"Acho que era tempo de ir para um poeta", vincou, sublinhando, porém, que não é a primeira vez que tal acontece. "Os prémios são sempre aleatórios, sempre discutíveis", realçou a escritora, recordando que ficou "estarrecida" por ter recebido o Prémio Camões antes de Agustina Bessa-Luís (2004).
O Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, foi atribuído a Manuel António Pina por unanimidade.
Integraram o júri desta 23.ª edição Rosa Maria Martelo (professora da Universidade do Porto), Abel Barros Baptista (professor da Universidade Nova de Lisboa), por Portugal, a escritora Edla Van Steen e o professor António Carlos Secchin, pelo Brasil e, em representação dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), a professora Inocência Mata e a escritora Ana Paula Tavares.
A sua obra poética está traduzida em vários países e venceu os prémios da Fundação Luís Miguel Nava (2004) e da Associação Portuguesa de Escritores (2005) com o seu volume de poesia "Os Livros", editado pela Assírio em 2003.
Porque gosto dos trabalhos do autor, sobretudo como cronista, por desconstroir a realidade construída pelos media em que trabalha e porque, por isso, tenho recorrido a alguns trabalhos seus para preencher o meu tempo e o dos leitores deste blogue, é consequente ficar satisfeito com esta distinção e endereçar-lhe os PARABÉNS merecidos, com um obrigado.
Aos Filhos
Toda a vida estivemos
sentados sobre a morte,
sobre a nossa própria morte!
Agora como morreremos?
sentados sobre a morte,
sobre a nossa própria morte!
Agora como morreremos?
Estes são tempos de
que não ficará memória,
alguma glória teríamos
fôssemos ao menos infames.
que não ficará memória,
alguma glória teríamos
fôssemos ao menos infames.
Comprámos e não pagámos,
faltámos a encontros:
nem sequer quando errámos
fizemos grande coisa!
faltámos a encontros:
nem sequer quando errámos
fizemos grande coisa!
Foto
As suas crónicas são de leitura obrigatória. Nada de politicamente correcto,AP prima pela objectividade, doa a quem doer. Pessoas como ele são cada vez mais raras nos media.A maior parte dos jornalistas não passa de gente vendida ao poder.Parabéns ao escritor e jornalista.
ResponderEliminarmaria
ResponderEliminarEstou de acordo! A independência obriga à inteligência!