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sexta-feira, 15 de abril de 2011

DEMOCRACIA perde para MERCADO desregulado

Portugal não necessitaria de um resgate se não tivesse ficado sob uma pressão “injusta e arbitrária” dos mercados, afirma o sociólogo Robert M. Fishman, da Universidade de Notre Dame, nos EUA.
Esta ideia é defendida na coluna de opinião de Fishman desta semana no New York Times, onde diz também que o pedido de ajuda de Portugal à União Europeia e ao FMI deve ser visto como “um aviso às democracias em todo o lado”.
Robert M. Fishman, cuja actividade de investigação se dedica a tópicos como democracia e práticas democráticas ou as consequências da desigualdade, o pedido de ajuda de Portugal “não é na verdade por causa da dívida”.
Apesar de o país ter apresentado “um forte desempenho económico nos anos 1990 e estar a gerir a sua recuperação da recessão global melhor do que vários outros países na Europa”, ficou sob a pressão “injusta a arbitrária dos negociantes de obrigações, especuladores e analistas de crédito”, que “por vistas curtas ou razões ideológicas” conseguiram “fazer cair um governo eleito democraticamente e potencialmente atar as mãos do próximo”.
Fishman sublinha que a crise em Portugal é “completamente diferente” das vividas pela Grécia e pela Irlanda, e que as “instituições e políticas económicas” tinham “alcançado um sucesso notável” antes de o país ter sido “sujeito a ataques sucessivos dos negociantes de obrigações”.
Nota que a dívida pública é bastante inferior à italiana e que o défice orçamental foi inferior ao de várias outras economias europeias e avança duas hipóteses para o comportamento dos “mercados”: cepticismo ideológico sobre o modelo de economia mista (publica e privada) vigente até agora em Portugal e/ou falta de perspectiva histórica.
“Os fundamentalistas do mercado detestam as intervenções de tipo keynesiano em áreas da política de habitação em Portugal – que evitou uma bolha e preservou a disponibilidade de rendas urbanas de baixo custo – e o rendimento assistencial aos pobres”, diz ainda Fisherman no seu texto, intitulado “O resgate desnecessário a Portugal”.
Neste cenário, acusa as agências de notação de crédito (rating) de, ao “distorcerem as percepções do mercado sobre a estabilidade de Portugal”, terem “minado quer a sua recuperação económica, quer a sua liberdade política”.
E conclui que o destino de Portugal deve constituir “um claro aviso para outros países, incluindo os Estados Unidos”, pois é possível que o ano em curso marque o início de uma fase de “usurpação da democracia por mercados desregulados”, e em que as próximas vítimas potenciais são a Espanha, a Itália ou a Bélgica, num contexto em que os governos têm “deixado tudo aos caprichos dos mercados de obrigações e das agências de notação de crédito”.
Apesar de haver economistas a dizerem que esta é uma visão excessivamente idealista, mas que sublinha bem as pressões especulativas sobre o nosso país, não há dúvidas de que a pressão existiu, gratuita e injustificada (subiam num dia porque sim e desciam no outro dia porque sim).
Mas o mais significativo neste artigo, é a chamada de atenção para o domínio dos mercados sobre a DEMOCRACIA, por não haver regulação, que os próprios países vitimizados facilitam, resultando, no caso, à queda de um governo eleito democraticamente e limitar a priori a ação do seguinte, que terá que se desfazer de qualquer intenção política/ideológica.
A mesma dúvida sobre as diferenças de dívidas públicas e dos défices orçamentais, para pior, relativamente a outros países europeus e do resto do mundo, também eu as tenho (basta consultar e comparar no relógio da dívida, acima no blogue), mas talvez seja por impreparação, embora o mesmo não deva acontecer com o articulista.
E para darmos alguma credibilidade a Fishman, ficamos à espera dos seus vaticínios sobre os ataques das agências de rating sobre a Espanha, a Itália ou a Bélgica, enquanto sobre os EUA não seja tão fácil, já que tais agências têm bandeira americana.
A injustiça e a arbitrariedade dos mercados, sob a capa dos capangas das agências, é discutível, mas a usurpação da democracia não se discute, combate-se…

2 comentários:



  1. Caro Miguel

    Não sou arquiteto...
    sou um EX-quase, "inacabado"!
    Trabalhei 36 anos com arquitetura,
    mas cansei,
    briguei,
    enfartei,
    (construi pontes no coração, "safenas")
    e larguei...!

    Sinta-se a vontade para usar as imagens, desde que cites a fonte.

    Obrigado pelo ELO.gio!

    Abraço!

    Tonho

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  2. Caro Tonho
    Obrigado pela permissão.
    Eu sou arquiteto há 38, também briguei,não cansei, cansei os outros e só estacionei por causa da maldita crise. Entretanto fui professor 38 anos e larguei.
    Esse jogo de palavras e com as palavras é um bom jogo de cintura intelectual, que significa um domínio da língua e uma criatividade incontida. Claro que quando lhe junta o desenho a coisa explode.
    Cuidado com as pontes e espero que o engenheiro não tenha sido o da 1ª ponte sobre o lago de Brasília.
    Abraço e bfs

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