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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

“Ossis” ou “wessis” são alemães, que se entendam…

De um lado, os "arrogantes", do outro, os "preguiçosos". Quase 1/4 de século após a queda do Muro de Berlim, alemães ainda não se veem como um único povo. Mas os preconceitos enfraquecem a cada geração.
De 1961 a 1989, os cidadãos da Alemanha Oriental estiveram literalmente murados, confinados ao território ocupado pela antiga União Soviética após a II Guerra Mundial, de onde era praticamente impossível escapar. A República Democrática Alemã (RDA) deveria ser um país onde o socialismo fosse vivido. Porém, no fim da década de 80, ficou comprovado o fracasso da experiência.
Quando a fronteira entre as duas partes do país foi aberta, em 1989, multidões de alemães orientais acorreram para a ocidental República Federal da Alemanha (RFA). Queriam aproveitar a liberdade, viajar e, finalmente, poder comprar o que não havia na RDA.
Desapareceu de cena a roupa que imediatamente identificava os alemães orientais – sapatos cinza-claro, blusões de plástico ou malhas de jogging confecionadas com seda de paraquedas. Também os penteados se modificaram: os permanentes montados com secador deram lugar a cortes modernos.
Logo os "ossis" (apelido um tanto pejorativo para os Ostdeutsche – alemães orientais) não se distinguiam mais exteriormente dos compatriotas do ocidente. No entanto, lá no fundo, as diferenças continuavam a existir, e os preconceitos de ambos os lados permaneceram.
Preconceitos do leste
"Eles são arrogantes, sempre fixados no dinheiro, burocráticos e superficiais": assim Thomas Petersen, do Instituto de Demografia Allensbach, resume a opinião que muitos alemães orientais têm, ainda hoje, sobre os do ocidente. Segundo uma pesquisa de opinião realizada em 2012, os alemães do leste têm mais preconceitos em relação aos ocidentais do que vice-versa. Além disso, o Instituto Forsa, de pesquisa social, constatou que ambos ainda não se veem como um único povo.
Os alemães orientais sentem-se mesmo como "cidadãos de 2.ª classe", diz o sociólogo Andreas Zick, da Universidade de Bielefeld. Os seus estudos mostraram que muitos consideram discriminatórias as condições de vida no ocidente do país.
Embora quase todas as ruas e casas da antiga RDA tenham sido modernizadas e a infraestrutura hoje seja de ponta, os salários da região ainda se encontram cerca de 20% abaixo do nível do ocidente, e as reformas são 10% mais baixas.
Do ponto de vista dos pesquisadores económicos isso se deve, entre outros fatores, ao tipo de empresas existentes na Alemanha Oriental, que muitas vezes são fornecedoras para empresas no ocidente. Assim, são raras as centrais empresariais com postos altamente assalariados. Mesmo as centenas de biliões de euros empregados em subsídios não conseguiram mudar essa tendência. "A deceção é grande", afirma Andreas Zick.
Preconceitos do ocidente
Embora não usem mais a denominação "ossi" com tanta frequência, os alemães ocidentais ainda cultivam clichês em relação aos ex-cidadãos da RDA. Consideram-nos insatisfeitos, desconfiados e temerosos, de acordo com pesquisas dos principais institutos do país. Apenas 43% dos "wessis" associam os do leste com qualidades como "dispostos ao trabalho" ou "flexíveis".
A maioria dos ocidentais deseja o fim, o mais breve possível, do imposto extra, intitulado "de solidariedade" (Solidaritätszuschlag), introduzido para financiar a unificação nacional e reerguer as regiões pertencentes à extinta RDA.
No entanto, ao caracterizarem-se como eternos financiadores dos seus irmãos do leste, esquecem-se que estes também pagam a taxa de solidariedade. O facto, em si, demonstra que a unificação ainda não se completou nas cabeças dos alemães.
Questão de espaço e tempo
"Entre 'ossis' e 'wessis', são simplesmente muito poucas as amizades, não há tantos contactos e relacionamentos quanto seria de desejar", comenta o sociólogo Andreas Zick a propósito do abismo entre as duas visões de mundo.
O demógrafo Thomas Petersen ressalva, porém, que o facto não deve ser interpretado como desinteresse mútuo. "A Alemanha Ocidental é simplesmente 4 vezes maior do que o leste", e as distâncias são, em grande parte, a razão por que as pessoas não se encontram com mais frequência, a fim de se conhecer.
Mas, no fim de contas, tudo é também uma questão de tempo, afirma: "A parcela dos que veem mais diferenças do que semelhanças entre a Alemanha Oriental e Ocidental vem caindo continuamente nos últimos anos". Zick acrescenta: "A 2.ª e 3.ª gerações depois da unificação são muito mais otimistas e registam mais equivalência entre o leste e o ocidente".
Muitos jovens adultos de hoje nunca vivenciaram o Muro de Berlim e a divisão do país. Assim, ao contrário dos inquéritos realizados 10 ou 15 anos atrás, o tom agressivo praticamente sumiu das opiniões expressas.
Os pesquisadores também não se arriscam a predizer quando – ou se – as diferenças desaparecerão inteiramente das cabeças dos alemães. Mas ao menos num ponto a maioria dos "ossis" e "wessis" sempre estiveram de acordo: a reunificação do país, sob o signo da liberdade e da democracia, é um motivo de alegria.

2 comentários:

  1. quando será que baseado mais na realidade doque na fantasia teremos uma cultura de UE semelhante a dos EUA,mas sem armas e NSA claro.Ao ver as reticencias entre um alentejano e um transmontano fico com stress pre-traumatico, espero que não haja trauma nunca.

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    1. Parecidos com os americanos, não obrigado!
      Moral da história: se os alemães se distinguem entre eles, imagine-se entre os PIIGS...

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