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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Elogios, extrapolações e o fim de vãs esperanças…

Um 3.º mandato com uma quase maioria absoluta: a chanceler alemã sai das eleições de 22 de setembro mais forte do que nunca no seu país e no continente. Mas o que vai ela fazer com esse poder?, pergunta a imprensa europeia.
“Angela Merkel atordoa os seus rivais políticos”, escreve o Rzeczpospolita. No seu editorial, o diário polaco garante que, durante o terceiro mandato, “a mulher mais importante do mundo” vai mostrar como é que usa o extraordinário poder da Alemanha dentro da UE.
Este 3.º mandato é uma oportunidade para mostrar que a Alemanha é hegemónica em todos os domínios. Manter-se-á fiel à tradição pró-europeia dos chanceles precedentes ou aproximar-se-á perigosamente de uma visão mais radical fustigada nos cartazes nas ruas de Atenas, onde Merkel é representada com o bigode do Führer. [...] Cabe a Angela Merkel fazer reviver o sonho de atração da UE para as gerações futuras.
Angela Merkel é “triunfal”, mas conseguiu “uma vitória que a compromete”, defende Les Echos, em Paris. Depois de uma campanha “parca em pormenores”, o que vai fazer a chanceler?, pergunta o diário francês.
A resposta dependerá, em parte, da capacidade da chanceler em governar sozinha ou com os sociais-democratas. Sobre este assunto, o Eliseu, que há muito espera uma vitória dos adversários de Angela Merkel e depois uma coligação que a reforça, sofreu um revés. [...] No plano externo, Berlim não pode ater-se ao discurso tão vago e oco quanto generoso sobre a organização da Europa. É nestas condições que Angela Merkel entrará na lista dos chanceleres que marcaram a história.
“Merkel grande vencedora”, titula La Stampa. O diário de Turim escreve que o “plebiscito” obtido pelo partido da chanceler, tal como o bom desempenho do SPD – e o insucesso do partido AfD e o declínio dos Verdes – contrasta com a crise que atinge os partidos tradicionais no resto da Europa. E, no futuro,
não haverá viragem na estratégia política, económica e financeira da Alemanha. Os sociais-democratas têm falta de ideias alternativas e não as terão, contrariamente ao que [o candidato do SPD Peer] Steinbrück afirma. O principal resultado das eleições de ontem é que na Alemanha não há alternativa à política posta em prática nos últimos anos por Merkel. Os verdadeiros interlocutores, com autoridade, só podem vir da Europa.
Agora, titula El Periódico, Angela Merkel tem “a Europa a seus pés”. O diário de Barcelona escreve que a chanceler
é a sobrevivente da crise que fez cair Sarkozy, Zapatero, Sócrates, Monti e Berlusconi. [...] Para a Europa, uma coisa é clara. Agora, sem atos eleitorais no horizonte, vamos ver uma chanceler muito mais disposta a tomar decisões. A incógnita é sabermos quais e em que direção, mesmo que já tenha dito não às euro-obrigações e à mutualização da dívida. Ela quer liderar a Europa, fazer uma Europa alemã ou uma Alemanha europeia?
No entanto, apesar de o Financial Times escrever que “Merkel conseguiu ‘um super resultado’”, talvez não seja de esperar demasiado dela. O cronista Wolfgang Münchau defende que ter falhado a maioria absoluta por alguns votos é “o melhor resultado concebível para Angela Merkel”:
Vai continuar no poder – mas, no fundo, nunca houve dúvidas sobre isso. [Merkel] também conseguiu outro dos seus objetivos – tornar impossível a formação de uma coligação entre os 3 partidos de esquerda durante a próxima legislatura. Os alemães vão ter aquilo que querem: uma grande coligação chefiada por um líder sem visão. Só um tonto poderia acreditar que as eleições libertariam a chanceler para dar um salto em frente e resolver a crise de uma vez por todas. Depois das eleições, as coisas não serão muito diferentes daquilo que eram antes.
Mas apesar de tudo, como lembra o Volkskrant, o grande mérito de Angela Merkel é canalizar as tensões da Europa:
Merkel é a rolha da garrafa no que diz respeito às tensões e aos poderes populistas da Europa. Enquanto na Holanda a política perdeu a estabilidade, na Alemanha há Merkel, que respira calma. E é assim que ela ataca os problemas: etapa por etapa.
“Nestas eleições federais, o destino de Angela Merkel confunde-se com o do euro”, estima o Handelsblatt que interpreta o sucesso da chanceler como “uma recompensa pelo seu empenho permanente a favor do resgate da moeda única”.
O diário económico sublinha que a vitória da chanceler cessante demonstra a confiança dos alemães e a sua aceitação da política de austeridade imposta aos países do Sul, em crise.
Angela Merkel também pôs em surdina o debate sobre os riscos do resgate do euro, o que explica o sucesso dos eurocéticos da Alternativa pela Alemanha (4,7% dos votos) segundo o Handelsblatt.
Para o Bild não se trata apenas de uma vitória, é “um gigantesco triunfo para a chanceler”. Com quase 42%, a CDU/CSU conseguiu o seu melhor resultado desde 1990. Mas o FDP, o seu parceiro na coligação cessante, pela primeira vez desde a fundação da República Federal, em 1949, não estará representado no Parlamento.
Há um país que olha para o resultado das eleições alemãs com circunspeção: a Grécia. No seu sítio de Internet, o semanário To Vima escreve que
os alemães disseram um grande sim à soberania do seu país na Europa. Uma soberania erigida sobre as ruínas da parte Sul do que resta do Velho Continente “unido”. Era evidente e previsível: pela sua política, face à crise da dívida, Angela Merkel conseguiu levar uma grande parte da Europa à catástrofe, mas permitiu aos alemães fazerem da Europa um quintal. […] Em Atenas, uma vez mais, desmoronam-se as esperanças vãs.
Merkel já fez saber, claramente, e desde o primeiro instante, que a pressão sobre a Grécia não será aliviada.

2 comentários:

  1. façam greves todas as semanas que a coisa melhora.Mas não contem com a "mutter" que não papa grupos - cada um paga as suas.

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    1. António Cristóvão
      Se as greves não melhora, trabalhar é que não. Mais horas pelo mesmo dinheiro, salários mais baixos da Europa e salário mínimo abaixo do nível da pobreza...

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