Um 3.º mandato com uma quase maioria
absoluta: a chanceler alemã sai das eleições de 22 de setembro mais forte do
que nunca no seu país e no continente. Mas o que vai ela fazer com esse poder?,
pergunta a imprensa europeia.
“Angela
Merkel atordoa os seus rivais políticos”, escreve o Rzeczpospolita. No seu editorial,
o diário polaco garante que, durante o terceiro mandato, “a mulher mais importante do mundo” vai mostrar como é que usa o
extraordinário poder da Alemanha dentro da UE.
Este
3.º mandato é uma oportunidade para mostrar que a Alemanha é hegemónica em
todos os domínios. Manter-se-á fiel à tradição pró-europeia dos chanceles
precedentes ou aproximar-se-á perigosamente de uma visão mais radical fustigada
nos cartazes nas ruas de Atenas, onde Merkel é representada com o bigode do
Führer. [...] Cabe a Angela Merkel fazer reviver o sonho de atração da UE para
as gerações futuras.
Angela Merkel é “triunfal”, mas conseguiu “uma
vitória que a compromete”, defende Les Echos, em Paris. Depois de uma campanha
“parca em pormenores”, o que vai
fazer a chanceler?, pergunta o diário francês.
A
resposta dependerá, em parte, da capacidade da chanceler em governar sozinha ou
com os sociais-democratas. Sobre este assunto, o Eliseu, que há muito espera
uma vitória dos adversários de Angela Merkel e depois uma coligação que a
reforça, sofreu um revés. [...] No plano externo, Berlim não pode ater-se ao
discurso tão vago e oco quanto generoso sobre a organização da Europa. É nestas
condições que Angela Merkel entrará na lista dos chanceleres que marcaram a
história.
“Merkel
grande vencedora”, titula
La Stampa. O diário de Turim escreve que o “plebiscito” obtido pelo partido da
chanceler, tal como o bom desempenho do SPD – e o insucesso do partido AfD e o
declínio dos Verdes – contrasta com a crise que atinge os partidos tradicionais
no resto da Europa. E, no futuro,
não
haverá viragem na estratégia política, económica e financeira da Alemanha. Os
sociais-democratas têm falta de ideias alternativas e não as terão,
contrariamente ao que [o candidato do SPD Peer] Steinbrück afirma. O principal
resultado das eleições de ontem é que na Alemanha não há alternativa à política
posta em prática nos últimos anos por Merkel. Os verdadeiros interlocutores,
com autoridade, só podem vir da Europa.
Agora, titula El Periódico, Angela Merkel tem “a Europa a seus pés”. O diário de
Barcelona escreve que a chanceler
é
a sobrevivente da crise que fez cair Sarkozy, Zapatero, Sócrates, Monti e
Berlusconi. [...] Para a Europa, uma coisa é clara. Agora, sem atos eleitorais
no horizonte, vamos ver uma chanceler muito mais disposta a tomar decisões. A
incógnita é sabermos quais e em que direção, mesmo que já tenha dito não às
euro-obrigações e à mutualização da dívida. Ela quer liderar a Europa, fazer
uma Europa alemã ou uma Alemanha europeia?
No entanto, apesar de o Financial
Times escrever que “Merkel conseguiu ‘um
super resultado’”, talvez não seja de esperar demasiado dela. O cronista
Wolfgang Münchau defende que ter falhado a maioria absoluta por alguns votos é “o melhor resultado concebível para Angela
Merkel”:
Vai
continuar no poder – mas, no fundo, nunca houve dúvidas sobre isso. [Merkel]
também conseguiu outro dos seus objetivos – tornar impossível a formação de uma
coligação entre os 3 partidos de esquerda durante a próxima legislatura. Os
alemães vão ter aquilo que querem: uma grande coligação chefiada por um líder
sem visão. Só um tonto poderia acreditar que as eleições libertariam a
chanceler para dar um salto em frente e resolver a crise de uma vez por todas.
Depois das eleições, as coisas não serão muito diferentes daquilo que eram
antes.
Mas apesar de tudo, como lembra o Volkskrant, o grande mérito de Angela
Merkel é canalizar as tensões da Europa:
Merkel
é a rolha da garrafa no que diz respeito às tensões e aos poderes populistas da
Europa. Enquanto na Holanda a política perdeu a estabilidade, na Alemanha há
Merkel, que respira calma. E é assim que ela ataca os problemas: etapa por
etapa.
“Nestas
eleições federais, o destino de Angela Merkel confunde-se com o do euro”, estima o Handelsblatt que interpreta o sucesso da chanceler como “uma recompensa pelo seu empenho permanente
a favor do resgate da moeda única”.
O diário económico sublinha que a
vitória da chanceler cessante demonstra a confiança dos alemães e a sua
aceitação da política de austeridade imposta aos países do Sul, em crise.
Angela Merkel também pôs em surdina o
debate sobre os riscos do resgate do euro, o que explica o sucesso dos
eurocéticos da Alternativa pela Alemanha (4,7% dos votos) segundo o Handelsblatt.
Para o Bild não se trata apenas de uma vitória, é “um gigantesco triunfo para a chanceler”.
Com quase 42%, a CDU/CSU conseguiu o seu melhor resultado desde 1990. Mas o
FDP, o seu parceiro na coligação cessante, pela primeira vez desde a fundação
da República Federal, em 1949, não estará representado no Parlamento.
Há um país que olha para o resultado
das eleições alemãs com circunspeção: a Grécia. No seu sítio de Internet, o
semanário To Vima escreve que
os
alemães disseram um grande sim à soberania do seu país na Europa. Uma soberania
erigida sobre as ruínas da parte Sul do que resta do Velho Continente “unido”. Era evidente e previsível: pela
sua política, face à crise da dívida, Angela Merkel conseguiu levar uma grande
parte da Europa à catástrofe, mas permitiu aos alemães fazerem da Europa um
quintal. […] Em Atenas, uma vez mais, desmoronam-se as esperanças vãs.
Merkel já fez saber, claramente, e
desde o primeiro instante, que a pressão sobre a Grécia não será aliviada.
façam greves todas as semanas que a coisa melhora.Mas não contem com a "mutter" que não papa grupos - cada um paga as suas.
ResponderEliminarAntónio Cristóvão
EliminarSe as greves não melhora, trabalhar é que não. Mais horas pelo mesmo dinheiro, salários mais baixos da Europa e salário mínimo abaixo do nível da pobreza...