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sábado, 13 de julho de 2013

As vozes dos mentores dos nossos contratempos…

Pelas salas e auditórios da Católica-Lisbon desfilaram por estes dias 500 mais destacados economistas a nível global em diversas áreas, durante o 14º encontro internacional da APET (Association for Public Economic Theory).
O ambiente é completamente formal e fato, gravata ou tailleurs nem vê-los: entre estes destacados peritos, discípulos de Keynes ou Hayek, as combinações ténis-calças de ganga ou chinelos-calções dominam a indumentária, numa altura de muito calor em Lisboa.
“Só os melhores dos melhores estão presentes aqui”, explica Leonor Modesto, professora da Católica-Lisbon e responsável pela organização da APET. “Temos participantes de todo o mundo aqui presentes. Esta é a maior edição de sempre. Contamos com o maior número de participantes”, afirma.
Entrar numa das 15 salas onde decorrem em paralelo as várias apresentações dos trabalhos destes académicos é entrar numa galáxia diferente e ouvir dissertar sobre seguros de saúde na China rural, a competição no mercado de creches, ou a influência dos custos de transporte na economia rural dos países em desenvolvimento.
Nos corredores, os temas são bem mais mundanos, e a crise da zona euro, e em Portugal, é o grande tópico de discussão.
Uma das questões que mais inquieta alguns destes economistas é se a união monetária vai continuar a existir no médio prazo. “É uma questão política. É um compromisso político manter a zona euro tal como ela está. Se não houver um forte compromisso por parte dos alemães ou do Banco Central Europeu, as coisas poderão correr muito mal”, explicou Martin Zagler, professor da Universidade de Viena, Áustria.
“Penso que ainda vai existir e penso que nenhum dos países vai sair da zona euro. Porque existe muita incerteza sobre os custos de saída e isso vai prevenir os governos de darem este passo”, considera Michael Neugart, da Universidade de Darmstat, na Alemanha.
Michele Giurano da Universidade de Salento, Itália, também se mostra otimista sobre a perspetiva europeia: “Temos uma grande crise e não podemos prever o fim dela, mas penso que o rumo desta crise deverá mudar em breve, no final deste ano ou no início do próximo”.
Sobre a dicotomia entre austeridade e crescimento, os economistas dividem-se sobre a sua eficiência. “É um ciclo vicioso e tem o potencial de ciclo vicioso. E por isso penso que é necessário ter uma política equilibrada para corrigir os défices orçamentais. Matar o crescimento ao introduzir mais austeridade seria bastante contra produtivo”, disse Michael Neugart.
“Devemos mudar as políticas económicas dentro da União Europeia, porque cortar orçamentos públicos sem apostar no crescimento económico não vai funcionar, e não tem estado a funcionar”, considera Michele Giurano. “Precisamos de mudar isso, temos de esperar para ver o que acontece na Alemanha depois das eleições. Existe muita austeridade. Precisamos de olhar para a austeridade no médio, longo prazo e não no curto prazo”, defende o italiano.
As eurobonds, a mutualização conjunta da dívida soberana dos países da zona euro, é uma das soluções apontadas pelos académicos. “Sou um grande fã dessa ideia. Havia essa ideia de todos os países terem até 60% do seu PIB em obrigações públicas de dívida europeia. Sempre que o valor ultrapassasse isso, financiava-se localmente. Baixas taxas de juro para os primeiros 60%, um incentivo adicional para reduzir para os 60% e teria taxas maiores para tudo o que fosse superior”, explica Martin Zagler.
“Os alemães deviam dar luz verde às eurobonds”, considera Michele Giurano. “Pode ser uma boa solução para resolver o problema do spread entre a Alemanha e os outros países. Não há razão para termos um spread tão grande.”, diz o professor da Universidade de Salento.
A reestruturação da dívida tem sido apontada por alguns economistas, como o ex-economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff, como uma solução para Portugal. Uns dos casos mais célebres é o da Argentina na viragem do século, mas os economistas alertam para o risco de adotar esta opção. “Talvez não deva ser a primeira opção, porque esta reestruturação impõem um grande fardo nas economias da maneira que torna-se mais dispendioso”, defende Michael Neugart.
“Vai ser uma política perigosa, no longo prazo pode até funcionar, mas no curto prazo vai ser terrível, vai ser muito mau para a zona euro, o euro poderá cair muito”, alerta Michele Giurano, recordando o caso da Argentina: “Eu estive na Argentina depois disto e posso dizer-lhe que foi realmente muito mau. Agora estão a recuperar mas durante 10 anos foi muito mau. É uma política perigosa”.
“Podemos entrar em default sobre toda ou parte da dívida, porque é uma dívida soberana, e podemos fazer o que queremos, o grande problema é que esta dívida pública representa ativos do outro lado e habitualmente são ativos do sistema bancário doméstico. Ao entrar em default sobre toda ou parte da dívida, vamos levar imediatamente todos os bancos à falência. O que é um problema dramático”, explica Martin Zagler.
O professor austríaco estabelece a devida diferença entre o “corralito” argentino e a situação na Europa: “No caso da Argentina, grande parte da sua dívida pertencia aos Estados Unidos. Na Europa, temos o caso de grande parte da dívida ser detida pelos próprios cidadãos ou pelos bancos internos, se perdoarmos a dívida, vai fazer com que os cidadãos tenham menos riqueza, leva a uma redução ainda maior do consumo, os bancos vão à falência porque a folha de balanços dos bancos vão ter só perdas, os bancos vão ter um valor negativo, assim vai haver muitos problemas. Entrar em default em parte da dívida significa que no dia a seguir, os mercados internacionais de capitais não vão emprestar um único euro".
Estranha-se que Vítor Gaspar não seja nomeado entre os 500 melhores economistas mundiais e mais ainda Passos Coelho, que bem precisava de umas aulas de recuperação para ficar a pensar se realmente consegue recuperar o que estragou ou deixou estragar…
Se é um facto, que cada dia vamos confirmando, o que dizia Bernard  Shaw: “Se todos os economistas fossem postos lado a lado, nunca chegariam a uma conclusão” , constatamos também neste fórum (apenas com 500), que há fundamento, apesar de algumas convergências. E curiosamente as convergências dizem respeito às dúvidas sobre a continuidade do Euro, às políticas erradas impostas, ao pouco tempo, à austeridade sem crescimento, às consequências negativas para as economias, ao longo tempo de “recuperação” e também à dependência das eleições alemãs, que é o mesmo que dizer, que temos que entrar no jogo da Alemanha, que domina o esquema.
Entretanto, vai-se confirmando que estas demoras e “incertezas” funcionam para os credores irem sacando o máximo para “perderem” o mínimo. Depois de recuperado o “investimento” especulativo, cada um que se amanhe!
Destaca-se também, que afinal a saída de qualquer membro da Zona euro não acontece, também, porque os custos dessa saída são uma incerteza, ou seja, ninguém sabe, a não ser os (nossos) papões, que do alto da sua ignorância, assustam os cidadãos incautos, com valores de desvalorização incalculáveis (por isso todos diferentes), o que para economistas tão competentes não os abona em nada e dão a entender que trabalho nunca lhes faltará…
A última leitura que faço e registo, é que o nosso Primeiro, que se imola pela austeridade e nos mata com ela, é cada vez mais o único (economista) que não tirou conclusões empíricas de tal modelo, mesmo sabendo das aldrabices e “erros”, que dos diagnósticos, quer da receita (sem confirmação laboratorial), sem sequer dar conta de que está sozinho no meio deste deserto de ideias, embora acompanhado na ideologia…
Se é verdade, o que dizia Edmund Burke, que: “A economia é uma virtude distributiva e consiste, não em poupar, mas em escolher.”, há opções a tomar, não para confiscar, mas para distribuir, exatamente o contrário do que (nos) estão a fazer, talvez por não se tratar de economia…
Como costumo dizer, os economistas são os únicos profissionais que não sabem fazer aquilo para que se prepararam, sem nunca serem avaliados negativamente nem responsabilizados, porque como dizia o economista John Galbraith:  “A economia é extremamente útil como forma de emprego para os economistas.”
Pelo menos não aumentam as taxas de desemprego (na classe)!

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