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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Para a certificação do “Princípio de Peter”…

1. Passados 2 anos, a maioria dos comentários sobre a acção do Governo, escritos e falados, são panfletários ou muito próximos disso. A razão é simples: é extremamente difícil encontrar racionalidade na incompetência.
Pedro Marques Lopes
Há quem tenha uma espécie de fé no Governo e jure que tem uma lógica qualquer. Esta lógica não estará ao alcance do entendimento do comum dos mortais. São raras, mas ainda se consegue ler e ouvir pessoas que pensam existir uma espécie de pensamento ideológico e uma linha de actuação definida no Governo. É difícil, mas essas pessoas encontram um racional para decisões como, por exemplo, a de não pagar o subsídio de férias a uma parte dos funcionários públicos em Junho havendo dinheiro e não existindo intenção de passar, no futuro, o pagamento dessa parte do salário para outro mês. Ou que o Governo não dê uma justificação às pessoas que tinham a sua vida planeada ou que nem se preocupe em explicar muito bem explicadinho, como é próprio de uma democracia, porque se mudam as regras a meio do jogo.
Ainda há mesmo quem consiga explicar por que diabo o Governo se esqueceu de legislar a tempo e horas e obrigou Cavaco Silva a uma promulgação que faz que o Presidente da República pareça uma espécie de pau-mandado ou um mero corta-fitas de legislação (o que Cavaco Silva faz para salvar o Governo de um terrível vexame. Não há melhor ministro).
Talvez tenha existido uma linha ideológica, um pensamento, um plano neste Governo. Talvez. Se existia nunca chegou a ser conhecido e se chegou a existir já morreu. Nem o liberalismo de contracapa chegou a revelar-se inteiramente. O que havia era o memorando e as suas várias correcções e adendas. Mesmo esse, que foi a única aproximação a um plano que nos foi dado a conhecer, já se desvaneceu como linha orientadora do Governo.
Porque há uma assinatura que percorre toda a acção governamental: incompetência com muita ignorância à mistura.
Os responsáveis governamentais não queriam acabar com a classe média como estão quase a conseguir; não queriam, obviamente, criar estes níveis de desemprego; não queriam obrigar tanta gente a emigrar; não queriam que a dívida se tornasse impagável; não queriam destruir a economia portuguesa por muitos anos. Sem ponta de ironia, claro que não. Enganaram-se. Foram tão-só incompetentes. E não há nada pior do que um incompetente bem-intencionado.
Nem vale a pena lembrar "assuntos menores" como a TSU, dossier RTP, reforma autárquica, confusões na Concertação Social, os patéticos pacotes de apoio ao crescimento. A lista de disparates, de negligência grosseira, de erros infantis, não tem fim.
Aliás, este súbito ódio à troika, ao FMI (é penoso lembrar os elogios que foram feitos a esta instituição e os pedidos lancinantes para que viesse para Portugal) e às receitas aplicadas mostra bem quão mal estes senhores estavam preparados para governar: só perceberam que o plano não estava a resultar quando toda a gente há muito tinha percebido, só entenderam que o programa ia fazer piorar o país quando já este estava de pantanas. É penoso lembrar as palavras de Passos Coelho e do inefável Catroga sobre a genialidade da negociação que tinha tornado o plano um programa genial que ia revolucionar Portugal.
Não sobrou quase nada. Não há discurso, não há uma linha de rumo, não há um plano. Há apenas uma vontade de sobreviver ao próximo disparate, ao próximo descalabro orçamental, aos próximos números do desemprego, aos próximos boletins meteorológicos, aos próximos humores de Gaspar, aos próximos arrufos de Portas e a muita, muita incompetência e ignorância sobre o país. 2 anos, apenas em 2 anos.
2. Esta semana Paulo Portas explicou-nos que o que correu bem no Governo foi por causa dele e o que correu mal teria corrido muito pior se não fosse ele. Isto foi-nos explicado durante a apresentação de um programa de governo que será, pelo exposto, radicalmente diferente daquele em que ele é ministro. Diz que é o plano pós-troika. Só faltou mesmo mandar um abraço lá para casa a António José Seguro.

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