CDU/CSU, à frente nas sondagens, discute investir em autoestradas e mais benefícios fiscais no programa eleitoral.
Melhorias nas autoestradas, limites ao aumento das rendas, mais benefícios fiscais para famílias com filhos, mais pensões para as mães que não trabalham para cuidar dos filhos - o partido da chanceler alemã Angela Merkel, União Democrata Cristã (CDU), e o seu partido-gémeo da Baviera, União Social Cristã (CSU), estiveram no domingo reunidos a votar um rascunho de 125 páginas de programa eleitoral para a votação de 22 de Setembro.
São promessas que custariam milhões de euros (só para as autoestradas estão previstos 25.000 milhões de euros em 4 anos), e já foram criticadas pelos seus próprios parceiros de coligação, os liberais, que acusam Merkel de sucumbir ao "doce veneno de gastar" mesmo quando para fora defende a austeridade.
No programa eleitoral, que só vai ser apresentado hoje, estava ainda a rejeição da proposta de salário mínimo nacional feita pela oposição social-democrata, defendendo a continuação do sistema de negociação por sector.
Sublinhando o seu apoio a "um euro forte e à estabilidade dos preços", a CDU/CSU reitera a rejeição da mutualização da dívida nos 17 membros da zona euro.
Este guião eleitoral de Merkel, talvez inspirado no alcobacense de Portas (há sempre fugas), tem 2 questões básicas que convém destacar, por serem 2 paradoxos, que o marketing eleitoral aconselha (desde que se aceite a falta de ética política), que em linguagem de café se devem chamar, uma, de VIGARICE e a outra de IMORALIDADE.
A VIGARICE está no embrulho do pacote de promessas, que ao que dizem contém várias propostas plagiadas do partido Social-Democrata alemão, dando-lhe assim um certo tom de esquerda, desvalorizando as potenciais alternativas e reduzindo as hipóteses de uma alternância, de políticos e de políticas…
A IMORALIDADE está no impressionante contraste entre a poção austeritária e recessiva que Merkel impõe aos Estados-membros da Eurozona em “crise” e as promessas pródigas que o seu partido apresenta, keynesianas (imagine-se) e de reforço do Estado (Social)...
Para ELES, investimento público nas autoestradas, para NÓS nem um cêntimo para Educação e Saúde;
Para ELES, limites ao aumento dos alugueres, para NÓS aumento dos arrendamentos;
Para ELES, menos impostos para as famílias com filhos, para NÓS mais impostos para todos;
Para ELES, mais pensões para as mães que não trabalham para cuidar dos filhos, para NÓS cortes nos subsídios sociais para as mães e pais desempregados, que perdem o emprego e não podem dar o sustento aos seus filhos;Para ELES, mais um aumento dos abonos de família, para NÓS redução até à eliminação dos mesmos abonos;
Para ELES, não haverá subida de impostos, para NÓS nem Gaspar prevê os limites;
Para ELES, não haverá salário mínimo nacional, mantendo a negociação por setor, para NÓS, nem 50 cêntimos por dia a mais;
Para ELES, apoio às PME, às empresas pequenas e familiares, mas também às grandes empresas, para conseguirem mais receita fiscal, para NÓS desmotivar as PME, as empresas pequenas e familiares, reduzindo a arrecadação de impostos, aumentando o desemprego e reduzindo salários;
Para ELES, estas medidas de crescimento e de apoios sociais não trazem mais encargos para os cidadãos nem para a economia do país, para NÓS dificulta a execução orçamental e dificulta a “recuperação”…
Finalmente, do fundo do subconsciente pessoal e coletivo, insiste que quer um euro forte (dá-lhes tanto jeito!) defende a estabilidade dos preços (dá-lhes tanto jeito!) mas rejeita a mutualização da dívida nos 17 membros da zona euro, que não lhes dá jeito nenhum….
Isto não é hipocrisia, é mesmo prepotência e “nacionalismo-social”…
Outra opinião:
A 3 meses das eleições, nada é certo para Merkel. A CDU-CSU tem 40% de intenções de voto e os aliados do FDP têm 6%, o mínimo requerido para entrarem no Bundestag, a câmara baixa do parlamento.
A oposição – SPD, Verdes e Die Linke – totaliza 45%, mas é improvável que o Die Linke queira entrar numa coligação de governo.
A euronews fez um ponto da situação com René Pfister, da revista DER SPIEGEL.
euronews: Considera que as críticas ao programa de Merkel são justificadas?
René Pfister: Sim, totalmente justificadas. O maior problema deste programa eleitoral é prometer coisas que não há maneira de pagar. É no interesse da CDU colocar o foco nos protagonistas políticos. A chanceler Angela Merkel é o centro destas eleições, não este ou aquele ponto do programa. Aliás, o programa foi elaborado de forma a que o SPD não o possa atacar. Todas as questões, como o salário mínimo ou as quotas para as mulheres, são abordadas. Ou seja, o SPD não se pode queixar, porque a CDU também se preocupa com estes pontos. Mas há aqui uma perversão: o objetivo deste programa eleitoral é não dar espaço aos ataques do SPD.
euronews: A credibilidade de Angela Merkel não fica em causa, quando impõe programas de austeridade na Grécia e faz promessas milionárias no seu próprio país?
RP: Sim, de facto perde a credibilidade toda. Angela Merkel fala imenso nas reformas. Mas se atentarmos nos resultados que tem tido na Alemanha, estes tiveram origem no governo anterior – as mudanças foram iniciadas por Gerhard Schröder. E fizeram o SPD perder muitos votos. Merkel salienta, por exemplo, a redução da idade de reforma para os 67 anos. Essa foi uma alteração implementada por Franz Müntefering, do SPD, não pela CDU.
euronews: Pode Peer Steinbrück encurtar a distância que o separa de Merkel nas sondagens?
RP: Vai ser muito difícil para os sociais-democratas saírem do buraco negro. Acho que acabaram por tropeçar nesta campanha. Durante muito tempo, ninguém sabia quem era o candidato deles. Depois foram forçados a nomear Peer Steinbrück, quando Frank-Walter Steinmeier recusou avançar. Após este início conturbado, os erros começaram a suceder-se. Steinbrück defende reformas económicas, mas ao mesmo tempo os sociais-democratas estão politicamente cada vez mais próximos da esquerda. O que significa que o candidato não encaixa no partido. Mas continuam a tentar, o que é muito aborrecido. Para além disso, Steinbrück tem cometido erros enormes. Durante meses, não teve consciência do que significa ser candidato à chancelaria, com toda a exposição mediática que isso acarreta.
euronews: Os Verdes vão ser prejudicados por propor o aumento de impostos?
RP: Acho que é a esquerda em geral que vai sair prejudicada. As pessoas que votam nos Verdes costumam ter um espírito de partilha com a comunidade. Mas, de repente, a questão central do debate eleitoral é se os impostos vão ou não subir. E a CDU ainda acentua mais essa questão. Tornou-se na grande diferença que opõe o SPD e a CDU. Se a questão determinante estiver na carteira das pessoas, então será muito difícil para o campo da esquerda vencer estas eleições.
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