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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Marcos e marcas de desumanidades…

Rosas brancas e cravos vermelhos emolduram duas brilhantes placas de latão no pavimento diante da casa da Thomasiusstrasse 23, em Leipzig. Ao lado, ardem 4 velas. Uma jovem mãe para, troca algumas palavras com a sua filhinha, aponta para as placas afixadas há pouco no chão. Em seguida, prosseguem lentamente.
Só se pode imaginar o que a mãe disse à criança. Possivelmente ouviram-se palavras tristes, como Holocausto, deportação, campo de concentração, assassinato covarde. Mas talvez a mãe tenha apenas dito que a menina ainda é muito nova para estas coisas, e tenha simplesmente lido em voz alta os dizeres sobre as duas pedras:
Aqui moraram Leopold e Malka Rabinowitsch, fuga em 1939 para a Letónia, Riga, deportados e assassinados em 1941.
Uma hora antes, apesar do frio e do nevoeiro desse dia de novembro, um grupo de pessoas esperava diante da mesma casa pelo artista alemão Gunter Demnig. De chapéu, colete de trabalho e lenço vermelho no pescoço, pontualmente às 10h ele desce de sua carrinha, abre caminho até a porta da casa e, sem hesitação, começa a cavar um buraco na calçada, com uma pequena picareta.
Anos atrás, o artista de Colónia já colocara nessa calçada uma Stolperstein ("obstáculo", literalmente: "pedra de tropeçar") para um antigo morador. Agora ele cimenta mais 2 para o casal Rabinowitsch. A operação dura pouco mais de 10 minutos. Um curto momento de silêncio, uma discreta reverência, e Demnig recoloca as suas ferramentas no veículo.
O projeto Stolpersteine é ideia dele. Só esta manhã, fixou 13 pedras na cidade saxónia de Leipzig, e ainda faltam mais 8. Ao longo de 20 anos, Demnig já fixou mais de 35.000 placas de latão em 750 cidades e lugarejos. Não apenas na Alemanha, mas também na Polônia, na Áustria, na Ucrânia, na Hungria e em mais meia dúzia de países europeus, todos lugares onde a Alemanha nazi semeou morte e destruição, prendendo e deportando.
O artista de 65 anos colocou a sua 1ª pedra em dezembro de 1992, movido pelo "mal-estar quanto a esses memoriais grandiosos, onde uma vez por ano se joga uma coroa de flores", como ele próprio descreve. Geralmente a homenagem não vai mais longe, e além disso tais locais costumam ficar fora das cidades.
Já as suas pedras da memória estão a olhos vistos, diretamente na porta de entrada das antigas residências daqueles que não sobreviveram ao nazismo. Elas relembram sobretudo vítimas judaicas, mas também já foram colocadas algumas para integrantes de etnias ciganas.
É quase impossível passar sem as ver. "O horror começou no local onde essas pessoas foram detidas", diz Demnig. O Holocausto, o extermínio dos judeus, começou no meio das comunidades, onde vizinhos desapareciam para nunca mais voltar. Hoje em dia é difícil acreditar que quase ninguém notasse esses acontecimentos.
Desde o início da ofensiva israelita na quarta-feira da semana passada, em resposta aos disparos de foguetes palestinianos, morreram 90 pessoas: 87 palestinos e três israelenses.
O domingo foi o dia mais violento, com 31 mortes, na sua maioria mulheres e crianças. De acordo com os últimos números divulgados pelo porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas, 50% dos mortos e 70% dos feridos desde quarta-feira passada são civis.
Penso que tenho a sensibilidade necessária e suficiente para me solidarizar com todas as vítimas do holocausto, pela simples razão de pessoas de etnias, religiões e culturas próprias terem sido chacinadas em massa, por governantes de um país e o silêncio dos cidadãos do mesmo, que os consideravam apenas(?) diferentes …
A mesma sensibilidade leva-me a reagir a todas as chacinas que envolvam pessoas (governantes) contra pessoas (civis), pelas mesmas razões do passado e mais algumas que não vou esmiuçar (um dia destes fá-lo-ei)…
E é por isso que dou publicidade a este projeto “Stolpersteine”, para que a memória do horror não caia em saco roto e faça tocar a rebate o sino em todas as consciências, inclusive as dos judeus e a do artista Gunter Demnig…
Tenho pena de não ter a inteligência bastante para poder destrinçar entre a chacina dos judeus pelos alemães e as várias chacinas que os mesmos judeus ao longo dos anos tem infligido aos palestinianos e outros povos. Tenho pena, mas a inteligência emocional ainda mais me impede de compreender quem diferencia as pessoas no sofrimento e na morte…
Não sei se o artista, que quer marcar as casas das vítimas judaicas, terá o mesmo gesto para marcar as casas das vítimas palestinianas, se estas ficarem de pé, mas a haver sinceridade e pureza de intenções, deve começar já…
Apesar de todas as diferenças das razões que estão na base destas desumanidades, há uma semelhança que percorre a História e todas as histórias (menos as infantis), que é a dos mais fortes darem sempre porrada nos mais fracos, com mais instrumentos e maiores, que fazem mais estragos, embora a História também prove, que os fortes um dia serão fracos…
Mas irritante mesmo, é os media e a comunidade internacional tratarem-nos como ignorantes e desinformados, justificando o injustificável…
Inquietante, é Obama ter tomado, neste conflito, as mesmas opções que Bush no passado ou que tomaria Romney (que prometeu e perdeu) se… apesar das diferenças concetuais da vida, da política, da História e das perseguições…
Anda tudo do avesso ou gaseado!
Entretanto Toni Blair deve andar nos copos…

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