O “Desafio Miqueias” define-se como “uma comunidade global de cristãos que pretende que os governos cumpram as promessas públicas de reduzir para metade a pobreza extrema até 2015”.
Confiantes de que são capazes de estabelecer um movimento global para “encorajar os cristãos a assumir um compromisso sério a favor das comunidades pobres e socialmente excluídas”, os seus líderes desejam garantir “que os governos cumpram as promessas públicas de reduzir para metade a pobreza extrema”.
A inspiração do nome vem da Bíblia, do texto de Miqueias 6:8 “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e o que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus?”
Não é uma iniciativa nova, pois foi lançado na sede das Nações Unidas em 14 de outubro de 2004. O objetivo era trabalhar em paralelo com os “Objetivos do Milénio” proposto pelas Nações Unidas. O seu diferencial é incluir a oração como uma das suas principais “armas”. Por isso lançaram o Chamado Global de Ação Contra a Pobreza, que deseja promover campanhas contra a pobreza em pelo menos 40 países.
Para ajudar os cristãos a não perder esse objetivo, o “Desafio Miqueias”, em parceria com a Missão Christian Aid, produziu recentemente um novo DVD intitulado “A Agenda de Jesus”.
Esta nova produção é um curso com novas lições semanais que pretende oferecer base bíblica à defesa da fé através do empenhamento social. Usando a estrutura de Lucas 4:18-19, “A Agenda de Jesus”, destaca o aumento repentino do evangelho da prosperidade, a sua relação com o materialismo e o consumismo e o que as Escrituras dizem sobre os pobres e os desfavorecidos.
O Diretor Internacional do Desafio, pastor Joel Edwards, explica que “‘A Agenda de Jesus’ visa sensibilizar os seguidores de Jesus para que busquem, de facto, justiça para os oprimidos”.
Ian Hamilton, CEO da Missão Compassion UK afirmou “Apoiamos sem reservas este projeto e acreditamos que ele seja uma ferramenta importante para lembrar o povo de Deus sobre o mandato de Cristo para estabelecermos verdade e justiça, além da nossa responsabilidade para com os pobres e marginalizados da sociedade global”.
Para entender melhor o “Desafio Miqueias” é preciso lembrar que, em 2000, 189 países assinaram uma declaração para reduzir para metade a pobreza até 2015. Além dessa promessa, esses países também se comprometeram a apoiar coletivamente os chamados “Objetivos de Desenvolvimento do Milénio”, que são:
1) Acabar com a fome e a miséria
2) Educação básica de qualidade para todos
3) Igualdade entre sexos e valorização da mulher
4) Reduzir a mortalidade infantil
5) Melhorar a saúde das gestantes
6) Combater a SIDA, a malária e outras doenças
7) Qualidade de vida e respeito pelo meio ambiente
8) Todo o mundo a trabalhar pelo desenvolvimento
Com estes objetivos em mente, a luta pelos pobres e desprivilegiados podem-se concentrar no propósito de promover a mudança social através da igreja, ao mesmo tempo, que leva a mensagem de Jesus para todos os que ainda não ouviram algo sobre ele.
Mesmo para quem não está virado para a espiritualidade, incluindo as religiões, o silêncio prolongado destas sobre a realidade social e económica que se vive hoje, que afeta negativamente a grande maioria dos homens e mulheres, parece incompreensível e inaceitável…
E porque me chegou a notícia com a informação deste grupo (cristão), que diz lutar (rezar não sei se chega) para que se cumpra a promessa dos Objetivos do Milénio, não poderia deixar de lhe dar voz e publicitar a mensagem, embora esteja descontextualizada da informação da ONU de que em 2015 os ODM não serão atingidos e tenha sido dilatada a sua meta temporal, com uma nova comissão para a “Agenda Desenvolvimento Pós-2015”.
Mas o mais gritante, é que em muitos dos países, incluindo o nosso, haja governantes cristãos, que se marimbam, simplesmente, nos preceitos religiosos a que aderiram e que os vão traindo no dia a dia das práticas dos governos de que fazem parte, porque nenhum homem é feito de bocados. Razão tinha Gandhi quando dizia: “Gosto do seu Cristo, mas não gosto dos seus cristãos. Eles são bem diferentes do seu Cristo”…
Por acaso e sem qualquer ligação (penso), mais uma vez individualmente, vem um dignatário da Igreja católica emprestar a sua voz à luta contra a pobreza em Portugal, com medidas concretas, que nos podem dar a esperança de se multiplicarem os indignados para reforço de uma contracorrente, que denuncie o que não deve nem pode ser feito, não (só) em nome de Deus, mas em nome dos Homens…
A palavra ao senhor…
A crise que se vive em Portugal não só acentuou a pobreza, como está a arrastar para a insolvência muitas pessoas ditas remediadas ou até da classe média. Em grande parte porque mecanismos perversos estão a aproveitar-se da situação para esmagar famílias e empresas. É o oportunismo diabólico do ‘capitalismo de casino’: esperar pelo seu momento de sorte para ‘limpar’ tudo.
Nesta situação, o Estado tem de intervir na economia, em favor dos mais débeis, sob pena de muitas mais pessoas caírem na pobreza e de empresas entrarem em falência, com o consequente aumento do desemprego. De entre as medidas possíveis, de natureza excepcional e temporária, ressalto as seguintes propostas, assentes naquela racionalidade ética que recusa ser espectadora passiva dos dramas que se desenrolam no grande palco do mundo.
1. Moratória, durante o tempo que demorar o programa de assistência financeira, nos juros aos bancos e nos impostos às Finanças, relativos à aquisição de casa própria, já efectuada, nas situações em que, comprovadamente, se não possam pagar.
2. Correcção dos mecanismos pérfidos dos prazos de pagamento das facturas, que não deveria exceder os 30 dias. O Estado tem de saldar imediatamente as suas dívidas, pois isso injecta imenso dinheiro na economia. Há que obrigar as empresas a fazer o mesmo, ainda que com empréstimo do Banco de Portugal, sem juros ou com juros muito baixos, mediante hipoteca de alguns bens.
3. Criação de mecanismos legais relativos à função social da empresa. Por exemplo, há que evitar a todo o custo a fraude da mudança de designação social da empresa, tendo antes o cuidado de pôr os bens pessoais em nome de outrem.
4. Aumento das pensões mais baixas para valores aproximados ao actual salário mínimo, mediante a imposição de um tecto temporário a todas as reformas ditas douradas e indexação de todos os salários e prémios dos gestores das empresas participadas pelo Estado aos dos ministros, revertendo o superavit para o fundo de estabilização da Segurança Social.
5. Abaixamento dos preços da energia, pois é uma imoralidade e um escândalo que empresas fechem por impossibilidade de suportar os seus custos, quando as fornecedoras e distribuidoras obtém lucros de milhares de milhões.
Manuel Linda, Bispo Auxiliar de Braga
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