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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Em vez de um “Super Mário”, MAIS UM “Zé Manel”!

O BCE vai provavelmente intervir, mas os Estados têm primeiro de pedir ajuda. A mensagem enunciada pelo presidente do Banco Central Europeu provoca reações acaloradas na imprensa europeia, que se questiona sobre o poder real de Draghi.
“Draghi verga-se” à vontade alemã, protesta o ABC. O presidente do Banco Central Europeu condicionou qualquer intervenção do BCE nos mercados financeiros da dívida a um pedido de ajuda de Espanha e Itália ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. E em consonância com a vontade do governo e do banco central alemão, esse apoio deve incluir uma política de rigor sob supervisão europeia. Para o diário conservador, Mario Draghi é "o reflexo de uma UE impotente".
O jogo de cartas que o BCE parece estar a fazer, sob a orientação de parceiros comunitários do Norte da Europa, é completamente inaceitável, num momento crítico como o atual. […] Para que o euro seja realmente “irreversível”, deve apoiar-se em instituições sólidas e credíveis, com uma direção clara e inequívoca, qualidades que o BCE não tem demonstrado durante a presente crise.
Por sua vez, o diário El País acha que "o BCE está a empurrar a Espanha para outro pedido de apoio". O jornal de centro-esquerda considera que Mario Draghi tem agora "todos os poderes":
Draghi utilizou a expectativa gerada [pelas suas declarações da semana passada] para operar por controlo remoto todos os movimentos importantes da política europeia nas próximas semanas.
Um: a Espanha é obrigada a completar todas as reformas impostas pela Europa e a solicitar um humilhante segundo apoio [depois do dos bancos espanhóis].
Dois: a Itália beneficiará, indiretamente, do auxílio espanhol, mas é mesmo muito provável que também se veja a recorrer a ele, antes que a situação política no país se esclareça.
Três: os parceiros europeus devem pôr os seus vistos nesses dois salva-vidas, sem novas condições excessivamente onerosas em termos políticos.
E quatro: se tudo correr como se espera, a Alemanha e o Bundesbank devem deixar-se de ultraortodoxia e libertar as mãos do BCE. Finalmente, o poder total para Draghi, uma espécie de novo Richelieu da política continental. [...] A jogada só tem um problema: continua a basear-se na fantasiosa falácia de que o Sul deve continuar a cortar gastos para a confiança voltar.
Em Itália, o Corriere della Sera constata que a "terapia de Draghi dececiona os mercados". Mas, para o diário, "esta manobra mal compreendida será, contudo, útil" e os mercados não têm razão:
Draghi deu tudo o que podia, salvaguardando a autonomia do BCE, tendo em conta as limitações políticas e institucionais da Europa, hoje. [...] Em primeiro lugar, sem se comprometer com ações específicas, o presidente do BCE não fecha a porta a futuras intervenções. Por outro lado, recorda aos políticos uma verdade crucial: a possibilidade e um pedido de apoio financeiro, com as suas consequências agradáveis e desagradáveis, não são imputáveis ao BCE, mas aos governos e seus eleitores.
“Draghi prudente, os mercados caem”, resume La Stampa. Mas o diário de Turim considera que não é por culpa do presidente do BCE:
Há um grande desfasamento entre a impaciência dos mercados e o tempo requerido pelas decisões políticas e económicas: os mercados deviam ser menos nervosos e os políticos mais expeditos. Mas a tentativa, muitas vezes sugerida ou esperada, de abafar simultaneamente a propagação dos “spreads” [a diferença entre as taxas de juro sobre as dívidas italiana e espanhola e a dívida alemã] e os complicados problemas da Zona Euro por meio da bazuca do BCE, teria garantido o regozijo por alguns dias, talvez semanas, seguido de sérios desapontamentos mais tarde. Até porque, se o BCE negligenciasse os papéis dos outros organismos comunitários, isso diminuiria a credibilidade deles, sem beneficiar a sua.
Do lado alemão, o Handelsblatt teme que o presidente do BCE não tenha "mão nos mercados" e seja levado a intervir para comprar a dívida, enquanto o Financial Times Deutschland aprova um "compromisso muito claro".
O Süddeutsche Zeitung saúda a dupla estratégia de Draghi, "que age como o presidente do euro de que a união monetária ainda não dispõe", abandonando o papel de simples "guardião da inflação" para se tornar um "ator audacioso", à imagem de Alan Greenspan, o ex-chefe da Reserva Federal dos EUA.
O grande desafio está em explicar aos cidadãos do Sul da Europa que só os vai ajudar se reformarem radicalmente as suas economias. Na quinta-feira, escolheu a estratégia inteligente das contrapartidas. Falou de compras de títulos, mas apenas se os governos preencherem as condições. Ou seja: o dinheiro não é de graça, o que seria fatal para o contribuinte alemão.
O ceticismo é partilhado pelo De Volkskrant. O jornal holandês considera que Draghi tem "prejudicado a sua credibilidade", porque não correspondeu às expectativas criadas pelo seu discurso anterior. Mas entende a sua posição:
Ele não dispõe de meios efetivos para resolver a crise da Zona Euro. Mesmo com todos os tipos de paliativos, como a compra de títulos ou a transferência de dinheiro barato para os bancos, apenas pode lutar contra os sintomas da crise [...] Em última instância, são os políticos europeus que têm a chave do problema. A crise não pode ser resolvida enquanto os países fortes não estiverem dispostos a servir de fiadores integrais dos países problemáticos, desde que estes estejam dispostos a renunciar à sua soberania.
Em Viena, Die Presse observa que "o BCE está paralisado pelas lutas de poder em matéria de auxílio financeiro". Para o diário de centro-direita, quem perde é Berlim, que desenvolve uma "luta quase desesperada para impor ‘a união da estabilidade’'". Pensando na decisão que o Tribunal Constitucional alemão deve tomar em 12 de setembro [sobre o Mecanismo Europeu de Estabilidade, MES] e nos 59% de alemães que aprovam a política de Angela Merkel para a crise, o Bundesbank e a chanceler mantêm-se firmes no seu "não" à aquisição maciça de obrigações dos Estados e à atribuição de liberdade bancária ao MES.
Mas a Alemanha está cada vez mais isolada. [Para além do secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, e do, aliás muito germanófilo, finlandês Jyrki Katainen], o novo Presidente francês e os primeiros-ministros de Itália e Espanha estão atualmente a criar um novo eixo para a construção de um polo de oposição à política de austeridade prescrita pela Alemanha.

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