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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mas é assim tão disparatado? Se é! É DISTÓPICO!

Em economia, mas também na diplomacia ou simplesmente na administração, a dimensão dos países conta. E a dos Estados da UE, demasiado pequenos à escala global, já não é operacional. A solução? Aplicar à Europa o modelo dos Estados Unidos, sugere o jornalista Philip Ebels.
Alfred Heineken fez mais do que apenas cerveja. Também pensou sobre coisas como o futuro da Europa e a melhor forma de agir. "Proponho uma Europa Unida de 75 Estados", escreveu num panfleto publicado no verão de 1992, "cada um com uma população de cinco a 10 milhões de habitantes." Heineken, um idoso criativo, com imenso tempo e dinheiro, era famoso por ter ideias bizarras. E a da sua Europa foi rapidamente esquecida. Infelizmente, porque, 20 anos depois, é mais atual do que nunca.
Demasiado grande e demasiado pequeno
Já foi dito antes, mas nunca com mais verdade do que hoje: os países europeus são demasiado pequenos para resolver as questões internacionais e demasiado grandes para as da vida quotidiana. Longe vai o tempo em que a Alemanha ou a França eram capazes de cuidar de si próprias no palco internacional, para não falar do Luxemburgo ou da Holanda. Daí que exista hoje a NATO, a União Europeia, e – para já – uma moeda única.
Passe-se os olhos pela lista dos maiores países do mundo em termos físicos. O maior Estado da UE, a França, fica em 43º lugar. A Rússia, indiscutível número um do “ranking”, é mais de 26 vezes maior que ela. Tanto a China como os EUA são 15 vezes maiores.
Agora olhe-se para a lista de países ordenada por população. A Alemanha, o país mais populoso da UE, fica em 16º. A China, a mais populosa do mundo, tem um número de habitantes mais de 16 vezes maior. A Índia tem cerca de 15 vezes mais pessoas. Se a UE fosse considerada um país, seria o 7º na lista dos maiores países e 3º em tamanho da população. E, como os funcionários de Bruxelas nunca se cansam de repetir, o 1º na lista das maiores economias.
O tempo em que as pessoas eram ignorantes e obedientes já passou. O tempo em que não incomodavam os seus dirigentes com exigências de transparência, eficiência, democracia e responsabilidade. O progresso tecnológico gerou sempre perturbações políticas, muitas vezes à custa de quem está no poder. A Internet, como a imprensa antes dela, dá às pessoas acesso à informação e poder para criar e distribuir, minando a ordem estabelecida por toda a parte – não apenas no mundo árabe.
É por isso que os Estados fazem o que podem para satisfazer gente cada vez mais exigente e emancipada: descentralizam. Reino Unido, Alemanha, França, Espanha, Itália, todos delegaram poderes nas últimas duas décadas. Quanto mais próximo estiver o poder, mais transparente, eficiente, democrático e responsável é.
O tamanho importa
Tudo o que tem uma função tem um tamanho ideal. Uma caneta pode ser maior ou menor, mas precisa de ser utilizável. O Estado social europeu tem várias funções. Precisa de proteger o seu território em relação ao exterior, defender o Estado de direito, prestar cuidados de saúde, promover a educação, cuidar das estradas e das florestas e – em maior ou menor grau – distribuir a riqueza.
O problema é que cada uma dessas funções tem o seu tamanho ideal e que, num mundo em permanente mudança, continuam a divergir. O resultado não é o Estado deixar de funcionar – apenas deixa de funcionar bem. Como uma caneta do tamanho de uma vassoura ou tão pequena como uma lasca de madeira – continua a ser possível utilizá-la, mas não é muito prático.
É uma tendência que irá manter-se, enquanto a tecnologia continuar a evoluir. A China e outros gigantes em ascensão vão continuar a crescer; os governados vão continuar a contestar os governantes. Até chegar o dia – ou será que já chegou? – em que os Estados europeus atuais vão ser contraproducentes, criando obstáculos desnecessários entre Bruxelas e [por exemplo] Barcelona.
Heineken, o profeta?
Claro que é um absurdo. Crescemos tão acostumados à atual divisão do continente que qualquer sugestão para mudar recebe um sorriso complacente – na melhor das hipóteses. Mas é assim tão disparatado? Ganhemos um pouco de distância e tentemos ver a imagem no seu conjunto. Não é uma ideia assim tão má, essa dos Estados Unidos Repartidos da Europa.
Teríamos um pequeno governo federal, eleito diretamente, e inúmeros governos locais, de Estados de tamanho similar – não muito diferentes dos EUA. Poderíamos assumir uma posição conjunta no cenário global e, ao mesmo tempo, decidir a nível local se devem ser autorizadas as touradas ou o consumo de marijuana. Muito dos nossos problemas atuais desapareciam: criar um equilíbrio entre os Estados grandes e os mais pequenos, o Norte ter que apoiar financeiramente o Sul.
Heineken chamou-lhe "Eurotopia" – uma fusão de Europa e utopia. Estava perfeitamente ciente do ceticismo que a ideia ia suscitar. Mas tempos radicais impõem medidas radicais. E perante o caminho que tudo leva, prefiro utopia a distopia.

2 comentários:

  1. Caro Miguel Loureiro,

    Não consigo encontrar nenhuma relação, sequer de correlação estatística, hoje ou noutro qualquer momento histórico, entre desenvolvimento económico e dimensão geográfica dos estados.

    Muito pelo contrário, penso mesmo haver fortes razões para supor que seria desejável uma muito maior pulverização dos actuais estados, particularmente os europeus.

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    1. Caro Eduardo F.
      Quando publico opiniões, nem sempre estou de acordo e a exposição destes articulistas destes grandes jornais dão-nos a sensação de que talvez tenhamos mais razão, mesmo na nossa pequenez...

      Estamos plenamente de acordo! E à minha moda diria que se houvesse estatísticas ou estudo que dissessem o contrário, eu contestaria empiricamente. Basta pegar na História e constatar que todos os Impérios, quanto mais foram crescendo, mais depressa caíram. Aliás como as empresas...

      O pior é que esta ideia de quadricular a Europa, é a mesma que o Relvas nos quer(ia) impor com a "reestruturação administrativa", na sua interpretação da imposição da troika.

      Resumindo, acho que nos estão a conduzir para a distopia e no fundo é o que parece defender o articulista, embora diga o contrário.
      Bfs

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