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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Nós e a equi(ni)dade nos países da Eurozona

Desfecho da cimeira deixa Portugal com maior necessidade de mostrar serviço para se destacar da Grécia.
Pela primeira vez em muitos meses, os líderes europeus fizeram um gesto claro para travar o aumento dos juros da dívida soberana na zona euro. Um gesto que pode ajudar a conter a sangria nos custos de financiamento de Espanha e Itália, mas que promete desde já melhorar os termos do programa irlandês.
Para Portugal, não há um único gesto. Todos os eventuais benefícios serão indirectos, na linha do raciocínio de "o que é bom para a Europa é bom para Portugal”. Ficando de fora, entregue aos seus problemas orçamentais e à espera de uma concessão da ‘troika', o país fica mais longe da Irlanda e mais próximo da Grécia.
Nesta cimeira muitos líderes cantaram vitória mas nem todos têm grandes razões para isso.
O irlandês Enda Kenny não segurava o sorriso depois de ter conseguido plantar uma declaração final da cimeira, onde se promete uma "melhoria da sustentabilidade do programa de ajustamento irlandês, que está a revelar um bom desempenho". Isto depois de prever termos de uma recapitalização directa da banca, pensada para Espanha e para separar o risco soberano do risco bancário. Kenny descola e é o grande vencedor.
Mário Monti, o líder italiano, ameaçou bloquear toda a cimeira se não lhe dessem medidas de curto prazo. Volta a Roma com a garantia que poderá pedir aos líderes que comprem a sua dívida soberana no mercado primário e/ou secundário para baixar os juros. Mas esta garantia teoricamente já existia e continua a não ser claro em que moldes funcionará.
Mariano Rajoy poderá contornar a crescente falta de apetite dos investidores ao garantir que a sua dívida soberana terá o mesmo valor que aquela emitida pelo fundo de resgate (será dívida subordinada). Esta é uma vitória que ninguém lhe pode tirar. Mas a grande aposta de Madrid é libertar-se do fardo que assumiu pelo sector bancário espanhol, até 100 mil milhões. Isso só vai ocorrer quando a supervisão bancária passar dos reguladores nacionais para o BCE - uma decisão de grande alcance em termos de integração europeia. É uma decisão positiva para o euro, mas uma vitória relativa para Madrid. É difícil que uma operação desta envergadura - transferir as funções de supervisão de todos os bancos centrais para Frankfurt - se opere em apenas alguns meses, como pretendem fazer crer os líderes. Parece sobretudo difícil que entre em vigor em tempo útil, evitando que dívida espanhola dispare no curto prazo.
E Passos Coelho, que leva na carteira? Muito pouco. Se é difícil que a recapitalização directa seja, no imediato, útil para Espanha, mais difícil será que altere a contabilização do envelope de 12 mil milhões de euros que Portugal está a usar para recapitalizar a sua banca.
A compra de dívida também poderia teoricamente ser útil a Portugal no regresso aos mercados, sobretudo se for no mercado primário. Passos não fecha portas mas não vai por aí. O primeiro-ministro promete "estar atento" mas avisa que estes mecanismos são para os países sob maior stress nos mercados. Portugal está noutra. Para o Governo tudo se joga na execução orçamental deste ano, no cumprimento das metas e na possibilidade de ser agraciado com mais tempo para fazer o ajustamento - exactamente os mesmos problemas da Grécia.
Aliás, nesta fase da crise da dívida, a Irlanda volta a colar-se à Espanha. A Grécia pede abertamente mais tempo e já constata um compromisso do Eurogrupo em "actualizar" o seu programa de ajustamento. Portugal reitera a vontade em cumprir a sua meta de 4,5% com ou sem novas medidas. "É indispensável para Portugal manter a credibilização e isso passa por cumprir as metas fixadas", explicou Passos. Paradoxalmente, numa altura em que se poderiam abrir portas para explorar portas abertas por outros países, o governo vê aqui ainda mais reforçada a necessidade de se demarcar da Grécia, tornando assim mais provável tomar novas medidas de austeridade.
A Irlanda espera uma redução de mais da metade dos 63 mil milhões de euros gastos até agora para o resgate dos seus bancos, que promete desde já um ajustamento do programa irlandês imposto pelo resgate, por estar a revelar um bom desempenho…
A Itália conseguiu a garantia de que poderá pedir à UE que compre a sua dívida soberana no mercado primário e/ou secundário para baixar os juros, tentando evitar o resgate e as consequências por que passam os países resgatados…
Espanha conseguiu libertar da dívida do Estado até 100 mil milhões, passando-a para o setor bancário espanhol, apesar de tal solução não entrar em vigor em tempo útil e poder comprometer o disparo da dívida espanhola no curto prazo, levando-a pelos caminhos dos resgatados…
A Grécia vai pedindo mais tempo e o Eurogrupo já não diz que não ao ajustamento do memorando, embora o FMI diga que nem pensar…
Para Portugal não houve um único gesto, nem sobre ajustamento do memorando, nem sobre a fatia para os bancos (vamos distribuindo a parcela que a troika nos emprestou para os mesmos), deixando o ministro das Finanças entretido com os problemas orçamentais (por ser um “barra”) e à espera da boa vontade da troika nos dar mais tempo (que o governo diz que não quer) e entretanto, vamos chorando e pagando, ficando o nosso país mais longe da Irlanda e mais próximo da Grécia (hummmm!)…
Passos Coelho e Vítor Gaspar reiteram a vontade em cumprir a sua meta de 4,5% (e vamos no mau caminho…) com ou sem novas medidas (que não passam por eles, nem pela casta superior), como bons alunos que querem mostrar ser e lhes dizem que são, mas enquanto a Irlanda beneficia desse estatuto e ganha o prémio, nós por cá continuamos, paradoxalmente, a bufar…
Equidade ou equi(ni)dade?

2 comentários:

  1. A diferença entre as duas palavras são duas letras que teremos de pagar aos bancos, por sermos tão bons alunos.

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