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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Virou-se a deslocalização contra os deslocalizadores!

Foi um dos motores da renovação energética alemã. Mas a Q-Cells, a 4ª maior especialista em energia fotovoltaica da Alemanha, abriu falência. Por culpa da concorrência chinesa, mas também da política de subsídios gerida por Berlim.
Ainda não há muito tempo, a Q-Cells era considerada uma empresa de futuro. Era, então, o maior fabricante de painéis solares do mundo. Mesmo em plena tempestade financeira, a Q-Cells parecia um negócio rentável e um bom investimento.
Foi em torno do seu centro de produção, em Bitterfeld-Wolfen, numa antiga região hulhífera do Saxe-Anhalt, que se desenvolveu o "Solar Valley" [“Sonnental”, em alemão], assim batizado por referência ao Silicon Valley da Califórnia.
Enfraquecido já há algum tempo, o Sonnental atravessa hoje os seus momentos mais difíceis, com a falência da Q-Cells. O campeão da energia do futuro pode não ter futuro nenhum: em 2011, a Q-Cells registou prejuízos de 846 milhões de euros. O "Solar Valley", que ainda emprega cerca de 2.200 funcionários da Q-Cells, pode muito bem vir a sofrer grandes perdas.
Milhares de pequenas empresas afetadas
Esta falência representa um novo choque para a indústria solar alemã. A Q-Cells é a 4ª empresa do setor a declarar insolvência e o seu desaparecimento pode aumentar significativamente a dependência dos fabricantes de painéis solares alemães dos seus concorrentes asiáticos. E isto apesar dos milhares de milhões de euros de subsídios distribuídos pelo Governo e de se viver um momento em que a energia solar se está a tornar cada vez mais competitiva.
Mas não fica por aqui, porque o processo está a acelerar-se. Em dezembro de 2011, desapareceram 2 gigantes da indústria: a berlinense Solon e a empresa de Erlangen [na Baviera], a Solar Millennium. Uma empresa indiana, Microsol, assumiu o fulcro dos negócios da Solon e continua a empregar 400 dos seus mil funcionários. A falência da Solar Millennium afetou milhares de pequenas empresas.
Houve outras fábricas a declararem insolvência, em março de 2012, entre as quais a Scheuten Solar, que há 8 anos vinha apresentando em Friburgo o maior painel solar do mundo.
A crise da indústria solar alemã afeta todas as empresas que fizeram escolhas erradas: as que, apesar de um abrandamento recorde no setor, reagiram demasiado tarde ou com excessiva timidez.
A política de incentivos, desenvolvida pelo Governo, era uma ótima maneira de apoiar o desenvolvimento do setor das novas tecnologias ecológicas; mas é cada vez menos relevante num mercado hoje já maduro. A limitação desses subsídios não altera nada e não pode salvar empresas que acumularam erros de gestão ao longo de vários anos.
A Q-Cells é o melhor exemplo. Foi no verão de 2011 que a empresa começou a deslocalizar grande parte da sua produção para a Malásia. Já então era evidente que os trabalhadores alemães não podiam competir com os seus homólogos da Ásia.
Produtos fáceis de copiar
Há anos que havia quem alertasse a empresa para essa situação. As células fotovoltaicas não são uma tecnologia muito sofisticada e são fáceis de copiar.
Apesar de a produção ser grandemente automatizada, o facto é que tudo o que faz uma fábrica é mais barato num país como a China, das paredes às equipas de limpeza. Além disso, a indústria solar é uma das prioridades de Pequim, que fornece créditos aos fabricantes a taxas muito vantajosas.
As empresas que, como a Q-Cells, tinham o seu centro na Alemanha estavam, pois, há muito condenadas, por subestimarem a concorrência global. A promoção da energia solar conseguiu fazer crescer estrondosamente a procura, entre 2009 e 2011. Esta ganhou tal dimensão que mesmo as empresas sem credenciais conseguiam vender os seus produtos em grandes quantidades.
Este surto dos últimos anos selou o destino dos fabricantes alemães de painéis solares, incitando os fabricantes a produzir em massa, nomeadamente na China.
Só em 2011, o preço de um painel fotovoltaico baixou 30 a 40%, ou seja, muito mais depressa do que os custos de produção na Alemanha. Este ano, espera-se mesmo um grande aumento nesses custos de produção. Resultado, os países asiáticos alargam a sua vantagem. Em 2008, a China fabricava 33% [dos painéis solares] de todo o mundo; em 2011, este número passou para 57%.
Por outro lado, em 1 de abril, o Governo alemão reduziu significativamente os subsídios públicos para o setor da energia solar. A médio prazo, a concorrência global deve afetar outros setores da indústria solar alemã, como a Centrotherm, que fabrica máquinas para a produção de células fotovoltaicas. São realmente aparelhos cada vez mais sofisticados, mas, à escala do setor, os fabricantes asiáticos apresentam mais modelos.
No entanto, houve diversas empresas alemãs que não se limitaram a receber os subsídios e que desenvolveram modelos competitivos. É o caso da Juwi, que concebe grandes parques solares e aposta também na energia eólica.
O mercado alemão prepara a chegada de novos intervenientes, nomeadamente na área dos serviços. É o caso de empresas de manutenção de parques solares ou de intermediários para colocação da venda de energia dos fornecedores em bolsa. Apesar disso, vão apagar-se muitas luzes no "Solar Valley".
PERSPETIVAS - Solar não é a única a falhar
Segundo o Frankfurter Rundschau, depois da energia solar é agora a vez do segundo pilar do setor das energias renováveis, de que a Alemanha se pode orgulhar de ter sido a precursora, a estar ameaçado: a eólica.
Milhares de empregos [na energia solar] desapareceram ou vão ser suprimidos nos próximos dias. A mesma sorte está reservada às competências no domínio do desenvolvimento industrial e da pesquisa, que durante muito tempo beneficiaram de um enorme apoio por parte dos contribuintes. E isto por causa de uma política neoliberal que defende que as leis do mercado conseguem regular tudo. […] São precisas soluções políticas mais criativas, ou até mesmo um certo protecionismo económico. O setor da energia solar não será o último a falir. Também a energia eólica foi um sucesso sem precedentes na Alemanha. Desde 2011, a China tomou a dianteira deste setor, a nível mundial. As fábricas chinesas são frágeis e, ainda, tecnicamente atrasadas. Por enquanto.

2 comentários:

  1. As diferentes direitas (em geral) não "acreditam" no aquecimento global, daí que deixem cair as empresas de energias alternativas!
    E o lobby do nuclear continua à espreita!

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    1. No caso, parece que é a China e a Índia que copiam e vendem mais barato. O nuclear está com azar (e nós) porque houve mais avarias na França.

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