O aprofundamento das relações entre a banca e os reguladores, e com o Governo, é uma das missões a que se propõe Faria de Oliveira, que foi hoje eleito presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB).
"Eu espero poder e saber atuar, em primeiro lugar, na defesa dos interesses dos associados, mas principalmente desenvolver uma ação de informação da opinião pública sobre a atividade bancária e a situação dos bancos, incentivando medidas que levem a um bom relacionamento entre os clientes da banca e a banca, e ao mesmo tempo estabelecer um diálogo muito profundo, quer com os reguladores, o Banco de Portugal e a CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários], quer com o Governo", disse Faria de Oliveira.
"Obviamente, tenho o compromisso de atuar enquanto presidente da APB com total independência. Foi matéria que não deixei de falar com quem de direito e, designadamente, com os meus colegas dos outros bancos, e estou convencido que saberei perfeitamente distinguir as duas funções. Grande parte delas têm completa e total sintonia, noutras, poderá haver pontos de vista diferentes, mas eu saberei atuar com independência em cada um dos cargos que exerço", referiu o também presidente não executivo da Caixa Geral de Depósitos.
Troca deve permitir ganho de 4.630 euros por mês. No limite, banqueiro podia acumular duas remunerações.
O presidente não executivo da Caixa Geral de Depósitos deverá trocar o salário que recebe no banco público pela remuneração que lhe é devida, desde ontem, por ter sido eleito líder da APB. Uma opção que deverá permitir ao banqueiro aumentar o seu rendimento mensal bruto em 4.630 euros e que evitará que o novo representante da banca fique sujeito às limitações impostas pela aplicação do Estatuto do Gestor Público à CGD que, no limite, poderia levar a que Faria de Oliveira passasse a ter uma remuneração mensal igual à do primeiro-ministro.
Os funcionários bancários, à exceção dos do Banco de Portugal, vão na quinta-feira gozar de tolerância de ponto durante a parte da tarde, seguindo uma recomendação da APB do passado dia 20.
Há qualquer coisa, ou muitas coisas, que dão a perceber, cada vez mais descaradamente, que existe um “Estado” dentro do Estado, cumprindo-se aquele refrão cantado pelos neoliberais (confessados ou encapotados): “Menos Estado, melhor(?) Estado”, numa batalha política que deu o que deu e dará o que se verá…
Mesmo admitindo que uma pessoa (seja quem for) pode ser dirigente de um Banco (CGD) e acumular a presidência da Associação Portuguesa de Bancos, é muito difícil compreender a prossecução dos objetivos que se propõe e aqui elencados.
Em primeiro lugar, diz o nomeado, vai atuar na defesa dos interesses dos associados (Bancos e acionistas), o que é lógico e chegava e sobrava para cumprir a missão…
Que tome medidas que levem a um bom relacionamento entre os clientes da banca e a banca, nada de mais natural, porque é uma medida de defender os seus associados…
Já quanto à intenção de estabelecer um diálogo MUITO PROFUNDO com os reguladores (BdP e CMVM), apesar de as boas relações com quem nos fiscaliza e avalia não seja pecado mortal, cheira àquilo a que se costuma chamar de promiscuidade…
E no mesmo sentido, a mesma intenção de diálogo MUITO PROFUNDO com o Governo cheira ao mesmo… Promiscuidade entre o Poder e o Poderio, agravada pelas circunstâncias em que vivemos, com a Banca à cabeça das razões desta crise que lhes estamos a pagar…
Nesta conjuntura, obviamente que o compromisso de atuar com total independência (apesar de virtuoso) não é muito credível, pela acumulação de presidente (não executivo) da CGD.
E quando se lê que o nomeado, que até podia acumular as duas remunerações (CGD e APB) troca o vencimento da CGD pela da APB, aumentando-lhe o ganho em 4.630 euros por mês, tal escolha, desde logo, não lhe permitirá a “beatificação”. Se acrescentamos que esta decisão evitará que fique sujeito às limitações impostas pela aplicação do Estatuto do Gestor Público à CGD, o que o levaria a ter uma remuneração mensal igual à do primeiro-ministro, portanto muito inferior, a beatitude cai-lhe pelos pés de barro…
De “boas” intenções está a Banca cheia e as cadeias vazias…
Não deixa de ser folclórico, que o anterior presidente da APB tenha decidido no passado dia 20 dar tolerância de ponto durante a parte da tarde de quinta-feira aos bancos (CGD incluída), contrariando a “filosofia” de produtividade do governo, quando o atual podia ter revogado a recomendação…
Afinal, continuamos com o mesmo Carnaval…
A clareza, nesta área, costuma ser apanágio de quem sabe que o pode fazer de forma impune.
ResponderEliminarMas que não venham pregar aos peixes falando de independência...
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