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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

…porque usurpar é não ter direito…

Mensagem de leitura ambígua, porque
em árabe se lê da direita para a esquerda
Com a mesma força do poder das armas, o drama humanitário ganha cada vez mais forma na Líbia, em particular em Tripoli. Na capital começam a escassear água, comida, medicamentos e combustíveis.
Depois de o CNT anunciar a libertação de Tripoli, os combates prosseguiram rua a rua e, muitas vezes, casa a casa, deixando um rasto de mortos nas artérias da capital. Os mortos são agora às centenas e estavam a ser deixados abandonados sob o Sol, em plena decomposição. A decisão foi por isso começar a sepultar os corpos sem identificação em valas comuns.
O caos também é visível nos hospitais, completamente cheios, sendo vulgar encontrar na mesma enfermaria feridos que combateram em lados opostos.
À semelhança do que acontece por toda a capital, também nos hospitais falta quase tudo: pessoal médico, medicamentos e outros bens de primeira necessidade.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu o envio urgente de ajuda humanitária.
Enquanto a caçada ao coronel Muammar Kadhafi prossegue, dois dias após a tomada do seu quartel-general pelas forças rebeldes, jornalistas da BBC testemunharam os primeiros sinais de massacres nos confrontos ocorridos na capital, Tripoli, nos dois lados envolvidos no conflito.
Um porta-voz da Cruz Vermelha disse que os dois lados mantêm centenas de prisioneiros. Robin Waudo pediu às partes envolvidas que respeitem os direitos de prisioneiros de guerra, dispostos em convenções internacionais.
A Amnistia Internacional também denunciou execuções sumárias de prisioneiros nos dois lados do conflito.
Ajuda urgente
O CNT, já reconhecido como governo legítimo da Líbia por grande parte da comunidade internacional (no entanto, não pelo Brasil), disse que precisa de US$ 5 mil milhões para evitar uma crise humanitária no país.
Membros do Conselho estão a negociar a libertação de investimentos do regime líbio em contas no estrangeiro. Estados Unidos, Suíça, França e Itália já prometeram descongelar ativos da Líbia.
O líder do CNT, Mahmoud Jibril, disse em Itália, ao lado do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, um dia após se encontrar com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que o Conselho precisa de ajuda urgente. “O nosso povo não tem recebido salário há meses. Estamos a dizer aos nossos amigos que o maior elemento desestabilizador seria o fracasso do CNT, caso não consigamos oferecer os serviços necessários e pagar o salário (dos servidores)”.
Nunca fui capaz de entender a guerra, muito menos nos tempos de hoje, avançados em tudo menos no respeito pela vida, pelos direitos individuais e pelo direito internacional, sobretudo porque cada vez mais, as guerras matam mais civis inocentes do que militares profissionais.
No caso, é patético ler os títulos das centenas, ou milhares de notícias, de qualquer país do mundo, para se perceber o exercício manipulador das mentes sãs dos cidadãos comuns, que passa pela invenção, pela contradição, pelo prognóstico, pelo desmentido, pelas meias verdades, pelas meias mentiras, etc…
Vejam-se as imagens que nos oferecem, em que raramente aparecem mais de 10 pessoas, que tomaram conta não se sabe de que cidade e controlam a “revolução”… E as reportagens de jornalistas de renome a mostrarem as piscinas do ditador, como se não tivéssemos democratas com piscinas melhores…
Sem entrar com a história recente, que a antecede e escancara a hipocrisia de todos os governantes das maiores potencias bélicas e beligerantes, sem que se traduzam nos governos mais prósperos e mais humanistas, por muita tinta com que os pintem…
Dizia há dias um amigo de longa idade, mas bem lúcido e direto, a propósito da guerra contra Kadhafi: “já viu, se matarem o homem, nenhum país lhe fica a dever nada, contas saldadas!”. Pois…
E agora quem vai reconstruir o país? Para já vão 5 mil milhões de dólares para pagar os salários dos "rebeldes" líbios, porque os dos estrangeiros devem ser pagos pelos próprios países (espera-se)... Para a reconstrução do que a NATO deitou abaixo, o petróleo deve chegar e sobrar...
Mas bastavam-me as palavras e os conceitos de Alberto Caeiro:
A guerra
A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.
A guerra, como tudo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa.
Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar.
Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.
Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.
A química directa da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.
A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.
Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem,
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!
Alberto Caeiro - (24-10-1917)

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