Mais de 6 meses após o seu início, a "Primavera Árabe", onda de levantamentos populares que começou na Tunísia e se espalhou por vários países da região, encontra-se num impasse de violência, mortes, frustrações e dúvidas quanto a mudanças práticas. No início do ano, com as atenções dos media internacional voltadas para o fenómeno, os protestos eram vistos como uma onda pacífica de mudanças rumo a reformas, democracia e destituição de governos no poder havia décadas.
Aconteceram transformações na Tunísia e Egito, onde os presidentes desses países renunciaram devido às pressões populares. Mas a Líbia passa por uma guerra civil, enquanto as manifestações na Síria e Iémen são reprimidas com extrema violência e não há sinais de que os governantes vão renunciar. Já no Bahrein, as manifestações pro-democracia foram reprimidas e extintas pelo governo, e ativistas e membros da oposição foram presos.
"Em pleno verão no Oriente Médio, a Primavera Árabe gera apenas dúvidas e suspeitas. Ninguém sabe o que realmente vai produzir, nem mesmo na Tunísia e no Egito, onde houve relativas mudanças e sucesso em tirar do poder os ditadores", diz o analista Rami Khoury, diretor do Instituto Fares, da Universidade Americana de Beirute. Segundo ele, as mudanças acontecem de forma lenta e passarão por "diversas fases de correções". "É difícil prever um futuro para a região, mas cada país terá uma realidade diferente, desafios e resultados diferentes", completou.
Passados mais de 6 meses do início da tão inesperada quanto mediatizada "Primavera Árabe", que começou “espontaneamente” na Tunísia, os nossos media tem-se esquecido de acompanhar as mudanças tão desejadas pelos autóctones, apoiadas por todos os democratas, celebradas pelos países ocidentais e garantido sucesso por tantos políticos, que se quisermos saber algo sobre o movimento, temos que recorrer à imprensa estrangeira, no caso a brasileira. Não é bem manipulação da opinião pública, apenas um silêncio anestesiante...
Vamos saber o ponto da situação:
Na Tunísia, uma ditadura com 23 anos, diz-se que as reformas económicas têm sido lentas, de acordo com jornais tunisinos, e que a população reclama tanta demora no julgamento de pessoas ligadas ao antigo regime (como se fosse prioritário) e que próprios os grupos sociais mais secularizados começam a recear a força cada vez maior dos partidos de ideologia mais islamista (só eles é que não adivinhavam), gerando dúvidas quanto ao futuro do secularismo no país, que é o mesmo que dizer, que a democracia ocidental não é o futuro garantido...
No Egito, após 30 anos de um poder apoiado pelo ocidente, os grupos de jovens ativistas, que lideraram os protestos, mostram-se igualmente frustrados com a lentidão das reformas e do julgamento de membros do antigo regime e receosos com o poder dos partidos islâmicos, cuja agenda política gera desconfianças dos seculares, que é o mesmo que dizer, que a democracia ocidental não é o futuro garantido...
Acresce, que quando se aposta que o sucesso de uma experiência democrática no mundo árabe passa pelo Egito, tem-se a noção que se tal experiência fracassar neste país, as hipóteses de fracasso nos outros países da região aumentam.
No Iémen, com eleições de 7 em 7 anos e já mantém há 30 anos o mesmo presidente, para além do levantamento popular contestatário, o governo enfrenta grupos armados no interior do país e conta com a presença da Al Qaeda no seu território, pelo que qualquer alteração ao poder dominante pode dar origem a uma nova Somália, ou seja, a mais um Estado falhado e sem leis. Parece que ninguém quer arriscar, até porque já há eleições…
No Bahrein, com uma monarquia que manda há 40 anos (a Inglaterra, e não só, há muitos mais) recorreu à ajuda da Arábia Saudita (uma monarquia absoluta), que enviou tropas para restabelecer a ordem e reprimir os protestos e não se espera que voltem a acontecer, porque a Arábia Saudita, receosa de que mudanças em países vizinhos possam alimentar movimentos no seu território, não permitirá os permitirá.
Na Síria, que conta com 30 anos de ditadura, mais 10 filho do ditador, teve em março o início da contestação, que continua, mas segundo analistas, a situação chegou a um impasse para ambos os lados, porque nem o governo, nem a população nada querem ceder ao outro lado, pelo que pode durar meses, paralisando a já combalida economia da Síria e levando a um aumento da violência, que poderia fugir ao controlo. A velha tática do gato e do rato é a mais utilizada, com o ocidente muito empenhado no apoio aos manifestantes, mas em stand by para uma intervenção direta e musculada, só depois de acabe o trabalhinho na Líbia…
Na Líbia, que aguenta há 42 anos com Kadhafi, é o único país em que a comunidade internacional interveio com o(s) seu(s) braço(s) armado(s) da NATO, há mais de 5 meses, mas para além de enfraquecido a máquina de guerra do ditador, em que houve milhares de mortos e feridos de ambos os lados, segundo especialistas, é arriscado dizer se, ou quando conseguirão derrubar o regime, mas esta novela dá todos os dias, nos jornais, TV, rádios e cassetes piratas…
Há um elemento comum nestes 6 países árabes, que se quer que sejam democratas e que é a existência de petróleo. Será que há qualquer relação entre o petróleo e a democracia? Será?
Se quiser saber mais umas coisas:
As evoluções na região comprovam o fracasso
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