1º Carlos Slim, 2º Bill Gates, 3º Warren Buffett, 4º
Bernard Arnault
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Levantei de S. Paulo convencido a falar da fonética e do Acordo Ortográfico e mal aterrei em Portugal convenceram-me a falar da problemática dos ricos. Que supostamente haveriam de pagar a crise. Não estranhe pois o leitor que esta crónica seja um Portugal-Brasil onde se defronta a riqueza da língua com a pobreza de espírito.
Uma espécie de desafio de solteiros contra casados em que os parentes pobres nem sempre são os de cá e os novos-ricos nem sempre são brasileiros.
O pontapé de saída pertence aos ricos de cá.
De repente, a reboque do multimilionário Warren Buffet, o nosso presidente da República resolveu interromper as suas férias e directamente da praia da Coelha (ou de perto...) lançou umas achas para a fogueira da crise, defendendo que os ricos devem pagá-la, mesmo depois de falecidos.
Estabelecida a polémica (caramba, estava a ver que este ano não tínhamos silly season) muito mais graça do que vermos o comendador Américo Amorim vir dizer que não é rico, mas trabalhador, tem o facto de toda esta discussão ter sido suscitada por um dos principais responsáveis pelos dramas financeiros actuais.
Warren Buffet é um dos maiores accionistas das mais poderosas agências de notação financeira e um especulador bolsista de primeira água.
No fundo, a disponibilidade do milionário para ajudar os mais pobres trata-se, em última análise, de uma disponibilidade para devolver uma pequena parte do que ele ganhou, a quem perdeu.
Basbaques perante tudo o que vem de fora com bom marketing, o país, ainda meio de chinelos, meio de gravata, meteu-se em brios para saber quem eram os ricos e quais deles aceitavam pagar estes extras.
Tem sido hilariante assistir à procura dos ricos, das sagas das famílias ricas e à tentativa de fazer rankings com essa massa crítica.
Tenho lido tudo na ilusão de vir a descobrir o que é ser rico hoje.
Quem tem um milhão em acções de uma determinada empresa e deve 3 milhões que o banco lhe emprestou para as comprar (quando valiam o triplo) é rico, remediado ou sem remédio possível?
Quem hoje tem uma casa que custou um milhão e a comprou com crédito à habitação e hoje não consegue vendê-la nem por metade, sendo que deve ao banco bem mais do que isso, é um rico proprietário, ou um rico desgraçado, por mais graça que a "casuncha" tenha?
Em menos de dois meses e sem que nada o justifique, a discussão na ordem do dia esqueceu o corte na despesa pública tão exigida e tão prometida pelo novo poder, para se concentrar na obtenção de novas receitas à custa dos cidadãos mais ricos ou com maior fama disso.
Do outro lado do Atlântico, sopram ventos de um crescimento ímpar, mas nem por isso a sociedade descansa na estabilidade de valores e comportamentos que habitualmente caracterizam estes tempos.
Do namoro à janela, como ainda tiveram os meus progenitores, do noivado consequente e do casamento para a vida eterna, os nossos irmãos do lado de lá do Atlântico inovaram agora com uma nova classe de relacionamento: os ficantes!
Estes ficantes são aqueles que vão ficando juntos, de dia e nas noites, sem compromisso maior do que a resposta diária a uma pergunta sacramental: hoje cê vai ou cê fica?
Como picante, ficante vem agravar a ideia do respeito pela fonética subjacente ao Acordo Ortográfico. Para escrevermos como os ouvimos era ficantche que deveria ser.
Dada a transitoriedade da situação descrita (e se calhar a efemeridade da moda) não virá mal ao mundo por aí, mas lá está o Acordo a dar-nos mais razões para não casarmos com ele à primeira.
Por estas e por outras é que vou deixando ficar-me como estou no português sem "tches", enquanto na questão dos ricos sugiro ao Governo que deixe ficar como está o defunto imposto sucessório e sobre as doações, preocupando-se mais com a contenção dos gastos públicos como prometeu.
Para termos um Governo mais edificante do que apenas ficante.
Manuel Serrão
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