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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Recuperamos a nossa soberania, por minutos, antes do tempo?

Subir Lall não chegou a estar detido, mas foi impedido de entrar em território nacional quando chegou, no domingo, uma vez que o seu visto apenas era válido a partir de segunda-feira.
Alguns procedimentos administrativos e um recibo de 90 euros depois, o homem do FMI estava na posse de um visto de 1 dia e às 5h30 da tarde já estava de saída do Aeroporto de Lisboa.
Chefe de missão do FMI diz que Portugal terá de permanecer alerta nas reformas estruturais. No mercado de trabalho e na energia há ainda trabalho a fazer e esses serão temas centrais da 12ª avaliação que começa amanhã.
O responsável do FMI pelo acompanhamento do programa de ajustamento português elogia os esforços do Governo e identifica vários sinais positivos na economia, como a “recuperação do consumo e do investimento”, as “taxas de juro mais baixas de 4 anos” e “um aumento dos níveis de confiança dos consumidores”, mas avisa que “há o risco de médio prazo de que as melhorias não sejam sustentadas”. Esse risco, defende, “depende do impacto das reformas estruturais se tornar mais visível”, o que por enquanto ainda não aconteceu, avisa.
Subir Lall introduziu o tema nos primeiros 2 minutos da conferência que durou mais de 40 minutos: “agora não é tempo para complacências”, disse.
O FMI admite que há sinais de recuperação em Portugal, mas considera que há 3 fatores que colocam em risco o crescimento da economia: deflação, decisões do Tribunal Constitucional adversas para o Governo e tensões políticas. Para o FMI, esta é a troika que pode condicionar a melhoria dos indicadores.
Não deixa de ser caricato, mas tremendamente simbólico, que quem nos enclausura numa teia de medidas inibidoras de sobrevivência, exploração e subserviência, tenha passado pela experiência de ficar retido por incumprimento de normas internacionais e nacionais, dando-nos assim a oportunidade de recuperar um pouco da nossa soberania…
Naturalmente que não foi por estar ressabiado com o funcionário do SEF, mas até parece, quando diz que “agora não é tempo para complacências”
Mas só pode ser por estar ressentido com os trabalhadores (não só do SEF), que veio logo identificar vários sinais positivos(?) na economia portuguesa, não identificando os reais obreiros de tal façanha(?), sem assinalar qualquer insucesso, apesar de todas nódoas que puseram no desenho… E quando fala nos riscos a médio prazo de que as melhorias não sejam sustentadas, deve estar a referir-se ao período “pós-eleições europeias”, em que vamos regressar ao passado recente, com mais porrada, até haver reação…
Não deixa de ser provocatório que o FMI, num gozo fininho, venha apelidar de “troika” a deflação (da sua responsabilidade), as decisões do Tribunal Constitucional (insistindo na pressão) adversas para o Governo (o povo que se lixe!) e as tensões políticas (que não têm nada a ver com finanças)… Mas também acaba por ser uma depreciação do trabalho da verdadeira troika, a que pertence o FMI…
Stand up?
Em “Little Dorrit”, Charles Dickens fala-nos de uma prisão onde as pessoas que têm dívidas estão presas, sem poder trabalhar, até pagar. Nunca as pagarão, é claro. A menos que sejam perdoados. Portugal está na sua penitenciária virtual. E, por isso, está sujeito às dicas do FMI ou aos delírios da UE. Come e cala. Porque não tem outra saída.
No livro, Dickens escreve que o crédito é um sistema onde a pessoa que não pode pagar arranja uma outra pessoa que também não pode pagar para garantir que conseguirá pagar. No caso português essa contínua dança da chuva encharcou-nos. As elites atiram Portugal para o mar alto e depois não há boias de salvação para os mais frágeis.
Quando o tempo acalma, os bons negócios voltam a prosperar à espera da próxima borrasca. É por isso que vivemos agora rodeados de arame farpado. E temos de ler relatórios como os do FMI, semelhante a uma reguada. O problema é que a classe política portuguesa continua a acreditar que não vê a luz aos quadradinhos como numa prisão.
A temível conexão entre o mal e a dívida levanta outra questão pertinente: de quem é a culpa? Quem empresta e nos diz onde gastar (como fez a UE até certo ponto?) ou quem gasta sem pôr os neurónios a funcionar? A ideia de que a dívida é um pecado tem uma dimensão religiosa. E por isso existem prisões para quem deve. Mas num país onde se torrou dinheiro com o BPN ou com as PPP e quem paga é o reformado e os sujeitos a impostos cada vez mais duros, pergunta-se se a pena está a ser aplicada a quem tem culpa.
A questão é se Portugal aprenderá esta lição que o colocou num labirinto sem fuga possível e visível. E se a elite que nos vai governando aprende alguma lição. Ou não.

2 comentários:

  1. O fulano não se dá bem com a Democracia e com as suas instituições, a menos que verguem a espinha aos desejos do FMI.
    Abraço do Zé

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    Respostas
    1. E tem tanto azar ou sorte, que por ser indiano precisava do visto...
      Quem diria que iríamos ser governados por dinamarqueses, etíopes e indianos!
      Já fomos conquistadoooooores...

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