Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália: os governos dos PIIGS, os países mais duramente atingidos pela crise, anunciam com entusiasmo as suas previsões de crescimento, “provocando uma onda de otimismo entre os investidores internacionais, que correram para resgatar as suas dívidas", observa o New York Times.
Mas o crescimento por si só, não é suficiente. "Porque, se os sinais de recuperação estão a emergir na eurozona, o custo humano da recessão de 5 anos que continua a aumentar", persegue o quotidiano americano. "Para dezenas de milhões de europeus, não será fácil voltar de uma meia década de privações económicas e de um desemprego à escala da Grande Depressão [crise de 1929]”. De acordo com um relatório do Eurostat, a agência europeia de estatísticas, mais de metade dos novos empregos criados na UE são temporários, insuficiente para fazer face às despesas.
Na reportagem em Atenas, o New York Times apoia-se no destino de Kostas Polychronopoulos, que no auge da crise, perdeu o seu emprego altamente colocado numa empresa de telecomunicações. Ele que ganhava até 6.000 euros por mês, no topo da sua carreira, passou mais de um ano a procurar novo emprego. Em vão. "Teve que deixar o seu apartamento ensolarado de Atenas, vender o seu BMW descapotável, e voltar a viver com a sua mãe idosa. Rapidamente se viu num lugar onde nunca teria pensado aterrar: na fila para a sopa popular."
O artigo do New York Times é mais extenso, mas não acrescenta muito às dúvidas sobre o entusiasmo reinante nos PIGS quanto às previsões de crescimento, que comprovaria a eficácia das medidas aplicadas e da “filosofia” da austeridade como solução.
Todos constatamos que, de repente, sem qualquer explicação e com surpresa para os próprios governantes dos países mais afetado deu-se o “milagre”: sinais tenuemente positivos nas respetivas economias, facilidades inesperadas nas idas aos mercados, descidas “à bruta” das taxas de juros em todas as maturidades, estranhas “baixas” nas taxas de desemprego, os países “melhor” e os cidadãos cada vez pior…
Entretanto, as dívidas sobem brutalmente, os objetivos do défice ficam longe do projetado, o futuro promete mais austeridade para uns, a pobreza aumenta para (quase) todos e as possibilidades de honrar as dívidas tornam-se impossíveis, mesmo depois de 30 anos de roubos confessados e de penitência dos inocentes…
Cabe então perguntar o que se passará de esotérico, sabendo que estamos (embora não pareça) num tempo de pré-eleições europeias, sabendo-se que nestes governantes os “investidores internacionais”, já sabem com o que contam… A extrema-direita é que pode borrar-lhes o desenho.
Não haja dúvidas de que a estratégia está desenhada para que tudo fique na mesma e que logo após as eleições, se os neoliberais tiverem a maioria, o retrocesso deste “sucesso” vai descambar de imediato, com uma vingançazinha de quem foi ameaçado pelo povinho, que terá de continuar a pagar os tributos e impostos aos seus suseranos, em troca de nada…
Por alguma razão o silêncio de Merkel e dos que estão melhor tem sido tão prolongado e sem tomar compromissos, em contraste com a euforia dos que estão mal e lhes deram esta amêndoa “doce”, que acabará por nos ser amarga…
É o coelhinho da Páscoa, que foi com o Vice ao circo, onde há palhaços…
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