Estudo de especialistas da ONU mostra que o planeta ainda pode reverter previsões sombrias de catástrofes naturais. Para isso, as emissões de gás do efeito estufa precisam de ser reduzidas no mínimo em 40% até 2050.
Apesar de todos os esforços globais para tentar reduzir a emissão de CO2 prejudicial ao clima, a libertação de gases causadores do efeito estufa teve maior aumento entre os anos 2000 e 2010 do que em qualquer outra década anterior, desde 1970.
O
balanço consta do 3.º relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, sigla em inglês. O documento, elaborado por 195 cientistas
nos últimos 4 anos, vinha a ser discutido desde o início da semana passada por
representantes de vários governos nas Nações Unidas, reunidos na capital alemã.
Apesar da perspetiva sombria, o relatório intitulado “Mitigação da mudança climática” traz esperança de que a situação pode mudar. Segundo os seus autores, só será possível limitar os drásticos efeitos de catástrofes naturais – como inundações e secas – se os países conseguirem manter o aumento anual da temperatura do planeta em até 2 graus Celsius.
Mas para tal, os autores do estudo apontam a necessidade de se estabelecer um conjunto de medidas políticas e técnicas. "A mensagem científica é clara: a fim de evitar danos perigosos ao sistema climático, as coisas não podem continuar como estão", explica o cientista alemão Ottmar Edenhofer.
O relatório divulgado agora é a 3.ª parte de um levantamento sobre mudanças climáticas. A 1.ª parte foi publicada em 2013 em Estocolmo, Suécia; a 2.ª, há poucas semanas em Yokohama, Japão.
Menos CO2 até 2050
Os especialistas do clima apontam que a meta dos 2 graus Celsius só poderá ser alcançada se as taxas de emissão de gases-estufa caírem entre 40% e 70% até 2050. Para garantir o futuro das próximas gerações, as emissões de CO2 e similares terá que ser praticamente nula, até ao fim deste século.
No entanto, ressaltam, não basta diminuir a libertação de gases no meio ambiente. Para se chegar à ambiciosa meta de redução das mudanças climáticas, Edenhofer e os seus colegas Ramón Pichs-Madruga, de Cuba, e Youba Sokona, do Mali, consideram ser essencial ter uma atmosfera completamente livre de CO2.
O trio de cientistas não tem dúvidas de que a comunidade internacional precisa ser ágil em aplicar uma série de medidas a fim de limitar o aquecimento anual em apenas 2 graus Celsius. Por isso é fundamental cumprir a meta básica inicial de estabilizar a concentração dos gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera. Para conseguir isso, é necessário reduzir as emissões em todos os setores, seja na geração e consumo de energia, na produção de bens de consumo, alimentação, meios de transporte ou moradia.
Cooperação internacional
Os cientistas veem um grande potencial no desenvolvimento da eficiência energética e reflorestamento. Para eles, a adoção de tecnologias menos poluentes oferece uma grande hipótese de diminuir os custos que seriam empregados para minimizar as mudanças climáticas.
Um melhor uso da terra é outro componente-chave desta equação. Desmatamento em menor escala e maiores áreas de reflorestamento podem, na avaliação dos especialistas, não apenas estancar a emissão de CO2 como até reverter o risco atual. Segundo o relatório do IPCC, o reflorestamento orientado pode até mesmo eliminar os gases-estufa da atmosfera.
Os cientistas afirmam que o uso de biomassa e o armazenamento subterrâneo de CO2 podem surtir o mesmo efeito, mas alertam sobre os riscos que essas técnicas acarretam. Assim, o objetivo principal deve ser procurar maneiras de desatrelar o crescimento económico da necessidade de emitir gases poluentes, ressalta Sokona no relatório. Edenhofer complementa: "A chave para reduzir o aquecimento global está no trabalho de cooperação internacional."
"Este relatório é muito claro sobre o facto de estarmos perante uma questão de vontade mundial, e não de capacidade", afirmou o secretário americano de Estado, John Kerry, num comunicado em que comenta o relatório do IPCC.
Não deixa de ser irónico que o comentário venha de um alto responsável americano, com responsabilidades acrescidas no problema… Enquanto os efeitos se davam no seu território e dos vizinhos, bem como nos territórios de outros emergentes responsáveis, vai que não vai, mas agora até nós apanhamos de tabela, sem qualquer contributo para a ameaça. Faz de conta que é como a crise: uns roubam e os inocentes pagam…
Dizem que “é a vida!”, mas não é…
Nos últimos tempos, muitos têm sido os debates em torno das alterações climáticas. De um lado, estão os que rejeitam qualquer responsabilidade dos humanos, alegando que as mudanças climáticas são naturais e cíclicas. O outro lado, que inclui a maior parte da comunidade científica, defende que o Homem é o grande responsável pelo aquecimento global.
Shaun Lovejoy, um físico da Universidade de McGill, em Montreal, no Canadá, acredita ter resolvido esta questão. De acordo com a sua investigação, a possibilidade de as alterações climáticas serem provocadas por causas naturais é de menos de 1%.
Para saber a extensão da variabilidade antes de a intervenção humana ter implicações na natureza, e para analisar as flutuações do clima ao longo dos anos, o responsável pelo estudo recolheu dados sobre os níveis de temperatura em meados do ano de 1880 – altura em que terão tido início as variações climáticas na Terra.
Estes estudos envolveram uma série de análises a fatores naturais, como núcleos de gelo, anéis de árvores e sedimentos de lagos.
Relativamente à era industrial, Lovejoy incorporou na sua análise os níveis de dióxido de carbono produzido por combustíveis fósseis, como fator representativo da intervenção do Homem na natureza.
Embora esta pesquisa não utilize qualquer modelo de computador, como a maioria dos estudos sobre esta matéria, os seus resultados estão em linha com as conclusões do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas.
No estudo, Lovejoy prevê, com 95% de confiança, que um aumento de 50% de emissões de dióxido de carbono vai causar um aumento da temperatura entre os 2,5 e os 4,2 graus Celsius no planeta.
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