Morto-vivo da política italiana, Berlusconi lançou o país no caos ao retirar os seus ministros do governo. Agora, a solução duradoura depende de Beppe Grillo, profeta da negação e do protesto.
Bernd Riegert
Bas van der Schot |
Agora esse governo fracassa ostensivamente, devido ao comportamento irresponsável e egocêntrico de Silvio Berlusconi. O sonegador condenado pela Justiça agarra-se ao seu posto no Senado, chantageia o governo, utilizando-se, para tal, do seu submisso partido, o Povo da Liberdade (PdL), que administra como se fosse uma empresa privada.
Berlusconi – que no dia 29/09 completou 77 anos – retirou os seus 5 ministros de Roma devido à intenção explícita do Senado de aplicar contra ele a sentença legalmente válida de afastamento.
Com toda a frieza, sem considerar os danos que podem resultar para a Itália e talvez a toda Europa, Berlusconi mexe os seus pauzinhos. Ou será que ficou maluco, como supõem o primeiro-ministro Letta e o presidente da Confindustria, Giorgio Squinzi, entre outros?
Coligação sem base
Enquanto Berlusconi faz estardalhaço no grande palco da política italiana, nos bastidores já estava claro, praticamente desde o início da grande coligação, que as conceções da esquerda e da direita na política económica e tributária não batem.
Até hoje, Roma não foi capaz de implementar qualquer resolução mais incisiva. Seguem adiados tanto o planeado aumento do IVA como a nova regulamentação dos impostos imobiliários. A Itália vem mancando, lá atrás, no que diz respeito aos projetos de reforma mais relevantes. Iniciativas contra o desemprego são quase inexistentes.
Em maio, a União Europeia suspendeu o processo relativo ao défice público da Itália. Agora, tudo indica que o país terá novamente que se endividar mais do que esperava. Em outubro chega a hora da verdade: o comissário de Finanças da UE, Olli Rehn, vai colocar os números na mesa e examinar o orçamento público italiano para o próximo ano – se é que haverá uma proposta de orçamento, sem um governo operante em Roma.
Em Bruxelas ainda reina o silêncio, mas nas instituições europeias, e sobretudo nos demais países-membros da zona do euro, o clima em relação ao caos na Itália varia da incompreensão ao pavor. Os números básicos da economia nacional acabavam de manifestar uma modesta melhoria. Será que os partidos não tinham nada melhor a fazer, do que provocar mais outros meses de estagnação política?
Pressão dos mercados
Há um ano, os mercados financeiros vêm dando aos italianos um pouco de espaço para respirar. O Banco Central Europeu comprou títulos públicos do país e garante que continuará a intervir. No entanto, a partir da última sexta-feira voltou a subir o preço que Roma tem de pagar pelas suas dívidas excessivas.
A taxa adicional de risco – ou il spread, difamado como invenção alemã por Berlusconi, na sua campanha eleitoral – é a dura realidade. Dentro do curto prazo, os juros poderão esmagar a Itália. A crise está apenas adormecida, não superada, de modo algum.
Se a situação voltar a piorar na Itália, também o restante do sul da Europa vai sofrer. No fim de contas, a crise pode novamente alastrar-se por toda a zona do euro, e aí os países do norte teriam que disponibilizar mais verbas e garantias para estabilizar a Itália.
Eleições antecipadas
Em novembro de 2011, os chefes de Estado e de governo da UE conseguiram expulsar do cargo o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi, num momento em que o seu país se dirigia vertiginosamente para o abismo político-financeiro. Porém, mesmo essa intervenção maciça pouco adiantou: Berlusconi prossegue manipulando os fios. A situação na Itália só melhorou ligeiramente. Em Bruxelas, o clima é de perplexidade.
Por isso, nos últimos dias, políticos europeus tentaram por todos os meios demover os protagonistas na Itália de se afundarem numa nova crise de governo. Tarde demais: a crise é um facto, e terminará em eleições antecipadas, dentro de alguns meses.
Até lá, o ancião presidente Giorgio Napolitano deve voltar a instaurar um governo de tecnocratas, como último recurso capaz de conter o alastramento do desastre italiano pelos outros Estados da união monetária. A experiência também mostra, porém, que um governo tecnocrata não costuma durar mais de um ano.
"Cavaliere" volta a atacar
Na Itália, 3 partidos inconciliáveis atualmente confrontam-se: os socialistas, os apóstolos de Berlusconi e os apoiantes do negativista radical Beppe Grillo. Está totalmente em aberto de que forma se comportarão agora os grillini, os frustrados eleitores dos votos de protesto. Grillo predissera repetidamente que o sistema italiano iria sufocar-se em si mesmo, antes que nascesse algo de novo. Talvez ele tenha razão.
Entretanto, a facão em torno de Berlusconi é mais forte do que se pensa, fora da Itália. Apesar de todos os escândalos e gafes do "Cavaliere", quase 1/3 dos eleitores optou pelo PdL. E o morto-vivo político pretende voltar a fundar o seu antigo partido, o Força Itália, para, no próximo pleito, voltar a ser chefe de governo.
Em nome dos interesses da Itália e da Europa, só se pode torcer para que o plano de Berlusconi não vingue. No entanto, o país só estará apto a ser governado se o eurocético Beppe Grillo se movimentar, ou se a ala real-política dos grillini desertar para a esquerda.
recomendo a todos os que gostam de "ver" com outros olhos que se ponham na pele dum alemão/sueco/finlndes....e olhem para tanta irresponsabilidade em (Italia, Grecia, Espanha..). è corrupção á tonelada; incumprimento atras de incumprimento, greve atras de greve; protesto atras de protesto, regime de excpeção que se vai estendando cada dia para noxas classes; avaliação?mas que bicho é que vos mordeu! claro que somos todos excelentes!! um amigo meu alemao ao passar em frente a parai de Carcavelos perguntou-me o que eram todos aqueles autocarros com emblemas dos municpios.Sóperguntou 0 mas voces não estao num sistema de resgate? eu na Alemanha nunca me pagaram a ida a praia
ResponderEliminarA gente até gostava de se por na pele de qualquer cidadão de um país rico (em dinheiro), se nos dessem as mesmas oportunidades e direitos, porque há uma coisa em comum: o trabalho. Por muito que venham com a treta da produtividade, que quase só tem a ver com os empresários e não tanto com os trabalhadores e assim sendo, por que ganham eles mais e tem mais direitos e por cá há tantos milhares a ganhar (trabalhando) abaixo do nível de pobreza...
Eliminarse Estamos numa União, é como se estivéssemos num mesmos país, com desigualdades gritantes. Se a união bancária é possível, por que a união em todas as áreas não há de ser?