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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Dia Mundial do Idoso, da Depressão e da Música…

A proclamação foi oficializada a 1 de outubro de 1998 pela ONU, com o objetivo do “reconhecimento do envelhecimento demográfico da humanidade, com vista à criação de compromissos que conduzam ao amadurecimento de atitudes e potencialidades em empreendimentos sociais, económicos, cultural e espirituais, que criem condições para a paz e o desenvolvimento no próximo século (…) e sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e a necessidade de proteger e cuidar a população mais idosa”.
Segundo Kofi Annan, secretário-geral da ONU de 1997 a 2007, “com o passar dos anos, as árvores tornam-se mais fortes e os rios mais largos. Com a idade, as pessoas adquirem uma profundidade e amplitude sem medidas, de experiência e sabedoria. É por isso que as Pessoas Idosas devem ser, não só respeitadas e reverenciadas, mas também incluídas como rico recurso que em si mesmo, são para a sociedade”.
A organização Médicos do Mundo alerta para a situação económica frágil dos idosos, que são obrigados a escolher entre a toma dos medicamentos ou fazer uma refeição. Os “cortes significativos nas pensões e no Complemento Solidário para Idosos” são a razão deste novo cenário de pobreza que afeta este grupo etário.
Mais de 6.000 idosos perderam o Complemento Solidário em agosto de 2013 relativamente ao mesmo período do ano passado.
Apesar da queda homóloga, os dados do Instituto da Segurança Social mostram que houve uma subida do número de beneficiários do Complemento Solidário para Idosos em termos mensais. De julho para agosto, o número de idosos beneficiários desta prestação subiu para 225.811, mais 584 face ao mês anterior.
Assinala-se esta terça-feira o Dia Mundial da Depressão.
Os dados mais recentes que permitem traçar o retrato nacional são estes: 674 suicídios confirmados até agosto e aumento do consumo de antidepressivos.
À primeira vista, o número de suicídios confirmados pelo Instituto Nacional de Medicina Legal mantém a tendência do ano passado. Em 2012, tinham sido 1.057 casos, o que dá uma média de 88 mortes por mês. A média mensal de 2013 está nas 84 mortes, sendo que os dias de menor luminosidade, fator associado pelos especialistas ao aumento dos sentimentos de angústia e desesperança, mal chegaram. Números que estão longe de reproduzir fielmente o que se passa. Nem todos os suicídios são reportados, muitos corpos não chegam a ser autopsiados (para isso acontecer tem de haver requisição da parte do Ministério Público). E por detrás do mistério das mortes por causa indeterminada - 232 casos até agosto deste ano - pode estar também o suicídio.
Por coincidência, hoje celebra-se cumulativamente: o Dia Mundial do Idoso, o Dia Mundial da Depressão e o Dia Mundial da Música.
Apesar de os idosos “beneficiarem” apenas de 13 anos de chamadas de atenção para o problema demográfico e os problemas inerentes ao envelhecimento e à necessidade crescente de proteção e cuidados com esta faixa da população, a prática não mostra grandes progressos estruturais, mesmo nos países mais ricos e mais “civilizados”, havendo antes um cuidado crescente por parte do 3.º setor ou sociedade civil. E não é por acaso que, apesar de o transtorno da depressão não ter fronteiras apenas nesta faixa etária, tem aumentado os casos com consequências nefastas que levam ao suicídio, para não falar no aumento de mortes solitárias de idosos, exponenciadas pela solidão.
As condições económico-financeiras que se vivem em Portugal e as medidas “salvadoras” que nos são impostas e postas em prática com base em pressupostos objetivamente ideológicos, que não tem qualquer respeito pelas consequências sociais, também neste segmento demográfico, não se integram nas preocupações que o Dia Mundial quer relevar, antes pelo contrário…
E tendo em conta que hoje também se comemora o Dia Mundial da Música, só serve, nas circunstâncias, para concluirmos que “isto” dos “dias mundiais” só servem para nos darem música, por gente que não percebe nada de solfejo…
Tudo por causa da recessão, que já deu origem à “Grande Depressão”, que parece estar de volta e esperamos que não seja a “Maior Depressão”…
Neurastemia

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim Avé-Maria!
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza…

O vento desgrenhado chora e reza
Por alma dos que estão nas agonias!
E flocos de neve, aves brancas, frias,
Batem asas pela Natureza…

Chuva… tenho tristeza! Mas porquê?!
Vento… tenho saudades! Mas de quê?!
Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso!!...

Florbela Espanca, in “Livro de Mágoas”

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