Pela primeira vez em 4 anos, os dirigentes europeus vão de férias sem o medo de, no regresso, encontrarem a zona euro de rastos. Mas, nos próximos meses, uma nova série de realidades políticas, sociais e financeiras irá, mais uma vez, pôr à prova as capacidades da UE em matéria de gestão da crise.
Um mês antes das férias anuais de agosto, os dirigentes da Europa gostariam sem dúvida de, pela primeira vez em 4 anos, poderem apreciar o sol sem recearem que todo o tipo de coisas terríveis aconteça na zona euro. Os acontecimentos da última semana deixam margem para algum otimismo.
Depois de, na semana passada, a demissão do ministro das Finanças ter feito eclodir uma crise em Portugal, os dirigentes daquele país demoraram apenas alguns dias a conseguir controlar a situação e acalmar os mercados financeiros. No caso da Grécia, que, tal como Portugal, sobrevive através de meios de suporte de vida internacionais, os credores estão a encontrar maneira de continuar a canalizar fundos de emergência para Atenas, como contrapartida de reformas reconhecidamente incompletas.
Numa frente mais ampla, a adesão da Croácia à UE, a decisão de iniciar negociações de adesão com a Sérvia e a aprovação do pedido da Letónia de entrada na zona euro mostraram que a unidade europeia continua a ter atrativos. Por último, o mais recente índice dos gestores de compras, que avalia as perspetivas das empresas privadas, revela o maior dinamismo desde março de 2012. A Europa deveria conseguir sair da recessão no 2.º semestre deste ano.
Crise a entrar numa fase diferente
Estes indícios são encorajadores, mas não constituem uma prova real de que a crise esteja em vias de desaparecer: está apenas a entrar numa fase diferente. Os próximos 12 meses irão projetar novos desafios políticos, sociais e relativos aos mercados financeiros, que vão mais uma vez pôr à prova as capacidades da Europa em matéria de gestão da crise.
Em primeiro lugar, qualquer eventual recuperação verificar-se-á numa situação em que vigoram condições de crédito desiguais. As empresas italianas, portuguesas e espanholas, privadas de financiamento a custo razoável, continuam em desvantagem face às empresas concorrentes da Áustria e da Alemanha. Esta situação põe seriamente em causa as vantagens que seriam de esperar de uma moeda única e torna impossível que o setor privado venha a reduzir o desemprego em massa no Sul da Europa.
Em paralelo, o quadro conceptual da luta da Europa contra a crise – dinheiro para os pecadores em troca de sofrimento, autocrítica e promessas de reformas honestas – manter-se-á inalterado. Neste aspeto, não é muito importante, se das eleições de 22 de setembro, na Alemanha, irá sair um governo de centro-direita, de centro-esquerda ou uma grande coligação: nenhum dos principais partidos mostra qualquer desejo de reequilibrar a economia da zona euro, utilizando o excedente da balança corrente alemão para salvar a Europa do Sul da recessão económica.
Clima político hostil
O ideal de unidade poderá ficar sujeito a pressões em maio, quando das eleições para o Parlamento Europeu, que abrirão caminho para a escolha dos substitutos de José Manuel Durão Barroso, no cargo de presidente da Comissão Europeia, e de Herman Van Rompuy, no de presidente do Conselho Europeu, o clube dos dirigentes nacionais. É de esperar um aumento do apoio aos partidos populistas, antiordem estabelecida e antiUE.
Num futuro previsível, viver-se-á um clima político hostil àqueles que defendem iniciativas de integração ambiciosas, como a mutualização da dívida ou a união bancária, incluindo um seguro de depósito comum. Esse clima foi destacado no mês passado, numa declaração holandesa, que dizia que a era da “união cada vez mais estreita” em todas as áreas políticas acabara. A fragilidade do sentido de finalidade comum transparece também na linguagem utilizada, nas últimas semanas, nos ataques recíprocos entre José Manuel Durão Barroso e o Governo francês.
Sentido de esforço coletivo
São mais do que meros indícios. Para que aquilo que se configura como uma nova ronda de apoio financeiro aos países resgatados possa ser aprovado, vai ser preciso um forte sentido de esforço coletivo. Vejam-se os planos de resgate de 3 anos para a Irlanda e Portugal, que terminarão, respetivamente, em dezembro deste ano e em junho de 2014. Os dirigentes europeus tiveram esperança de que estes fossem concluídos a tempo, numa demonstração impecável de gestão da crise. Mas o grande esforço da Irlanda para sair da recessão indica que o regresso progressivo aos mercados de capital privados não está assegurado.
No que se refere a Portugal, a crise governamental expôs os limites da aceitação política e pública da austeridade. A saída do resgate, sem mais ajuda, é improvável, uma vez que a dívida pública caminha para os 130% do PIB, que não se encontra à vista um crescimento económico substancial e que quase 1/5 dos trabalhadores está no desemprego. Entretanto, poucos especialistas consideram que a Grécia possa evitar uma nova reestruturação da dívida.
Desde o 1.º resgate da Grécia, em maio de 2010, as condições políticas nos países credores tornaram-se crescentemente adversas à ajuda aos devedores. No entanto, a paciência dos países devedores face ao sofrimento está a chegar ao fim. O ponto final da crise da zona euro sairá desta confrontação funesta.
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