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domingo, 14 de julho de 2013

A globalização passa sempre e só pela indiferença!

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Antes de viajar a Lampedusa, o Papa Francisco disse que queria uma receção discreta – a sua primeira viagem oficial fora do Vaticano deveria ser coerente com as palavras que vem pregando nestes primeiros meses de pontificado. Mas, ao desembarcar na ilha italiana, provocou exatamente o contrário – um alvoroço de organizações de ajuda humanitária, imprensa e refugiados.
Francisco chegou a Lampedusa pela manhã e, depois de rezar por alguns minutos, lançou ao mar uma coroa com flores brancas e amarelas – uma homenagem aos migrantes que morreram na travessia do Mediterrâneo. Nas suas primeiras declarações, criticou a "globalização da indiferença”.
"Rezo por vocês e também pelos que não estão aqui", disse o Papa, que cumprimentou um grupo de imigrantes ilegais – cristãos e muçulmanos – que chegaram nos últimos dias em barcos de refugiados à ilha. "A ilusão do insignificante leva-nos à indiferença em relação aos outos, leva-nos à globalização da indiferença."
Com a sua primeira viagem pastoral fora de Roma, o Papa Francisco colocou o dedo na ferida. Para o padre Frido Pflüger, diretor da sucursal alemã do Serviço Jesuíta de Refugiados (SJR), há um "forte apelo" aos países do norte da Europa na visita do pontífice a Lampedusa. "Eles devem ver que têm obrigações frente aos refugiados. E que não podem dizer simplesmente: ‘nós empurramos o problema para a fronteira e pronto'", disse Pflüger, que vê em Lampedusa o símbolo das tensões entre o Sul pobre e o Norte rico. "Pessoas que não aguentam mais a ditadura e a violência fogem para cá, pessoas que anseiam por uma vida em paz, segurança e dignidade."
O Serviço Jesuíta de Refugiados critica há tempos a política migratória da União Europeia. Um relatório recente, apontou que as chances de os requerentes de abrigo encontrarem proteção na Europa pioraram e retardaram significativamente através das normas de competência intergovernamentais "Dublin II".
O relatório baseou-se em entrevistas com 257 requerentes de asilo, afetados diretamente por esse processo, em 9 países-membros da UE. Muitos cidadãos do sul da Europa veem no chamado Regulamento Dublin II uma divisão desigual das incumbências, já que atribui a obrigação de lidar com os pedidos apenas aos países de chegada. Dessa forma, da Grécia à Espanha, os políticos justificam a extradição dos refugiados em processos rápidos.
Uma decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos contra a Itália, no ano passado, proíbe que os barcos dos refugiados sejam reenviados pela Guarda Costeira para países instáveis como a Líbia. "Falamos sempre de forma tão leviana sobre migrantes económicos, como se alguém viesse para a Europa apenas devido a uma vida melhor", diz Pflüger, "mas, para a maioria, trata-se de uma questão de sobrevivência."
Solidariedade católica com refugiados
Günter Burghardt, diretor da ONG alemã Pro Asyl, avaliou a visita do Papa a Lampedusa como um "importante sinal político". Segundo ele, a Europa estaria a fechar-se aos refugiados. No ano passado, milhares deles teriam morrido no mar e apenas um número relativamente pequeno teria chegado à Europa.
"A realidade é que ainda estamos a quilómetros de distância de um direito de asilo na Europa, no qual todos os Estados assumiriam a responsabilidade pelo acolhimento de refugiados. O responsável ainda é o país que permite a entrada do refugiado", diz Burghardt.
Para ele, com a sua viagem, o Papa Francisco coloca apenas uma nova ênfase na política de refugiados da Igreja Católica: "Nós constatamos que em todos os setores da Igreja Católica há uma grande solidariedade com os refugiados. Isso aplica-se tanto às paróquias na Alemanha ou noutros países, como, a nível nacional, à Conferência dos Bispos da Alemanha, que se enpenha pelos refugiados no país. E aplica-se também ao Vaticano, na minha opinião, quase independentemente da questão de quem seja o Papa."
Oliver Müller, diretor da organização de ajuda humanitária Caritas Internacional, diz que é difícil falar de uma política de refugiados do Vaticano. "Eu não posso ver isso". De qualquer forma, prossegue, existe uma tradição de conselhos escritos, de publicações Papais, como também de diferentes conferências episcopais, que se tinham manifestado sobre o assunto e que já lembraram aos respetivos interlocutores ou aos governos nacionais as suas obrigações éticas.
O diretor da Caritas disse que "isso parece-me ser muito consistente: a Igreja e as organizações católicas sempre foram uma voz de advertência, mesmo quando encontram pouca ressonância, na luta pelos direitos dos refugiados." O Papa Francisco deixou claro, disse Müller, que a construção de muros e portões não constitui a solução dos problemas dos refugiados mundiais.
Antes do Papa Francisco, Bento XVI já tinha dado atenção ao sofrimento dos refugiados. Em mensagem por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado em 2012, escreveu: "Os refugiados, que pedem asilo e que fugiram da perseguição, violência e situações de risco de vida, precisam de nossa compreensão e acolhimento, do respeito por sua dignidade e direitos."
O Papa Bento XVI tinha exigido aos políticos que fossem responsáveis "pela implantação concreta da solidariedade", também através de estruturas adequadas de acolhimento e planos de reassentamento."Isso inclui também a ajuda mútua entre as regiões sofredoras e aqueles, que já acolhem há anos pessoas refugiadas, como também uma maior responsabilidade por parte dos Estados”, disse Bento XVI.
Para conhecer o drama e entender a mensagem do Papa Francisco:

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