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terça-feira, 26 de março de 2013

Mais uma onda que lixou mais um mexilhão…

“Basta ligar para a Angela”
Chipre e a troika chegaram a acordo na madrugada de segunda-feira sobre o plano de ajuda de €10 mil milhões que deverá permitir evitar a bancarrota da ilha e a sua saída da zona euro.
O plano prevê, entre outras medidas, a taxação de ações, obrigações e depósitos bancários da ilha, o que deverá render €4,2 mil milhões ao Estado, e a reestruturação do setor bancário cipriota: os depósitos superiores a €100 mil do Bank of Cyprus, o maior banco do país, que tem muitos depositantes russos, sofreram um corte de 30%.
Quanto ao banco Laiki, o segundo do país, deverá pura e simplesmente fechar. “Os bancos deverão abrir na terça-feira de manhã, mas será imposto um limite aos levantamentos, para evitar um ‘bank run’, uma corrida aos levantamentos”, explica o jornal “Politis”.
O novo plano deverá ser apresentado ao parlamento cipriota. No entanto, será aprovado pelos parlamentos de vários países da zona euro, entre os quais a Alemanha.
Numa carta aberta aos seus compatriotas, um académico cipriota apelou a estes últimos que fossem patriotas e que arregaçassem as mangas para resgatar eles próprios o sistema bancário e virar o mais rapidamente possível a página do plano de ajuda negociado a 25 de março em Bruxelas.
Sinto, agora mais do que nunca, a necessidade de escrever um pouco para expressar os meus sentimentos, para tentar recuperar a dignidade deste povo, destruída pela imposição de medidas inadmissíveis pelos nossos parceiros da União Europeia.
Hoje, milhares de pessoas acordaram e, em vez de se preocuparem com as suas tarefas domésticas, sentiram um enorme vazio porque o seu país, Chipre, deixou de existir. A nossa ilha desapareceu algumas semanas antes da Páscoa, no início da Quaresma, ao aceitar as exigências da troika. Sinto desgosto, vergonha e desilusão. O que é feito do nosso orgulho, da nossa dignidade e da nossa força de oposição?
Na verdade, somos os principais culpados pela situação em que o nosso país se encontra. Somos responsáveis por toda esta confusão, porque entregámos a gestão dos nossos problemas à troika e aos tecnocratas do Eurogrupo. A destruição do sistema bancário vai fazer desaparecer o nosso Estado. As pessoas vão ficar sem emprego e todos os sacrifícios que fizeram para terem uma vida melhor terão sido em vão. As suas reformas terão o mesmo destino do que os depósitos, sendo taxadas pelos nossos “amigos” europeus. Com amigos destes, quem precisa de inimigos?
Alma helénica a ferver
Que futuro têm estes empregados que ficam sem emprego e cujo salário é feito refém pelas dívidas. A maioria receberá agradecimentos sem qualquer indemnização. O que acontecerá aos bancos? São muitas as perguntas sem resposta. Estamos a ficar sem forças, cansados de esperar que outros decidam por nós o nosso futuro.
Quero por isso, através desta carta, dirigir-me aos meus compatriotas, às pessoas simples, e pedir-lhes que participem neste objetivo de resgatar o nosso sistema bancário para conseguir a saída da troika e redefinir os nossos laços de solidariedade. Chegou a hora de manifestarmos o nosso patriotismo. Devemos mostrar que a alma helénica não se submete facilmente às exigências estrangeiras. Temos a alma a ferver e os punhos fechados.
Já andamos à procura de responsáveis e tenho a certeza que os encontraremos. Nestes tempos cruciais, devemos unir-nos, ajudar o nosso país e erguer-nos contra o inimigo. Como se estivéssemos novamente em guerra, sim. Acreditem que o que estamos atualmente a viver não deixa de ser uma guerra. Os nossos compatriotas que emigraram também nos podem ajudar através de financiamentos. É preciso ajudar o nosso Estado a levantar-se. Porque isto é apenas o início de um longo e penoso caminho. Paciência e coragem.
Comentário - Adeus ao paraíso fiscal de Chipre
“Em resumo”, escreve o Cyprus Mail pouco depois do acordo entre a troika e o Governo de Nicósia sobre o plano de resgate de €10 mil milhões:
A troika potencialmente vaporizou o setor financeiro de Chipre e fragilizou o seu estatuto de paraíso fiscal, um ato deliberado, com o objetivo de controlar as margens mais selvagens dos fluxos de capital para dentro e para fora da Europa. Mas também se destina a escorar a base fiscal dos Estados-membros da UE que estão sob pressão dos seus cidadãos para manterem os seus sistemas de previdência e para colocarem um limite a futuras subidas de impostos […]. O setor financeiro está asfixiado e o estatuto de paraíso financeiro de Chipre ficou rápida e seriamente comprometido. Não por causa da subida de impostos sobre as empresas mas porque, a partir de agora, toda a gente sabe que se se quer esconder dinheiro e pagar menos impostos, Chipre é o último sítio onde fazer tal coisa. Quem quer esconder dinheiro jamais voltará a colocá-lo em Chipre. […] A troika está agora a administrar o choque do sistema mas sem tentar sugerir como poderá ser trilhado um novo caminho de desenvolvimento económico a partir daqui.

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