O ano de 2011 foi tão mau para a Europa que 2012 só pode ser melhor. Mas depois de ter sobrevivido a uma crise sem precedentes, são as tensões sociais por ela provocadas que ameaçam a União, escreve Jacek Pawlicki, editorialista do Gazeta Wyborcza.
O ano passado acabou com a maior crise da história da União e o isolamento deliberado de um dos seus membros, o Reino Unido, que se opôs a qualquer alteração dos tratados da UE com o objetivo de reforçarem a disciplina orçamental.
Em novembro de 2011, os responsáveis políticos e os especialistas evocaram abertamente, pela primeira vez, a possibilidade de um dos seus membros, a Grécia, – cujo resgate devorou milhões de euros e quase toda a energia da zona euro – sair da zona euro. Sem contar os desentendimentos com a Itália que, felizmente, se saldaram num happy end [final feliz], com a saída de Silvio Berlusconi, substituído como primeiro-ministro pelo tecnocrata Mario Monti.
Junto dos nossos vizinhos do Sul, as revoluções árabes derrubaram os regimes ditatoriais sem trazerem, no entanto, até agora, mais democracia à Líbia, ao Egito ou à Tunísia. Apesar de a União Europeia não ter sido invadida, como se temia, por uma vaga de refugiados, o problema da imigração continua presente numa Europa que tem muito pouco a oferecer a estas democracias emergentes.
Do mesmo modo, está tudo por cumprir no que diz respeito ao acordo de associação entre a UE e a Ucrânia, cuja assinatura, inicialmente prevista para a cimeira UE-Ucrânia de Kiev, de dezembro passado, foi suspensa por causa da prisão da antiga primeira-ministra Ioulia Timochenko. No que diz respeito à Bielorrússia, a União não tem qualquer influência junto do presidente Alexandre Lukachenko, que condena constantemente os seus opositores.
Quanto a estes dois países, tanto a União Europeia como a Polónia, especialmente empenhada numa reaproximação aos seus vizinhos orientais, falharam redondamente. A Europa tem falta de visão para sair do impasse, enquanto a Rússia, ocupada a reconstruir o seu império, não perde tempo.
Um grande Schengen e uma pequena União
Na primavera assistiremos, muito provavelmente, ao alargamento do espaço Schengen. Mesmo antes do Natal, a Holanda retirou o seu veto contra o alargamento da zona de livre circulação à Bulgária e à Roménia. Assim, e desde que os próximos dois relatórios da Comissão Europeia sobre o estado do sistema judiciário e as reformas em matéria de política interna sejam positivos, estes dois países entrarão no espaço Schengen. Sófia e Bucareste, que são membros da UE desde 2007, devem, por isso, multiplicar os seus esforços.
Quanto à zona euro, vê nascer na sua esteira uma união financeira mais estreita e, apesar dos responsáveis políticos negarem veementemente a possibilidade de um colapso da Europa, tudo pode acontecer.
Os primeiros meses deste novo ano serão dedicados à procura de dinheiro para alimentar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e a negociar um novo acordo intergovernamental. O grupo de trabalho que redige os termos do pacto financeiro conta com a presença da Polónia (que continua fora do euro, mas quer fazer parte deste pacto) e o reino Unido (que boicotou o acordo). A visão de toda esta gente sentada à mesma mesa traz mais otimismo.
Da Croácia, que a 22 de janeiro realiza um referendo sobre a adesão à União, também chegam boas notícias. Apesar do ambiente inquieto, por causa da situação económica, a maioria dos croatas dirá sim à Europa e a Croácia será, em julho de 2013, o vigésimo oitavo país da UE. A União ganhará, assim, mais um membro vindo dos Balcãs (o buraco negro geopolítico que continua a assombrá-la).
Quanto vamos embolsar?
A luta em torno dos fundos de coesão vai travar-se durante as negociações orçamentais que, depois da fase de aquecimento durante a presidência polaca da UE vão agora começar. Não é de excluir que logo desde o início do ano os contribuintes líquidos do orçamento comunitário, a saber, o Reino Unido, a Alemanha, a França, a Suécia, a Finlândia, a Holanda e talvez também outros países-membros, exijam uma redução substancial da sua contribuição.
Mas também aqui podemos congratular-nos, porque as negociações orçamentais estarão nas mãos dos dinamarqueses, que presidem à União a partir de janeiro. É a sétima presidência da Dinamarca, depois da de 2002, durante a qual os dinamarqueses finalizaram as negociações de adesão entre a UE e os dez países da Europa central e oriental. Boa fé e experiência são coisas que não lhes falta. Além do mais, enquanto escandinavos, são conhecidos pela sua abordagem mais pragmática à política.
Infelizmente, o pragmatismo dinamarquês pode entrar em conflito com a abordagem francesa à negociação orçamental. Especialmente em abril e maio, altura em que Nicolas Sarkozy estará a lutar por um segundo mandato e tudo fará para convencer os seus compatriotas, cada vez mais eurocéticos, de que defende de corpo e alma os interesses franceses na UE.
O que devemos ainda esperar?
Provavelmente há imensos acontecimentos que, hoje, são impossíveis de prever, tal como no final de 2010 não podíamos imaginar, nem sequer em sonhos, que em agosto de 2011, hordas de britânicos iriam, durante vários dias, pilhar lojas de Londres.
É justamente a crescente tensão social e a frustração da geração jovem que mais ameaçam a estabilidade interna da Europa. Se a isto somarmos uma onda crescente de populismo em França, na Holanda, na Finlândia e na Hungria, teremos uma mistura explosiva de frustração social e de cinismo político, ainda para mais alimentados pela fraqueza da Europa.
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