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sábado, 7 de janeiro de 2012

Indignados, porque sim? Acomodados, por que não?

"A rebeldia nos jovens não é um crime. Pelo contrário: é o fogo da alma que se recusa a conformar-se, que está insatisfeito com o status quo, que proclama querer mudar o mundo e está frustrado por não saber como".
Controlar ou emancipar a juventude é um dos dilemas de nossos tempos. Como escreveu Moisés Mendes, no artigo “Esses jovens”: “O jovem com vontades é uma invenção recente da humanidade. E o jovem capaz de influenciar os outros com suas vontades é uma invenção com pouco mais de 40 anos”. Ao longo dos tempos, os jovens resistem e mantem acesa a ideia de mudar o mundo. Desejam, profundamente, que ideais e mundo sejam uma nota só. Os seus sonhos projetam ideias em teimosia. Eles têm consciência que precisam de controlar o seu “fogo ardente”, mas desejariam que este controlo fosse deles, não daqueles que representam qualquer autoridade (pais, professores, psicólogos, legisladores, juízes, polícia). Rejeitam serem pensados pelos outros.
Os jovens sempre gostaram de desafiar os adultos, embora nunca tenham dispensado o apoio sincero e franco, a escuta compreensiva e a orientação bem intencionada dos mais velhos. A novidade de agora é que se apoderaram, como antes nunca visto na história, de uma poderosa ferramenta de comunicação e interação: a internet e as redes sociais. Parece, no entanto, que a sua fragilidade está no facto de ainda não terem vislumbrado uma filosofia capaz de dar envergadura para sustentar as causas da sua rebeldia. Faltam-lhes frases, bordões; falta-lhes filosofia.
O inconformismo que caracteriza os jovens é a força renovadora que move o mundo, mas também algo que incomoda os já acomodados. Acomodados, despreparados ou desconhecendo a realidade do universo juvenil, muitos desqualificam a juventude, vendo-a como um incómodo ou como uma fase de passageira rebeldia. Ao invés de emancipar, desejam controlar, dominar, moralizar. A rebeldia é o sinal de que a juventude continua sadia, cumprindo o seu papel de provocadora de mudanças. A rebeldia, aos olhos da filosofia, é uma atitude de quem quer ser sujeito de sua história, não seu coadjuvante. A filosofia, como o inconformismo, motiva cada um na busca de seus próprios caminhos. Se os jovens mantiverem senso de direção, terão o poder de mover mundos.
O filósofo Sócrates, na Grécia Antiga, acreditando na emancipação humana, desenvolveu a maiêutica. Concebeu o papel dos sábios a um trabalho de parteira (que ajudam a dar a luz). Ele acreditava que a verdade e o conhecimento estão com cada um e cada uma de nós, e cada indivíduo pode descobrir as razões e verdades que motivam o seu viver. Não foi por acaso, considerado um incómodo para Atenas. Uma das razões da sua condenação à morte foi insuflar a juventude a pensar por sua conta.
O facto é que os jovens de hoje vivem o seu tempo a partir das suas percepções, vivências e leituras. Seremos capazes de compreendê-los no nosso momento histórico? Teremos disposição para o diálogo e a escuta, buscando entender os desejos, sonhos, medos e angústias que os movem?
Neste mês (Novembro) em que comemoramos o dia mundial da Filosofia vale a pena pensar que filosofia e rebeldia desencadeiam atitudes altivas e saudáveis, próprias daqueles que decidem pensar. Jovens e adultos, no entanto, precisam discernir que causas valem uma vida. A violência e a agressão, em forma de rebeldia, não podem ser toleradas. Mas, acima de tudo, a opção é da sociedade: apostar e empenhar-se na emancipação e inclusão da juventude ou considerá-la como constante ameaça contra a ordem social. Cada opção, com seu preço.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos

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