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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O campeonato já era nosso! Agora vamos para o bi...

Portugal é o único país, entre os 6 mais afectados pela crise na UE, onde o esforço exigido pelas medidas de austeridade pesou mais sobre os mais pobres do que os mais ricos. A conclusão é de um estudo da Comissão Europeia, que analisa as medidas tomadas entre 2009 e Junho de 2011, quando o país era governado por José Sócrates.
Bruxelas conclui que, entre a Grécia, Espanha, Irlanda, Reino Unido e Estónia, Portugal “é o único país com uma distribuição claramente recessiva”, ou seja, onde os pobres pagaram proporcionalmente mais que os ricos para o esforço de consolidação das contas públicas.
As medidas de austeridade provocaram um corte entre 4,5% e 6% do rendimento disponível para os 20% mais pobres e 9% no caso de famílias com filhos. Já os 20% mais ricos, “apenas” sentiram perdas até 3% - quer tenham filhos ou não.
A CE aponta o dedo ao corte nas pensões e nas prestações sociais, como os principais motivos para este efeito.
Em contraponto, a Grécia foi o país mais “progressivo” - com as medidas a incluírem o aumento de IRS para os mais ricos (e redução para os mais pobres) e a perda de rendimento a ser mais sentida no escalão mais elevado. Já a Estónia e a Espanha aplicaram receitas “neutras” neste âmbito, ao passo que a Irlanda e o Reino Unido incutiram medidas de “progressividade suave”. A Irlanda é, ainda, o país, dentro deste grupo de 6, com menos pessoas em risco de pobreza.
Portugal acentuou, desta forma, aquela que já era a sua tendência: o mais desigual da União Europeia, com o risco de pobreza a superar os 20%.
1 - Portugal é o único país em que os mais pobres pagaram mais para a dívida, do que os mais ricos;
2 - A Grécia aumentou o IRS para os mais ricos e reduziu-o para os mais pobres;
3 - A Estónia e a Espanha distribuíram a austeridade com mais equidade e
4 - A Irlanda e o Reino Unido implementaram medidas penalizadoras, mas progressivamente “suaves”.
IMPORTANTE - O estudo que comprova esta realidade diz respeito ao período entre 2009 e Junho de 2011, quando o país era governado por José Sócrates.
Por mera coincidência, o retrato do miserabilismo do nosso país e do miserabilismo das medidas parou em Junho, antes das eleições e da atividade do atual governo e por isso deveria ter sido uma boa base de trabalho e planificação para que este tentasse remediar tanta injustiça, até para provar o miserabilismo e incompetência da figura maior do anterior executivo…
Mas mesmo sem estudos a partir de Julho, a realidade que vamos conhecendo todos os dias (e já lá vão 6 meses) mostra-nos que Sócrates era um aprendiz de feiticeiro quando comparado com os feiticeiros que nos saíram na rifa, tendo em consideração as receitas implementadas desde então, que foram e continuarão a ser de “caixão à cova”.
Não quero fazer a apologia de Sócrates, que contrariei, ainda estou muito longe de me referir a Salazar, que ainda me cheira a defunto, mas começo a ficar muito perto de relembrar Pinochet e o seu mentor económico, Milton Friedman, que conseguiu os mesmos resultados para os seus concidadãos, terrorismo (físico) de Estado à parte…
Se Portugal até junho já era o país mais desigual da UE, com o risco de pobreza superior a 20%, seguramente, que desde julho mantém o mesmo lugar no ranking, mas, seguramente também que a percentagem da pobreza aumentou, dentro do mesmo critério: “os pobres que paguem a crise!”.
Mas em Portugal há uma variante original, que não sei se consta do estudo da CE, que foi a criação de classes entre os portugueses, com a estigmatização dos Funcionários Públicos e dos Aposentados, que pagarão muito mais do que todos os outros portugueses e virão aumentando o número e a percentagem dos mais pobres.
Para quem quiser pensar de maneira diferente, ou quiser acreditar no milagre tecnocrata/neoliberal do governo de Passos Coelho, basta lembrar que este aplicou medidas muito mais gravosas do que os tecnocratas/neoliberais da troika nos impuseram, sem haver necessidade. Agora, os fanáticos do austeritarismo já falam em renegociação da dívida (prolongar no tempo), para aliviar o cinto (dos mais pobres), porque o deles é sempre a aumentar o número de furos…
Pobres dos nossos ricos? Pobres dos nossos mais pobres!

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