Os números são os números, mas as leituras são tão variadas consoante o sector ou actividade económica: há reconhecida criação de emprego na agricultura e na hotelaria, mas na construção, comércio e na restauração há menos postos de trabalho do que há um ano. A indústria admite que atrás de novas encomendas poderá haver mais emprego.
Agricultura - O presidente da CAP relembra que "no Verão é normal estar a haver mais emprego" no sector primário. Há muitas colheitas de frutos, há preparação e a própria vindima e há "um trabalho muito intenso a fazer nas culturas hortícolas".
Turismo - O director-geral da AHRESP relembra que, no sector, há hoje menos empregos do que há um ano.
Construção - O presidente da AICCOPN, considerou os dados do INE como positivos, mas "Nos últimos 12 meses perdemos 74.000 trabalhadores e nos últimos 6 meses 19.000” e não antevê grandes mudanças durante 2013.
Indústria - Os sectores da indústria tradicional em Portugal como são os casos do têxtil, das actividades ligadas ao metal e o calçado, identificam que há um aumento significativo de encomendas (sobretudo no têxtil e no calçado), que gera uma maior necessidade de recurso à contratação de mão-de-obra para fazer face à procura, ainda assim sem quererem apelidar o momento actual como uma "inversão de ciclo".
Comércio e Serviços - A secretária-geral da CCP considera que o desemprego no sector do comércio voltou a aumentar relativamente ao trimestre anterior, situando-se nos 132.000 desempregados.
São já conhecidos os dados do desemprego relativos ao 2.º trimestre deste ano. A taxa de desemprego foi agora medida, pelo INE, em 16,4%, quando no trimestre anterior estava em 17,7%. Os dados são assim surpreendentes, em parte. Não pela descida face ao primeiro trimestre, mas sobretudo pela sua dimensão.
Francisco Madelino
É sabido que o Banco de Portugal, o próprio Governo e os organismos que compõem a troika atualizaram, recentemente, em ambiente mais negro, as estimativas para o mercado de trabalho português em 2013. A troika e o Governo projetaram, após a 7.ª avaliação, uma taxa de desemprego de 18,2%, contra os 16,4% anteriores. Este último, no OE Retificativo, estimou a redução do emprego, em 2013, de 3,9%, quando no OE inicial previa -1,7%. O Banco de Portugal, por sua vez, há uma semana atrás, previu a mesma descida em 4,8%, quando em 2012 ela foi de 4,2%. Esta tendência, para pior, das projeções entende-se, face à evolução extremamente negativa do PIB. Por isso, há, agora, uma relativa surpresa face à descida de 1,3% da taxa de desemprego entre os 2 primeiros trimestres de 2013, embora, analisados os números com mais pormenor, a surpresa diminua.
Importa referir, porém, que, com estes dados, o desemprego nacional não desceu, mas sim aumentou. A situação está pior. As comparações fazem-se, sabe-se, homologamente, de forma a expurgar a sazonalidade. Face há um ano, há mais 59.000 pessoas desempregadas e a taxa de desemprego subiu 1,4%.
Quando se compara a destruição do emprego (-182.600 postos de trabalho), no último ano, com a diminuição do desemprego, verifica-se que aquela é 3 vezes superior. A destruição de uma parte da economia nacional prossegue a um ritmo elevado e assustador. A explicação da diferença, entre aquelas 2 variáveis, o emprego e o desemprego, está certamente na migração. Assim, prever a taxa de desemprego para 2013 não depende, sobretudo, da evolução da economia nacional, mas incorpora necessariamente os fenómenos emigratórios.
O que os dados comprovam agora, então, é somente que a sazonalidade do Verão regressou de novo, com mais 72.400 empregos face ao trimestre anterior. A redução da inatividade nas mulheres e nos trabalhadores mais idosos, assim como a redução do desemprego no Algarve, provam-na. O IEFP, por sua vez, já apontava, desde Fevereiro, uma sazonalidade mensal igual à de 2011. Esta não se tinha verificado em 2012, em termos líquidos, no contexto dos efeitos imediatos dos contornos da austeridade implementada então, mas regressou em 2013, contudo com níveis de emprego significativamente mais baixos.
Juntar a esta análise, contudo, a evolução das ofertas e das colocações do IEFP, como fez o Sr. Primeiro Ministro, para demonstrar a inversão de ciclo, é precipitado, como diria o Sr. Ministro da Economia, já que houve alterações metodológica na sua contabilização, logo os dados ainda não são comparáveis.
Em síntese, será sempre estranho o dia em que houver crescimento não sazonal do emprego, numa economia que reduza o crescimento. Mais estranho ainda se tornaria este paradoxo quando se sabe que há um lag, não inferior a 2 trimestres, pelo menos, entre o crescimento do PIB e a descida do desemprego. A situação social é essa sim ténue e frágil, e a precisar de acompanhamento e monitorização fortes, enquanto a economia não colocar o crescimento em níveis consolidados e recuperadoras da riqueza nacional antes existente. Pouca euforia precisa-se, portanto, neste contexto macroeconómico.
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