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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

As “Primaveras” quando chegam não são para todos?

Os mais de 500 mortos incluem 202 manifestantes do campo de Rabaa al-Adawiya, no Cairo, e 43 agentes policiais por todo o país, disse fonte oficial do ministério.
ElBaradei deplorou o número de mortos na operação, principalmente porque "isso poderia ter sido evitado".
O secretário de Estado norte-americano,  John Kerry, instou hoje o exército egípcio a organizar eleições e classificou a repressão de hoje como "um grave golpe na reconciliação  e nas esperanças do povo egípcio para uma transição democrática".
O banho de sangue no Egito coloca a diplomacia americana na berlinda, expondo as contradições de um governo que apoiou o golpe de Estado contra Mohamed Mursi, ao mesmo tempo que pede o retorno da democracia.
Diante da crise do seu aliado egípcio, os EUA encontram-se agora numa delicada situação após a deflagração da chamada Primavera Árabe e a queda de Hosni Mubarak, no início de 2011.
Para analistas, o governo americano está há 2 anos e meio entre a Irmandade Muçulmana, do presidente Mursi, e os "anti-islamitas liberais", que apoiaram o Exército. Mursi foi eleito democraticamente em 2012 e acabou destituído do poder e preso pelo exército em julho.
Enquanto a comunidade internacional condenou o massacre nos termos mais duros, os Estados Unidos demoraram a reagir, dando sinais da delicada posição em que se encontra o governo de Barack Obama.
O secretário de Estado John Kerry disse na quarta-feira (14) que "os acontecimentos de hoje (ontem) são deploráveis e vão contra as aspirações egípcias de paz, inclusão e genuína democracia". "O governo interino e os militares — que juntos possuem a prerrogativa do poder nessa confrontação — têm a única responsabilidade de evitar mais violência e oferecer opções construtivas para um processo pacífico e inclusivo em todo o espectro político", completou. "Isso inclui fazer emendas na Constituição e apoiar eleições parlamentares e presidenciais, convocadas pelo próprio governo interino", insistiu Kerry.
Já a Casa Branca condenou "fortemente o uso da violência contra os manifestantes no Egito" e fez um apelo a todas as partes para que "evitem usar a violência e que resolvam as suas diferenças pacificamente". Além disso, exigiu do governo interino que "respeite os direitos humanos básicos, como a liberdade de associação pacífica".
Oficialmente, Washington diz não tomar partido na crise egípcia.
Na Era Mursi, Washington encontrou-se num terreno ambíguo, trabalhando com o regime islamita do "novo Egito" e defendendo a democratização e o desenvolvimento económico do país.
No início de agosto, Kerry pareceu apoiar a queda de Mursi, afirmando que o Exército interveio para "restabelecer a democracia" diante da exigência de "milhões e milhões de pessoas". Depois, o secretário recuou, fazendo um apelo pela recuperação da democracia com a realização de eleições.
Diante do Senado, em abril, Kerry elogiou o papel decisivo dos altos comandos militares egípcios para evitar uma guerra civil após a queda de Mubarak e defendeu também que a ajuda militar destinada ao Cairo foi "o melhor investimento que os Estados Unidos fizeram na região".
"Uma das características mais espantosas do golpe de Estado egípcio (...) é essa concepção universal que os liberais desse país adotaram, que preferem um regime militar a um regime islamita eleito", criticou o especialista James Traun no seu blog, na revista Foreign Policy.
O que se passa hoje no Egito decorre de um processo contestatário popular “de geração espontânea”, que tinha por fim o derrube dos poderes vigentes e a implantação de regimes democráticos (à ocidente), a que se chamou de “Primaveras Árabes”.
No caso, foi deposto o anterior presidente, Mubarak, que foi julgado e quiseram que fosse condenado à morte, um primeiro sinal de conceitos pouco democráticos.
Entretanto realizaram-se eleições dentro das normas da democracia, saindo como vencedor (com 51%) um tal Mohamed Mursi, pertencente à Irmandade Muçulmana, que se sabia ser um “pau de 2 bicos”, mas ganhou.
Durante o exercício do poder, o eleito não se portou de acordo com o que se esperava, como acontece em todas as democracias (ocidentais) e iniciou-se um novo movimento contestatário “popular”, que se traduziu num golpe de Estado militar, que depôs e prendeu o Presidente eleito democraticamente, com a complacência da comunidade (democrática) internacional.
As consequências desta situação ambígua não se fizeram esperar, com a divisão dos egípcios entre os pró e os contra Mursi, que para quem vê de fora e se lembra do objetivo da revolução, se traduz entre os pró e os contra a democracia ou a aceitação dos resultados eleitorais…
Apesar de no ocidente o próprio conceito de democracia vir a degradar-se, a ponto de a transformar num ritual profanado, mentindo e enganando os eleitores, ainda não se chegou à reprimenda direta e golpista, muito menos à violência, apesar dos vários movimentos contestatários emergentes em todo o mundo…
E no meio deste enredo, há muito boa gente que se vê à rasca por ter aprovado as “Primaveras Árabes”, por ter apoiado as democracias exigidas e implementadas, por ter demonstrado desconfiança nos eleitos e por ter condescendido com o golpe militar. Agora reavivam a necessidade de novas eleições, como se a tragédia em que mergulhou o Egito não fosse o resultado da “democracia”…
Pelo que se adivinha, a paz só voltará(?) quando o eleito, maioritariamente, for do agrado dos que ganharem e dos que perderem e responda aos interesses dos “verdadeiros democratas” que manobram o mundo…
Será isto a que se chama a “pós democracia” para a qual nos querem conduzir?
Coitados dos inocentes, que ainda não sabem que tem que aceitar tudo, pacificamente e silenciosos…

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