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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Democracia, tecnocracia, povo, mercados financeiros...

A roda continua a girar. Com as eleições do dia 20 de novembro, a Espanha é o 3º país da UE a mudar de Governo desde o início do mês. E o 6º, após Irlanda, Portugal, Eslováquia, Grécia e Itália, cujo executivo caiu ou renunciou, arrastado pela crise.
Democracia, tecnocracia, povo, mercados financeiros... Estes termos têm vindo a aparecer muitas vezes nos teclados dos colunistas. A forma como George Papandreu e Silvio Berlusconi foram empurrados para a saída e substituídos por especialistas que respondem ao mesmo tipo de perfil – Lucas Papademos e Mario Monti são economistas, que exerceram altas funções no seio da UE e trabalharam para o banco de negócios Goldman Sachs – levanta questões legítimas sobre a governação da Europa e a responsabilidade democrática.
Além dos todo-poderosos mercados financeiros, os dois principais arguidos são o Presidente francês Nicolas Sarkozy e, sobretudo, a chanceler alemã Angela Merkel.  O doravante célebre “Grupo de Frankfurt”, que reúne à volta dos seus dois dirigentes os presidentes de diversas instituições europeias e a diretora do FMI, fomenta uma fantasia de conspiração que visa colocar os países europeus sob uma direção de inspiração alemã e rigorista.
Mas fazemo-nos, por instantes, de advogado do Diabo. Após o acordo de 26 de outubro sobre a dívida grega, o comunicado de um referendo na Grécia destruiu por completo os pequenos progressos feitos para uma resolução da crise, e George Papandreu, apesar das suas competências, foi desacreditado até mesmo perante os seus amigos políticos.
Quanto a Silvio Berlusconi, que prova há anos a sua inaptidão pessoal e política a governar, não houve quem se queixasse por ele ceder o seu lugar a um homem que inspira confiança aos seus parceiros.
Há muito que nos queixamos da falta de um líder na Europa para denunciar o facto de Merkel e Sarkozy terem assumido a responsabilidade de travar a aceleração de uma crise, que todos sabem que coloca em perigo a própria existência da construção europeia.
Assim sendo, essas medidas de urgência não passam de um tapa-buracos. Por um lado, constata-se claramente que a crise continua a propagar-se, passando agora a ameaçar a França e a Áustria, além da Espanha e da Bélgica. Por outro lado, o fosso que separa os 17 países da zona euro dos outros 10 países da UE faz com que se receie uma nova paralisia política da União. Esta última será portanto incapaz de definir as linhas de uma saída da crise e de um projeto político que permita remediar o défice democrático.
Deste ponto de vista, convém estar atento ao confronto crescente entre a Alemanha e o Reino Unido, cujo início se presenciou esta semana. No mesmo dia, em dois discursos, Angela Merkel e David Cameron expressaram duas visões totalmente contraditórias da Europa.
A chanceler pede mais disciplina, coordenação e controlo e mostra-se disposta a ceder partes de soberania nacional. O primeiro-ministro britânico prefere a flexibilidade de uma rede, mas a rigidez de um bloco, e quer recuperar competências em Bruxelas.
Numa União onde os governos não sabem quanto tempo esta irá durar e onde a desconfiança face à Alemanha aumenta, prevê-se que o debate necessário sobre o modelo político seja agitado.
PS – Já depois deste artigo de 18 de Novembro, a Hungria pede "assistência" ao FMI e a Bruxelas e a Comissão Europeia avança três modelos de eurobonds, contra a opinião de Merkozy, mas já sem uma recusa vigorosa, assistindo-se, pouco a pouco, à aceitação de todas as propostas dos partidos da “esquerda radical”, de muitos economistas de renome, incluindo prémios Nobel e académicos de várias faculdades de economia de todo o mundo.
Realmente, a urgência é para ontem!
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2 comentários:

  1. Excelente post. Situação a acompanhar com o máximo de atenção.

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  2. Anabela
    Cada vez menos o que os nossos politiqueiros nos sacam tem qualquer resultado, a não ser o de piorar, como se previa, levando sempre e cada vez mais depressa ao fundo. O que se passa lá fora tem mais impacto cá dentro e a visão da paisagem é mais nítida para quem está de longe...
    A UE e o euro não duram 1 ano.

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