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sábado, 24 de maio de 2014

Verdade ou mentira? Contraditório ou contra-ataque?

A melhor opção para reduzir o sobreendividamento público, diz em exclusivo ao Expresso o autor do best-seller "Capital no século XXI", é um imposto extraordinário progressivo sobre o valor líquido das fortunas acima de 1.000.000 de euros.
Jorge Nascimento Rodrigues
A austeridade é a pior solução para diminuir o excesso de dívida pública, diz o professor francês Thomas Piketty. Ele é autor de "Le Capital au XXI siècle" (editora Seuil, 2013, cerca de 1.000 páginas) cuja tradução em inglês ("Capital in the Twenty-First Century", Harvard University Press, 685 páginas, abril de 2014) se tornou rapidamente líder da lista de best-sellers na Amazon e esgotou nas livrarias norte-americanas. Alguns economistas, como o norte-americano Larry Summers, já o consideram um forte candidato a um Prémio Nobel.
A austeridade implicará décadas de sacrifícios para a maioria da população e só será benéfica para os grandes portefólios detentores de obrigações do Tesouro. O que aconteceu no Reino Unido entre 1810 e 1910 é bem ilustrativo dos malefícios de uma tal opção política por uma austeridade prolongada, sublinha o autor recorrendo a um caso de antologia histórica.  
A melhor opção, diz o fundador da École d'Économie de Paris, é um imposto extraordinário progressivo sobre o valor líquido das fortunas acima de €1 milhão, com uma taxa de 1% entre 1 e 5 milhões e de 2% acima de 5 milhões, aplicado ao longo de um período de tempo como medida fiscal de emergência.
€300 mil milhões por ano
A taxa anual progressiva sobre as fortunas (avaliadas em termos líquidos, insiste o autor para não assustar as classes médias) acima de €1 milhão, poderia abranger, no caso da União Europeia (UE), uma minoria de 2,5% da população adulta e permitir uma arrecadação fiscal anual na ordem de €300 mil milhões, equivalente atualmente a 2% do PIB. Essa taxa deve aplicar-se a todo o tipo de ativos detidos por esses escalões de contribuintes.
Se for politicamente difícil, a sua 2.ª escolha é aumentar a inflação para fazer diminuir o sobreendividamento público, apesar das desvantagens que acarreta.
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Porque queremos (e devemos) acreditar em tudo quanto antes se dizia e constatava sobre o aumento das desigualdades e a concentração de riqueza, que agora se quis provar com uma análise histórica, o resumo da entrevista bastava-nos para mantermos a visão do mundo que nos foi fornecida e não contestada, antes de ser colocada a solução de taxar os mais ricos (e responsáveis) em vez de sacar aos mais pobres (irresponsáveis)…
E por isso, o Financial Times diz que há erros nos dados de Thomas Piketty, pela palavra do seu “editor de Economia, que afirma que erros detetados nos dados do livro "O Capital no século XXI" colocam em causa a tendência para o aumento da desigualdade depois de 1970. A parcela no rendimento por parte dos muito ricos teria permanecido estável nos últimos 30 a 40 anos.
As observações de Chris Giles e de alguns comentadores internacionais alegam alguma similitude entre estas críticas aos dados de Piketty e a crítica no ano passado aos erros de Excel e metodológicos encontrados por uma equipa da Universidade de Massachusetts, Amherst, num artigo de Carmen Reinhart e Ken Rogoff, datado de maio de 2010, sobre a questão do limiar vermelho dos 90% da dívida pública no PIB.”
Para já, uma grande diferença nas consequências: enquanto o Excel de Carmen Reinhart e Ken Rogoff, granjeou defensores e foi aplicado de imediato sobre os países e cidadãos contribuintes. Neste caso, gera-se um contra ataque, sem que seja um contraditótio…
Entretanto, ao contrário de Reinhart e Rogoff, atempadamente, Thomas Piketty vem responder às críticas de Chris Giles, sem analisar caso a caso as críticas que lhe faz, mas desafia o Financial Times a publicar estatísticas e rankings sobre a riqueza, prometendo analisar o material e confessando ficar muito satisfeito se mudar de opinião, concluindo com ironia: "Mantenham-me informado".
E vai mais longe, quando “refere ainda que as estimativas da concentração de riqueza por ele apresentadas pecarão até provavelmente por defeito. Piketty refere no livro uma investigação de Gabriel Zucman, publicada na revista científica "Quarterly Journal of Economics", no ano passado, em que se concluía que uma boa parte da riqueza detida pelo topo não é reportada nas estatísticas nacionais pois se encontra em offshores, parcela que deve representar cerca de 10% do PIB mundial ou 7 a 8% dos ativos líquidos financeiros globais.”
Pois é!
Entretanto, vem-nos à memória aquele apelo inscrito em todas as “alminhas” do nosso país, que diz: “Ó vós que ides passando (ganhando), lembrai-vos de nós que estamos penando”

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