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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A guerra é o tipo perfeito do erro da filosofia…

Com indecisão em relação ao conflito, o presidente americano não só fortaleceu os inimigos e enfraqueceu os apoiantes, como também falhou na sua principal missão como líder.
Michael Knigge
Tomar decisões sobre guerra e paz, sobre vida e morte é requisito principal da candidatura ao cargo de presidente dos Estados Unidos. No 1.º ano do seu mandato, Obama tomou explicitamente para si essa tarefa: "Quando um problema tem uma solução clara, ele não vem parar na minha mesa. A única coisa que eu decido são as questões difíceis", disse o presidente americano.
No entanto, foi justamente isso que Obama não fez no caso da Síria. Desde o início do conflito, em março de 2011, hesitou e titubeou. Foram necessários meses de violência até que Obama se posicionasse e exigisse a renúncia de Assad. Descartou uma intervenção militar e o envio de armas à oposição. Consequências: nenhuma.
Guiado em vez de guiar
Quando um porta-voz do Pentágono, seguido pela então secretária de Estado Hillary Clinton, falou do uso de armas químicas como uma linha vermelha, em meados de 2012, Obama só os acompanhou 9 dias depois.
Apoiado por Hillary, o Pentágono apresentou a Obama, em seguida, planos para o fornecimento de armas aos rebeldes. Ele rejeitou. Consequências: nenhuma.
Quando surgiram os primeiros relatos sobre o emprego de armas químicas, Obama referiu-se a isso como um "game changer", ou seja, como uma mudança de jogo. Depois que a inteligência americana confirmou esse uso, Obama disse que era preciso primeiro descobrir quem foi o responsável. Consequências: nenhuma.
Quando o novo chefe do Pentágono, Chuck Hagel, declarou finalmente que os EUA estariam a avaliar o envio de armas, Obama logo se juntou a ele. Ao mesmo tempo, advertiu que primeiro era necessário "olhar antes de saltar". Consequências: nenhuma.
Sem bússola
Finalmente, em meados de 2013 – de acordo com dados das Nações Unidas mais de 90.000 pessoas morreram até então na guerra síria – Obama aprovou o envio de armas. Mas mesmo quando Washington confirmou os relatos sobre um uso em larga escala de armas químicas pelo regime de Assad, ele continuou a hesitar.
A princípio, explicou que se tinha decidido por uma intervenção militar. Quando, no entanto, o Parlamento Britânico rejeitou a participação, Obama mudou de curso numa questão de horas e passou também a querer a aprovação do seu Congresso.
Como é previsível que o Congresso poderia recusar o seu consentimento, seguiu-se a última pirueta retórica até ao momento: o secretário de Estado John Kerry disse que, caso a Síria submeta as suas armas químicas ao controlo internacional, os EUA poderiam abster-se de uma ação militar. Após a Rússia e o regime de Assad receberem a notícia de bom grado, o governo Obama adiou até nova ordem o ataque planeado e tenta novamente ganhar tempo.
Falando claramente: existem razões lógicas a favor e contra um ataque militar. Uma solução ideal não existe. Em ambas as alternativas, os riscos superam em muito os potenciais benefícios: um dilema clássico.
Sem estratégia
Mas justamente para decidir situações em que há só soluções más, os presidentes dos EUA são eleitos. E quem ainda, como o próprio Obama, se orgulha desse poder de decisão, dele é esperado que satisfaça essa exigência em tempos de crise. Obama não fez isso.
Desde o início da guerra, há 2 anos e meio, Obama hesitou, titubeou e tentou ganhar tempo. Não tem guiado a situação, tem só reagido à pressão do seu próprio gabinete, da oposição e dos acontecimentos na Síria. Até hoje, não se pode reconhecer uma estratégia para a Síria nem de forma genérica.
Por esse motivo, também se encaixa neste cenário o facto de que, pela primeira vez, o presidente Obama – depois de 2 anos e meio de guerra com mais de 100.000 mortos – queria ele mesmo falar ao povo americano sobre a questão da Síria.
Da leitura que faço desta opinião, saliento que o articulista defende o papel dos EUA de polícia do mundo (com que direito?), é a favor de uma intervenção na Síria (como foi noutras latitudes, mas sempre longe dos EUA) e a qualquer preço (porque sim!), se baseia em “factos” (em análise por especialistas), não se conhecem os autores do massacre (mas ele aponta o dedo) e chega a defender a manipulação da opinião pública (como em todas as anteriores intervenções)…
Vejamos as “hesitações” de Obama:
1. Após uma guerra civil tradicional, recusou uma intervenção militar, que não lhe dizia (obviamente) respeito;
2. Opôs-se ao envio de armas à oposição armada, para não piorar o que (já) era mau;
3. Quando se começou a falar de armas químicas (como uma linha vermelha) para pressionar o fornecimento (venda) de armas aos rebeldes, opôs-se de novo, para não piorar (mais) o que era mau;
4. Quando a inteligência americana (disse que) confirmou o uso de armas químicas (coincidência!), disse (logicamente) que era preciso descobrir o/s responsável/is;
5. Quando o Pentágono disse que os EUA estavam a avaliar o envio de armas, concordou(?), mas pediu evidências (evidentemente!);
6. Quando a ONU confirmou mais de 90.000 mortos (de ambos os lados) na guerra (civil) síria, aprovou o envio de armas (começou o negócio);
7. Quando Washington disse ter confirmado o uso (em larga escala?) de armas químicas (sem provar que tinha sido o regime de Assad), continuou a hesitar (ele lá sabia porquê…);
8. Até que anunciou (sem explicações ou evidências) que se tinha decidido por uma intervenção militar, mas que queria a aprovação do seu Congresso (não a aprovação da ONU), contra o direito internacional (imitando Bush);
9. Quando começou a apresentar vídeos em catadupa e a desdobrar-se em entrevistas “esclarecedoras” que “justificassem” perante os seus concidadãos, mais uma intervenção num país estrangeiro (imitando Bush), para martirizar mais uma geração de jovens americanos (e famílias), gerando mais uma geração traumatizada pelo pós-guerra (geração apos geração), eis que o regime sírio aceita submeter-se a um controlo internacional das suas armas químicas (espera-se o mesmo para os rebeldes armados), obrigando-o a “adiar” o ataque planeado (também economicamente falando)…
De todas as decisões que Obama tomou, mesmo não tomando nenhuma (do agrado do articulista), tudo decorreu com o bom senso exigido a qualquer líder, exceto quando se decidiu, unilateralmente, por uma intervenção militar, usurpando direitos de terceiros e quando a antecedeu com uma tática de manipulação.
E foi só “isto” que derrubou Obama do seu pedestal de humanidade e veia de esperança!
Ainda bem que se fez esta pausa para a conversa e a diplomacia, para bem de cada um, de todos e da humanidade, porque qualquer guerra, não tendo a favor nenhuma razão humanamente lógica, tem sempre como consequência tantos riscos, que superam em muito os potenciais benefícios…
E se assim é, como pode alguém defender a guerra?
A guerra que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.

A guerra, como todo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa.

Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar.
Alberto Caeiro

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