Durante as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), Francisco convocou os jovens a empreenderem uma grande mudança na Igreja e no mundo. Mas ficaram de fora do discurso temas polémicos, de interesse direto para os jovens.
Astrid Prange
É uma revolução silenciosa. Uma revolução que deve transformar a Igreja Católica. Uma revolução sob ordem papal. Ela foi convocada pelo próprio Francisco, pois o pontífice quer realizar mudanças na sua instituição. E para isso precisa de jovens do mundo inteiro.
"Eu e você somos discípulos missionários. Somos construtores da Igreja de Jesus", conclamou o Papa aos cerca de 3.000.000 de peregrinos que se aglomeravam nas areias de Copacabana em vigília, durante a JMJ. A clareza do seu apelo não deixa dúvidas quanto: "Por favor, jovens, não sejam covardes, metam-se, saiam para a vida. Jesus não ficou preso dentro de um casulo. Saiam do casulo. Saiam às ruas como fez Jesus!".
A excitação que as palavras de Francisco levam aos peregrinos poderia ter causado preocupação em muitos membros do clero e, sobretudo, do Vaticano. Não seriam os consagrados padres, bispos e cardeais os pilares da Igreja? Por que motivo jovens comuns deveriam reformá-la, e não os seus representantes consagrados?
Francisco escolheu sabiamente as palavras e o local para as pronunciar. A celebração católica em Copacabana tem um significado estratégico para o argentino de 76 anos, pois os jovens podem fornecer-lhe o tão necessário suporte teológico e político-eclesiástico, na sua luta contra a corrupção, a "fossilização" e o carreirismo dentro do Vaticano.
Desde que foi escolhido Papa, em 13 de março deste ano, Jorge Mario Bergoglio deixou claro que pretende colocar em ordem as coisas no Vaticano. Apenas um mês após o início de seu papado, chamou o carismático cardeal das Honduras Óscar Rodriguez Maradiaga, seguidor confesso da corrente "Opção pelos pobres", para coordenar os trabalhos de um conselho de 8 cardeais que vai propor uma reforma na Cúria romana.
Também na América Latina, Francisco quer despertar os seus companheiros. Durante a JMJ, a portas fechadas, deu uma dura repreensão a cerca de 300 bispos brasileiros. O Papa coresponsabilizou-os pela perda de milhões de fiéis, que nos últimos 10 anos deixaram a Igreja Católica e foram para a Evangélica.
A impiedosa pergunta de Francisco também poderia ser colocada a vários dignitários católicos de todo o mundo: a Igreja não estaria, talvez, muito distante do quotidiano dos fiéis, fria e fechada demais, egocêntrica e dogmática? Estaria a passar para algumas pessoas a imagem de ser uma relíquia de tempos antigos, que não tem respostas para os dias atuais?
Habilidosamente, o Papa ligou as recentes demonstrações em massa que ocorreram no Brasil com o engajamento na Igreja. Os jovens católicos não devem deixar que outros sejam protagonistas das mudanças por um mundo melhor, mas devem mostrar que a Igreja pode dar uma contribuição importante para uma sociedade mais justa.
Já sobre temas internos da Igreja, que são motivos de muita discussão na Alemanha – como o celibato, a ordenação de mulheres, a posição dos leigos, a proibição de que divorciados participem da comunhão, ou o posicionamento sobre a homossexualidade – o Papa não comentou. A revolução proposta por ele é conservadora. Mas se ele não quiser perder o impressionante apoio junto dos jovens católicos, terá que fazer concessões. Pois uma revolução de verdade não parte de cima, mas sim da base.
A conversa com o Papa Francisco teve cerca de meia hora de duração e abordou várias questões polémicas relacionadas com a Igreja Católica.
"Flash mob" para o Papa Francisco no Rio
Sem comentários:
Enviar um comentário