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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Os “BODES espoliadores” e os “PIIGS expiatórios”

O Governo alemão exige aos seus parceiros da União Europeia que mantenham uma política de austeridade em vez de apoiar iniciativas destinadas a incentivar o crescimento como em Portugal e Espanha, afirma o jornal Der Spiegel.
Segundo aquele semanário, um documento interno do ministério das Finanças alemão defende que a situação de debilidade económica da Zona Euro não permite que os Estados "se desviem" da linha de consolidação orçamental que, segundo Berlim, tem dado resultados positivos.
O Der Spiegel avança os exemplos do governo português e espanhol, recordando os esforços do ministro português da Economia, Álvaro Santos Pereira, no sentido de fomentar o crescimento económico e incentivar o consumo e os investimentos, que afirmou, há 2 semanas, que para Portugal conseguir "ter mais investimento nacional e investimento estrangeiro, é fundamental baixar os impostos às empresas e baixar o IRC".
O semanário alemão também cita declarações do secretário de Estado de Economia espanhol, Fernando Jiménez Latorre, a alertar para a necessidade de apoio por parte da Europa sentida pelos países mais castigados pela crise.
O Governo alemão considera, no entanto - e de acordo com o Der Spiegel - que a persistente debilidade do crescimento económico reflecte um "processo de adaptação" na Zona Euro e diz que, por isso, não se pode responsabilizar a política de consolidação orçamental.
Hoje em dia, toda a gente bate forte e feio no FMI e com toda a razão, só não tem razão a Comissão Europeia e o BCE, que sendo parceiros na troika, desenham muito mal (ou muito bem) o presente e o futuro dos cidadãos dos PIIGS. Mas se fosse apenas esta incongruência e a falta de responsabilidade dos respetivos dirigentes, ainda vai que não vai. Mas o que se anuncia, descaradamente, é que é o governo alemão quem impõe as regras (à troika), pelo que só ele pode ser considerado, para todos os efeitos e consequências, o verdadeiro e único (ir)responsável por tudo que de mau se “abate” nas nossas vidas e nos “PIIGS expiatórios", em favor das regalias que vai colhendo, tornando-se no mais poderoso dos “BODES espoliadores”…
Já não restam dúvidas de que está em marcha um movimento para dominar o sul, já não restam dúvidas de quem marcha à frente desta “batalha”, já não restam dúvidas de que uma batalha faz parte de uma “guerra”, só falta saber se os objetivos alemães serão mais uma tentativa de recomeçar a História recente, com outras armas e com outra estratégia…
O futuro próximo dar-nos-á a resposta, mas já será tarde…
O Fundo admite que errou na condução dos programas de resgate a países europeus, repete falhas do passado e agora enfrenta a maior crise de sua história.
Fabíola Perez
Há alguns dias, milhares de pessoas saíram às ruas de Frankfurt, na Alemanha, para gritar contra as políticas de austeridade impostas aos países da Europa. A cena não teria nada demais – nestes tempos de apuros financeiros, os protestos tornaram-se comuns em diversas partes do mundo –, mas 2 fatores chamaram a atenção. O primeiro deles: as manifestações deram-se na Alemanha, o país que melhor vem enfrentando os efeitos negativos da crise. O segundo: muitas palavras de ordem foram disparadas contra o Fundo Monetário Internacional, apontado como um dos vilões em razão das dificuldades vividas pelas nações da zona do euro. Pouco tempo depois, a 2.000 quilómetros de distância da Alemanha, mais de 300 organizações, movimentos e sindicatos reuniram-se em frente ao Parlamento grego, em Atenas, para bradar contra os rigorosos cortes públicos, a pobreza que chegou a níveis alarmantes e o desemprego que varre o país mais atingido pela crise. E contra o FMI.
Não é à toa a revolta contra a entidade que, na teoria, possui a missão de ajudar países à beira da ruína económica. O FMI tem enorme parcela de culpa pela difícil conjuntura. “O Fundo avaliou o cenário de forma otimista demais e exigiu um ajuste fiscal muito rígido em troca de pouca ajuda financeira”, diz o economista Fernando Fernandez, da IE Business School. “Governos com grandes dívidas cortaram gastos e aumentaram impostos, aprofundando a recessão e endividando famílias.” Recentemente, o próprio FMI admitiu que errou fortemente especialmente no plano de resgate da Grécia. Ao exigir dos gregos um rigoroso controlo fiscal e o aperto excessivo do cinto, a entidade acabou por exacerbar uma crise que já era severa. Por outras palavras: grandes empréstimos só começaram a ser pagos à custa de muito sofrimento. A dose de sacrifício não teria sido alta demais? Os números da economia grega mostram que sim. Hoje, o desemprego do país está em 27%. Entre os jovens, é de impressionantes 60% – taxa recorde na história grega. “Os erros do FMI são um sinal de que os credores internacionais precisam criar novos mecanismos para combater crises”, afirma Fernandez.
Para Marcos Fernandes Gonçalves da Silva, economista da Fundação Getulio Vargas, o principal equívoco do FMI está na raiz da crise de 2008. Os líderes do Fundo defendiam a liberdade total dos mercados, sem mecanismos consistentes de regulação. “A livre movimentação de capitais obriga os governos a manter altas taxas de juros na tentativa de impedir uma fuga em massa de recursos do país, o que leva à recessão, ao desemprego e à miséria”, diz Silva. “Essa especulação financeira fez mal a muitos países, que tiveram um crescimento acelerado da dívida pública e, consequentemente, precisaram recorrer cada vez mais ao dinheiro dos credores internacionais.” Sob diversos aspetos, o cenário atual lembra a crise financeira que castigou a América Latina em 1980, a chamada década perdida (inclusive no Brasil). Naqueles anos, eram comuns grafitis em muros com os mesmos dizeres dos cartazes erguidos hoje em dia: “Fora FMI”.
A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, e o seu séquito parecem ignorar as lições do passado. De acordo com Carlos Quenan, professor de economia da Universidade de Sorbonne, o FMI repete na Europa de hoje os mesmos erros que cometeu na América Latina de ontem, tanto pelos mecanismos de ajuda como pelas consequências desse respaldo. O especialista compara a crise Argentina da década de 1980 aos problemas atuais da Grécia, identificando semelhanças como o acúmulo do défice público, a perda de acesso aos mercados e a necessidade de pedir ajuda ao FMI. “No caso da América Latina, o Fundo foi muito criticado porque tentou o tempo todo produzir ajustes e não percebeu que tinha de promover uma reestruturação, uma queda no valor da dívida”, afirma Quenan. A experiência brasileira com o FMI também teve resultados desastrosos nos anos 1980.
Hoje, é consenso entre especialistas que o FMI deve passar por mudanças profundas. “Sem dúvida, o Fundo vive a maior crise de sua história”, afirma Silva, da Fundação Getulio Vargas. Na véspera de completar 2 anos como chefe do Fundo, a francesa Christine Lagarde até agora não cumpriu a promessa de dar ares mais moderados à entidade. Sob o seu comando, o FMI continua a exibir a mesma mão pesada de tempos recentes. “O choque provocado pela crise foi muito grande e hoje existe um processo de reavaliação das antigas doutrinas”, diz Paulo Nogueira, diretor-executivo do FMI pelo Brasil e mais 8 países da América Latina e do Caribe. “Mas há muita inércia.” O tiroteio contra a instituição não é novo. Um dos mais influentes economistas do século XX, o Prémio Nobel Milton Friedman vivia a dizer que o melhor era mesmo acabar de vez com o FMI e também criou uma frase divertida. Segundo Friedman, “o Fundo virou uma peculiar empresa de consultoria: ela paga para dar conselhos”.
“O medo comanda o mundo” - Eduardo Galeano e Jean Ziegler

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