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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Esta é (mesmo) uma medida (dura, mas) inevitável…

O PSD tem, pois, obrigação de apresentar de imediato uma moção de confiança na AR e da sua votação retirar consequências, sabendo que a teimosia de um governo minoritário só terá a eventual vantagem de permitir, até ao fim do 1.º resgate, uma recomposição dos protagonistas que a democracia partidária oferece.
José Eduardo Martins
Os dias estavam a melhorar. O Sol saiu, a sardinha engordou, os patrões fizeram greve com os empregados - explicando ao Governo que estávamos preparados para ajudar a concretizar a renegociação do memorando – e a modorra do fim-de-semana ainda incluía uma entrevista do ministro mais popular do Governo, Paulo Macedo.
Nesses dias distantes, o ministro da Saúde demonstrou coisa simples: basta um homem competente, guiado pelos valores da integridade e da fraternidade, para a social-democracia acontecer espontaneamente, mesmo debaixo das barbas de quem a despreza.
Nas suas palavras, a reforma do Estado resume-se a identificar que níveis de despesa social queremos ter e como a podemos financiar. E depois fazer escolhas, enfrentar as margens usurárias dos actores privados envolvidos na prestação pública, reduzir despesas para reduzir impostos, mas fazer dos impostos o estribo das prestações sociais que estão na primeira linha da equidade e coesão social.
É uma entrevista notável que dá valor ao sacrifício que as cartas da autoridade tributária nos exigem. Depois chegou esta semana. Cuja história não é possível conhecer enquanto escrevo, mas que deu cabo dos sacrifícios dos últimos dois anos. Muito dificilmente a consequência deixará de ser um segundo resgate ou alternativa pior, mesmo que o aparente "plano" do primeiro-ministro seja prolongar o estertor.
O nosso pin em Berlim, o Dr. Gaspar que, com o reconhecimento de Passos Coelho, conduziu o governo nos últimos dois anos, não resistiu à soberba, também, na hora da demissão. Lida com atenção, a carta de demissão que maldosamente fez pública é falsa na humildade do reconhecido falhanço injustamente embrulhado na desculpa da falta de confiança que, ao invés, teve em excesso.
Mas isso podia ter ficado só como um apontamento para a história dos dois últimos anos, se o PM tivesse a capacidade de contrariar a altivez da sua natureza. A demissão de Gaspar era, ao mesmo tempo, uma oportunidade para uma mudança de rumo que a sociedade portuguesa queria amparar, para envolver o parceiro de coligação, em suma, para fazer avançar a reforma do Estado que Gaspar confessadamente não quis fazer e que manifestamente Paulo Portas não era capaz de concretizar.
Bastava, com calma, com Paulo Macedo e outros desse calibre, ter começado outro rumo. Nem precisava de briefing. Mas o primeiro-ministro preferiu exibir mando e perdeu. Quis impor Gaspar depois de ele desistir por interposta pessoa. Até pode agora invocar e, pior, estar disso convencido, que é por nós e pelos sacrifícios que fizemos que não desiste. A verdade é mais simples, mesmo se longe da sua vista, não foi capaz de liderar estes tempos…
Agora, estamos no pior dos becos. À hora que escrevo ainda não se percebeu onde vai exactamente o CDS e há quem o queira distinguir de Paulo Portas... Há quem sonhe com um Governo de iniciativa presidencial, com ou sem o amparo de uma eventual revolta no PSD que ajude Cavaco a mudar de protagonistas sem eleições… Com o devido respeito, tudo disparates. Pedro Passos Coelho é e vai ser presidente do PSD nos próximos tempos. Nenhum golpe palaciano resolverá isso, só o tempo do balanço e um novo processo eleitoral. O Presidente perdeu, infelizmente, a força, que agora precisava e, não só não há génios a sair da lâmpada, como a história demonstrou recentemente o mal que as derivas fora do sistema partidário pode causar à democracia.
O PSD tem, pois, obrigação de apresentar de imediato uma moção de confiança na AR e da sua votação retirar consequências, sabendo que a teimosia de um governo minoritário só terá a eventual vantagem de permitir, até ao fim do primeiro resgate, uma recomposição dos protagonistas que a democracia partidária oferece.
Fora disso, por muito que seja legítimo e certeiro temer a alternativa, por muito que nos entristeça ou revolte a garotada que nos fez perder dois anos, só há uma alternativa ao pântano: chamar as pessoas a votar. É a democracia, não vamos encontrar alternativa melhor. 

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