O pediatra discute como educar uma criança: a importância do amor, dos castigos e do tempo que tanto pais como filhos devem reclamar para si. Mas há também dicas para a rentrée escolar.
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- O que define uma boa educação?
Gosto mais de falar em ensino e em aprendizagem. Há o ensinar, que implica informação, sabedoria e modelo. O aprender é desenvolver talentos e conhecimentos, ouvir experiências e, através delas, desenvolver sabedoria. Um bom educador é a pessoa que, na medida do possível, tenta ser coerente, consistente e justo. Mas também saber que podem haver reações àquilo que ensina, tal como a rejeição.
- Que valores devem ser transmitidos às crianças?
Respeito, amor, responsabilidade, empatia, partilha e solidariedade. Mas os valores são coisas abstratas para uma criança, pelo que é preciso dar exemplos práticos. Até aos 5, 6, anos a criança está numa fase em que predomina o concreto.
- Quais os conselhos que dá aos pais no regresso às aulas?
Depende das idades, se é a primeira vez que a criança vai para a escola ou se há mudanças de ciclo. É bom conversar sobre o que vai acontecer, sobretudo quando no primeiro ano, e explicar alguns medos: “É natural que não conheças ninguém; que penses que a professora esteja a olhar só para ti; que dos 26 não és obrigado a gostar de todos e que, a pouco e pouco, vais vendo quem tem mais que ver contigo…”. Explicar também que é preciso ser-se organizado e metódico, saber enquadrar todas as tarefas do dia-a-dia nos vários dias.
Outra coisa que é muito importante: a criança pensa que ao ir para a escola, no momento em que entra, já está a ler e a fazer contas, sente-se pressionada. Digo sempre no consultório “a última letra do abecedário geralmente é aprendida em maio, até lá tens muito tempo”. Dar uma semanada também é importante; sugiro 2 euros por semana. Implica ser-se responsável: “Trabalhaste uma semana, tens aqui uma semanada. O esforço foi recompensado e o teu poder aquisitivo está na razão direta do teu trabalho”.
- Das férias para as aulas há uma mudança de hábitos muito grande…
Advogo uma semana antes de começar as aulas para retomar os ritmos. Acho que é bom aproveitar esse período para ver os manuais, as mochilas, os horários, para comprar o material… E ir deitando o filho mais cedo. Trata-se de um reset tranquilo — não pode ser instantâneo.
- O que é que um pai pode exigir de uma criança: qual o equilíbrio entre o trabalho e o ócio?
Exigir que cumpra [as obrigações], mas dar alguma liberdade à criança de gerir a sua vida. Sobretudo que não exija ao filho que entre no quadro de honra, que acho que é uma coisa a abater — é muito injusta, como se a honra se medisse por notas! Cada um deve-se comparar consigo próprio, tentar a excelência de si mesmo. Nós não temos competência para tudo, ponto, e temos de meter isso na cabeça dos pais e dos filhos. Em vez de carrascos, os pais devem ser juízes/árbitros.
- Quais são os maiores desafios de uma criança quando a aprender?
É encarar, na maior parte das vezes, uma escola nova e habituar-se ao estar na sala de aula. O impulso de levantar e falar é tolerado no jardim-de-infância, mas não ali [aulas do primeiro ano]. Por outro lado, trabalhar em grupo, adaptar-se a outros meninos e ao relacionamento com as auxiliares, que é fundamental no meio disto tudo. O pai deve observar tudo e fazer-se sócio da associação de pais para poder intervir e tentar mudar o que se pode mudar, compreender e ajudar onde pode.
- O pai educa, a escola ensina?
Ensina-se e aprende-se em todo o lado, tanto com os pais como na escola. Sempre que há um momento relacional, há uma ocasião de ensino e de aprendizagem. A escola deve ensinar, não apenas a nível académico, mas também social e relacional. O mesmo com os pais. Um não substitui o outro.
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