Durante muito tempo foram protegidos por uma espécie de escudo invisível que os tornava quase intocáveis. Comportavam-se como reis e eram temidos por todos, incluindo o poder político. Sabiam que por eles passava também a sobrevivência de muitos jornais, rádios e televisões e por isso não temiam nada nem ninguém. Ironicamente acabaram por ser vítimas deles próprios e estão agora em quase todas as primeiras páginas.
João Adelino Faria
Foi sempre o segredo mais mal guardado, mas que poucos ousavam revelar. Mais do que os políticos e os governos, foi o poder económico e financeiro o que mais tentou condicionar a informação nas últimas décadas.
Alguns jornalistas deixaram mesmo de marcar entrevistas com os banqueiros. Eram estes que escolhiam a altura, os media e muitas vezes as condições em que queriam falar. Dificilmente se viu durante anos nos jornais ou nas televisões uma investigação profunda sobre os problemas ou escândalos dos grandes grupos financeiros e económicos. Na teoria não havia nenhuma regra que o proibisse ou diretores que o impedissem, mas na prática estes assuntos ficavam muitas vezes arredados dos principais alinhamentos noticiosos. Criou-se pouco a pouco uma perigosa autocensura que afastou muitos jornais dos escândalos do mundo da alta finança e dos grandes negócios. Com as habituais honrosas exceções estava muitas vezes implícito que não se podia arriscar perder contratos de publicidade ou mesmo o financiamento das próprias empresas de comunicação social.
Nesta matéria não há inocentes. Se alguns jornalistas evitavam esta verdade inconveniente, a justiça também não lhe ficou atrás. A justificação dada era quase sempre a impotência perante o poder do dinheiro que comprava os melhores advogados e as melhores agências de comunicação. Conheciam-se os casos que deveriam ser denunciados, mas o mais difícil, diziam, era provar.
O poder político, em especial as oposições, também ajudaram a perpetuar esta situação. Quando não tinham a cobertura jornalística que desejavam, lá iniciavam mais uma batalha com denúncias panfletárias para dizerem que os governos estavam a controlar os media. E enquanto faziam isto, não se apercebiam de que estavam a desviar as atenções dos que efetivamente tentavam controlar a informação.
Em Portugal, a queda e a perda de poder e influência do BCP, os escândalos do BPP e do BPN, e agora a luta palaciana do BES, vieram apenas mostrar e revelar tudo o que há anos se falava em surdina. Um poder que cresceu de forma desmesurada em Portugal porque a economia ou a falta dela deixou o país literalmente nas mãos de quem o financiava.
Não sei se foi a crise, o tempo ou a simples ganância que nos ajudaram a revelar o que todos hoje sabemos. Talvez os banqueiros se tenham tornado mais desleixados ou as autoridades e os jornalistas mais eficazes e competentes.
Investigar e denunciar hoje corrupções e fragilidades dos grandes grupos financeiros não nos torna mais fracos nem mais expostos ao capitalismo mundial. Antes pelo contrário, mostra que finalmente estamos a dar sinais de verdadeira democracia, com bancos mais sólidos e com os jornalistas a cumprir todas as suas funções... sem medo.
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