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domingo, 10 de abril de 2011

Pior do que a Gripe A(mericana), porque existe…


A crise financeira fragilizou a imagem de império dos Estados Unidos e colocou os seus habitantes em vexames típicos de países pobres (como desemprego recorde, endividamento, falência de empresas, redução do consumo). Por outro lado, países emergentes como o Brasil, Índia e China mostraram fôlego nas suas economias, despontando como alternativas para investimentos. A recessão na América também coincidiu com um forte sentimento antiamericano devido principalmente ao clima de "caça às bruxas" por causa do terrorismo e da guerra no Iraque.

No seu livro "Capitalismo Parasitário", o sociólogo polaco, Zygmunt Bauman, analisa factos e comportamentos da atualidade (como a crise financeira, problemas na educação, bulimia, anorexia e medo), traçando um perfil da sociedade contemporânea. Ele contesta avaliações como a de que o fundo do poço norte-americano represente algum sinal do fim do sistema capitalista.

"A atual contração do crédito não é um sinal do fim do capitalismo, mas apenas da exaustão de mais um pasto. A busca de novas pastagens terá início imediatamente, alimentada, como no passado, pelo Estado capitalista, através da mobilização forçada de recursos públicos (usando os impostos, em lugar do poder de sedução do mercado, agora abalado e temporariamente fora de operação). Novas ‘terras virgens’ serão encontradas e novos esforços serão feitos para as explorar, por bem ou por mal", escreve o autor no livro.
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Sem meias palavras, o capitalismo é um sistema parasitário. Como todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento. Mas não pode fazer isso sem prejudicar o hospedeiro, destruindo assim, mais cedo ou mais tarde, as condições da sua prosperidade ou mesmo da sua sobrevivência.

Escrevendo na época do capitalismo ascendente e da conquista territorial, Rosa Luxemburgo não previa nem podia prever que os territórios pré-modernos de continentes exóticos não eram os únicos "hospedeiros" potenciais, dos quais o capitalismo se poderia nutrir para prolongar a própria existência e gerar uma série de períodos de prosperidade.

Nos tempos recentes, assistimos a outra demonstração concreta da "lei de Rosa", o famigerado affaire das hipotecas, que estão na origem da atual recessão: o expediente de fôlego curto, deliberadamente míope, de transformar em devedores indivíduos desprovidos dos requisitos necessários à concessão de um empréstimo. A única coisa que eles inspiravam era a esperança (um tanto astuta, mas vã, em última análise) de que o aumento dos preços das casas, estimulado por uma procura artificialmente inflacionada, pudesse garantir, como um círculo que se fecha, que os "compradores de primeira viagem" pagassem os juros regularmente (pelo menos por algum tempo).

Hoje, quase um século depois de Rosa Luxemburgo ter divulgado a sua intuição, sabemos que a força do capitalismo está na extraordinária “engenhosidade” com que busca e descobre novas espécies hospedeiras sempre que as espécies anteriormente exploradas se tornam escassas ou se extinguem. E também no oportunismo e na rapidez, dignos de um vírus, com que se adapta às idiossincrasias dos seus novos pastos.

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