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sábado, 2 de março de 2013

A Plataforma “Que se lixe o POVO” inunda Portugal…

A taxa de desemprego em Portugal agravou-se para 17,6% em Janeiro deste ano, de acordo com os dados divulgados pelo Eurostat, que representam uma forte revisão em alta face aos relatórios anteriores, já que o gabinete de estatísticas da União Europeia incorporou os últimos dados do INE, que apontam para uma taxa de desemprego de 16,9% no 4.º trimestre de 2012.
Assim, a taxa de desemprego de Dezembro foi revista em alta de 16,5% para 17,3% e a de Novembro de 16,3% para 17%.
Os números hoje divulgados pelo Eurostat mostram que o desemprego em Portugal, entre Janeiro de 2012 e Janeiro deste ano deu um salto de 2,9%.
Esta forte subida da taxa de desemprego ameaça deixar desactualizadas as previsões efectuadas para este ano. A mais recente é da Comissão Europeia e já se encontra ultrapassada.
Bruxelas antecipa que a taxa de desempego em Portugal vai subir para 17,3% este ano, mas segundo os dados revelados pelo Eurostat, esse valor já foi atingido em Dezembro do ano passado. E em Janeiro já se encontra 0,3% acima da estimativa para todo o ano.
Recorde na Zona Euro
No resto da Europa a tendência também aponta para um forte agravamento do desemprego, numa altura em que a região está a ser penalizada por uma recessão.
Os dados do Eurostat mostram que a taxa de desemprego na Zona Euro subiu uma décima em Janeiro, para 11,9%, o valor mais elevado desde que estes dados são recolhidos pelo gabinete de estatísticas da Comissão Europeia. Os economistas contavam com uma taxa de 11,8%.
Portugal surge com a 3.ª taxa de desemprego mais elevada entre os países do euro. Em Espanha a taxa de desemprego subiu uma décima para 26,2% e na Grécia, no mês de Novembro, situava-se em 27%.
As previsões da Comissão Europeia apontam para uma taxa de desemprego de 12,2% este ano.  
Enquanto a maioria dos cidadãos se cola ao Movimento “Que se lixe a Troika! Queremos as nossas vidas!”, reivindicando os seus direitos e um futuro com esperança e dignidade, uma Plataforma mais antiga e mais estruturada, “Que se lixe o POVO! Queremos as suas vidas!” continua o seu trabalho de sapa, sem manifestações de massa, mas em prol da massa para uma minoria de apoiantes…
Temos que concluir que Gaspar tem razão quando diz que as previsões valem o que valem, são a muleta do economista, um raciocínio para chegar a uma conclusão, um ponderador ajustável, nunca a conclusão em si.
Mas temos que concluir que assim sendo, nem as previsões ajudam nem os economistas empurram… Nem umas nem outros são necessários e suficientes para resolver os problemas da sua competência e sendo assim mais vale jogarem ao monopólio…
Qualquer um de nós, que chegasse a resultados tão negativos na sua atividade profissional, seguramente que se demitiria, querendo a sua vidinha e deixando que os outros vivessem…
“Que se lixe a Troika!”
“Que se lixe o Coelho, o Gaspar e o Portas!”
“Que se lixe o Governo!”
Já chega de nos lixarem! "O POVO é que mais ordena!"

Ecos da blogosfera – 2 mar.

Temos nomes e apelidos, irredutíveis a um numeral!

Aos participantes na Conferência Interdistrital do Rotary Internacional, Exponor, 23 de fevereiro de 2013
D. Manuel Clemente, Bispo do Porto
Sobre a paz, disse Santo Agostinho que é a “tranquilidade da ordem” (A Cidade de Deus, XIX, 13) e julgo ser definição a reter nos nossos dias, para permanentemente a construirmos. Refiro uma ordem que significa justa ordenação de cada parte e não mera armadura exterior de segurança.
Disse “permanentemente a construirmos”, pois não é coisa garantida para sempre, quando aparentemente exista, nem nos dispensa de uma atuação constante, atenta e comprometida. Também se diz biblicamente que “a paz é obra (fruto) da justiça”.
Comecemos então pela justiça, virtude que nos manda “dar a cada um o que lhe é devido”. Felizmente muito se avançou no campo dos direitos formalmente reconhecidos, da segunda metade do século XVIII até aos nossos dias (Declarações de Direitos Norte Americana e Francesa, Declaração da ONU, 1948…). Mas não podemos esquecer que tais declarações demoraram e demoram muito a concretizar-se na prática das sociedades. Como infelizmente constatamos que, nos séculos XX e já XXI, se sucederam atrocidades várias e a uma escala nunca vista…
É realmente importante que, em termos de ideias e regras subscritas, tenhamos atingido aquelas plataformas de direitos. O contrário seria a descrença na natureza humana, como realidade básica e comum da nossa dignidade a salvaguardar e o regresso à lei do mais forte, ainda verificável aqui ou ali (demasiados “aquis” e “alis”, infelizmente).
Acontece que, neste ponto, se revelam as contradições da globalização crescente da vida mundial, fenómeno irrecusável mas ambíguo. Desde que o nosso Gama abriu a ligação marítima e direta entre a Europa e a Índia, coeva da “descoberta” europeia da América, a mentalidade geral foi olhando o planeta como um todo, ainda que cheio de contrastes - que eram outros tantos desafios a alargar o próprio conceito da nossa humanidade compartilhada. A revolução industrial, a busca de matérias-primas, o desenvolvimento dos transportes e das comunicações, agora instantâneas, tudo nos levou ao que somos hoje, como ideia e representação de nós mesmos, neste sentido “globais”.
Todavia, estes fatores que podemos considerar positivos, têm o seu lado problemático, quando tornam as sociedades mais “fracas” muito vulneráveis aos interesses externos, e quando nos fazem passar rapidamente demais do plano individual ao geral, sem ter em conta o que está mais ao pé e deve ser localmente resolvido. Usando linguagem evangélica, podemos dizer que está em causa precisamente o “próximo”, a proximidade ativa e responsável.
O horizonte geral que a globalização nos foi dando é inquestionavelmente um bem, propício até ao reforço da solidariedade internacional. Mas o alheamento do que diretamente nos rodeia põe em causa um outro princípio indispensável, a subsidiariedade, que sempre requer a participação de cada parte interessada, ou corpo intermédio, na resolução social que se pretenda. Só na conjugação da solidariedade geral com a subsidiariedade das partes se dá verdadeiramente a cada um o que lhe é devido – em termos de reconhecimento, oportunidade e estímulo -, ou seja, se garante a justiça, cujo fruto é a paz.
As repercussões são óbvias, em campos tão variados como as famílias, os grupos socioculturais de pertença, as associações de todo o género, as autarquias, as escolas e tudo mais de interesse público, etc. Se estas realidades – que são outras tantas dimensões da nossa personalidade e essência relacional forem desativadas por qualquer imediatismo generalizador, nacional ou multinacional que seja, a paz correrá graves riscos, porque nem se respeita a ordem correta das coisas nem se reconhece e proporciona a cada um o que lhe é devido.
Sem olhar negativamente demais para o nosso caso português, podemos detetar elementos positivos a este respeito, como sejam as concretizações associativas que perduram – sabe Deus com quanta abnegação de muitos! -, ou aparecem entretanto, com múltiplas incidências na sociedade e na cultura. – O que seria de nós, por exemplo, se, além do Estado Social que vai subsistindo quanto pode e temos certamente de defender e promover, faltasse esta capacidade demonstrada de atendermos mais espontaneamente às necessidades acrescidas?
Mas temos de reconhecer que a nossa vida coletiva se faz ainda e muito – crescentemente até? – do topo para a base, quando melhor seria que acontecesse, sobretudo ou também, das periferias para o centro. Do topo para a base, usando ainda terminologia de tipo vertical e descendente, típica de tempos e sociologias que afinal não estão tão ultrapassadas como julgaríamos…
Não foi assim há tanto tempo que se deixou de falar do “Senhor Governo”, que alguns pensavam ser realmente alguém que tudo decidia em sítio algo mítico (num “Terreiro do Paço”, que já nem o era desde o século XVIII…). E a mentalidade ainda se pode manifestar, de baixo ou de cima, mesmo em tempos felizmente democráticos e com eleições livres e periódicas.
É verdade que a mediatização geral da informação e da resposta pode potenciar tal facto, por dar a ideia de que as coisas se resolverão mais depressa, em ligação direta topo - base e vice-versa. A própria internacionalização ou mundialização de muitos aspetos da vida socioeconómica, política e até particular, parece requerer este tipo de atuações, indo logo a Bruxelas ou a Nova Iorque, passando ou não por Lisboa. Mas a pergunta deve fazer-se: - É assim, predominantemente assim, que se resolverão humanamente as coisas?
Pergunta tanto mais insistente, quando verificamos que o tratamento de qualquer assunto pelo geral dilui a densidade pessoal das sociedades e rapidamente desmotiva as cidadanias. Entre o topo e a base, quase nada sobra de intermédio, para não “atrasar” soluções nem perder tempo, como se o tempo nos fosse completamente exterior e não uma dimensão essencial do ser humano e relacional.
E o problema é deixarmos de ser sociedades propriamente ditas, isto é, grupos de “sócios”: palavra latina que se traduz por companheiros, colaboradores, pessoas entre pessoas e umas com as outras, para manter e alcançar desígnios comuns.
Não é uma fatalidade que tal aconteça. Afinal, basta-nos ser realistas e olharmo-nos como realmente somos, ao ritmo da vida que acontece. Geralmente, nem nascemos desvinculados nem crescemos anónimos, mas sim uns pelos outros, uns com os outros e uns para os outros, família a família, terra a terra, caso a caso. Crescemos e vivemos nas periferias das nossas delimitações e responsabilidades imediatas e inalienáveis, em recortes sociais mutuamente abertos e por isso relacionados com os centros comuns das nossas periferias mais amplas, nacionais ou internacionais que sejam. Mas assim mesmo somos e devemos ser. Por isso temos nomes e apelidos, irredutíveis a um numeral qualquer.
E é por isso, caros rotários, que tudo quanto aproxime e suscite solidariedades, ou ative proximidades, é vital para a paz e a harmonia pessoal e interpessoal. Numa ordem que não virá de fora, mas da conjugação vital de todos e de cada um, nas múltiplas expressões que a sociabilidade alcança. Quanto mais globais, mais participativos, para encontrarmos soluções à altura das atuais questões. Aliás, e humanamente falando, nunca nada se resolveu inteiramente sozinho.

Contramaré… 2 mar.

A Igreja Católica vive esta sexta-feira o seu primeiro dia sem Papa, após a renúncia de Bento XVI.
Com a renúncia começou o período de “sede vacante”. A gestão dos assuntos correntes da Igreja Católica está, até à eleição do novo Papa, nas mãos do cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, uma espécie de “chefe de Governo”.

sexta-feira, 1 de março de 2013

O AMANHÃ…

A resposta à 7.ª vista da troika a Portugal será dada sábado, seguramente, pelo desconsolado Povo português, uma vez que se espera uma gigantesca manifestação, eventualmente maior do que a de 15 de setembro do ano passado, uma vez que estão previstos protestos contra a austeridade do Governo liderado por Passos Coelho em Lisboa e mais 39 cidades, sem esquecer que Barcelona, Paris, Londres e Boston (onde residem vários milhares de cidadãos lusos) também aderiram.
O movimento cívico “Que se lixe a troika, queremos as nossas vidas” dá a cara pelo desencanto que se apoderou de milhões de portugueses e tem por objetivo dizer nas ruas o estado de penúria a que chegou o Portugal democrático, com o apoio de muitas outras organizações.
Esta é a altura de se cantar a plenos pulmões a “Grândola Vila Morena”, pois é tempo de o Povo voltar a ordenar.

Ecos da blogosfera – 1 mar.

Defenda-se dos choques como pode! Registe-se!

A iniciativa da Deco de convidar os consumidores a juntarem-se para pagar menos na fatura de eletricidade conta, até agora, com mais de 171.000 adesões.
Para se registar clique AQUI
A campanha com o mote "juntos pagamos menos", iniciada há 4 dias e decorre até 30 de abril, pretende que os clientes de eletricidade adiram a esta iniciativa, findo o qual a Deco fará um leilão pelo preço mais barato junto dos operadores de mercado como a EDP, Galp, Endesa ou Iberdrola, entre outros.
Após estarem definidos os operadores vencedores por cada tarifário, os consumidores que aderiram à campanha passarão a ter as condições de preço resultantes do leilão que a Deco tem a expetativa de ser mais baixo do que as atuais tarifas oferecidas no mercado livre.
O leilão está marcado para 2 de maio e será apurado o vencedor com o preço mais baixo nos vários tarifários.
Após a oferta, a partir de 15 de maio a Deco vai comunicar a todos os consumidores que participaram na ação qual o fornecedor vencedor e quanto poderão poupar com o novo contrato, sendo que só mudam se entenderem.

Democracia? A haver palhaços, antes os profissionais!

O resultado não decisivo das eleições italianas e o triunfo de Beppe Grillo demonstraram, mais uma vez, a existência de correntes subterrâneas que agitam os países europeus atingidos pela crise. Será que a UE e, mais ainda, os mercados irão fazer alguma coisa para quebrar o círculo vicioso da crise e vencer a desconfiança dos cidadãos?
A tensão latente entre as democracias da Europa e os mercados financeiros internacionais não deverá desaparecer nos tempos mais próximos e ninguém é capaz de prever quais serão as suas consequências.
Os mercados usam a sua linguagem implacável e ameaçam fechar a torneira dos empréstimos à Europa. Mas, sem dinheiro emprestado, ou obrigações, será praticamente impossível o bloco europeu manter o padrão de vida e o nível de assistência social e benefícios sociais que têm definido a forma de funcionamento das suas sociedades, desde o fim da II Guerra Mundial.
Na realidade, os mercados estão a desviar o dinheiro para Leste, onde as pessoas estão mais habituadas a padrões de vida mais baixos e onde a democracia funciona de uma maneira diferente.
O grau de mudança e de sacrifícios necessários para atingir as metas que os mercados financeiros impõem, em especial no Sul da Europa, é difícil ou mesmo impossível de alcançar. Nenhum país está preparado para aceitar uma mudança significativa e generalizada do seu estilo de vida – para pior -, sem uma reação inevitável e violenta.
Coragem perante a adversidade
A elite europeia, concentrada em Bruxelas e em Berlim, acreditou que a transição para uma Europa mais competitiva e mais moderada nos seus gastos seria um processo suscetível de ser gerido politicamente. Talvez isso tenha sido verdade no caso de alguns países do Norte da Europa, que têm uma boa compreensão dos conceitos contidos no contrato social e que mostram maior coragem perante a adversidade.
Contudo, no caso da Grécia, e também no da Itália, as reformas e os cortes duros não são tão fáceis de engolir e não foram aprovados sem dificuldades. Nestes países, a austeridade desperta o instinto de reagir contra qualquer coisa que abale a situação existente e reforça as tendências antissistema da sociedade.
Como quebrar o ciclo vicioso?
Como poderemos quebrar este círculo vicioso? Não se sabe. A crise aprofundou e alargou as já profundas divisões culturais e políticas que separam os países europeus. E, agora, tudo indica que os mercados financeiros não estão de modo algum preparados para moderar as suas exigências e dar um passo atrás. No horizonte, perfila-se o risco de a Europa entrar numa prolongada fase de instabilidade e dificuldades económicas, enquanto os mercados continuarem a aumentar os spreads e alguns cidadãos votarem em políticos como o italiano Beppe Grillo.
Os limites e a força da democracia poderão ser duramente postos à prova, apesar de a democracia europeia parecer muitas vezes uma instituição superficial que é manobrada a partir dos bastidores da cena pública – um dado negligenciado por aqueles que, hoje, apoiam Silvio Berlusconi, quando, ainda ontem, o apresentavam como um paradigma da corrupção e da desordem.
Opinião - A caminho do desafio democrático
“As eleições italianas confirmaram a visão de muitas pessoas sofisticadas para quem a democracia – ou, pelo menos, a democracia sem moderação – não funciona. Abandonados a si próprios, dizem, os eleitores continuam a optar por poucos impostos e muitas despesas. É por isso que a Europa está nesta confusão”, escreve o colunista e eurodeputado conservador Daniel Hannan em The Daily Telegraph.
Em Bruxelas, há muita gente que defende uma restrição dos direitos democráticos, mas há outras alternativas. “Porque não confiar mais nos eleitores?”, pergunta Hannan, citando as palavras do já falecido deputado conservador Keith Joseph, que disse: “Deem mais responsabilidade às pessoas e elas comportar-se-ão de maneira mais responsável”. Hannan aponta o exemplo da Suíça, cujos cidadãos têm uma grande responsabilidade política que lhes é conferida através de constantes referendos. E acrescenta: Se tratarmos os eleitores como crianças, teremos amuos e birras. Se os tratamos como adultos – bom, temos a Suíça.

Contramaré… 1 mar.

Os últimos dias do movimento "Que se lixe a troika" têm sido passados em reuniões, a colar cartazes e a distribuir panfletos. A organização marcou para o próximo sábado uma manifestação em Lisboa e no Porto que visa exigir o fim das políticas da troika e espera que, com o protesto, o Estado adote novas políticas. O movimento organizou também o protesto de 15 de setembro.
PSP não larga os "Que se lixe a troika"

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O que foi bom ótimo para eles é mau para os outros?

No pós-Guerra, a Alemanha estava tão endividada quanto a Grécia de hoje, colhendo olhares desconfiados dos credores. Há 60 anos, porém, o país teve metade dos seus débitos perdoados e começou a reerguer-se.
Andreas Becker
Wolfang Schäuble, ministro das Finanças alemão 
Até hoje, muitos alemães sentem orgulho do chamado "milagre económico" do pós-Guerra, quando o crescimento foi excecional. Só entre 1953 e 1963, o PIB da recém-fundada Alemanha Ocidental duplicou.
Desde então, gerações de crianças e adolescentes aprenderam na escola que os alemães são um povo inacreditavelmente esforçado e trabalhador, que com o apoio dos Estados Unidos, conseguiu reerguer o país. "Este é um exemplo lamentável de como a História é recalcada neste país", diz Jürgen Kaiser, da aliança erlassjahr.de, que faz campanha pelo perdão da dívida de países em desenvolvimento. Segundo ele, os alemães reprimem da memória o facto de que, depois da II Guerra Mundial, a própria Alemanha se encontrava desesperadamente endividada, de maneira semelhante à Grécia dos dias de hoje.
Foi só o chamado Acordo de Londres, assinado há exatamente 60 anos, que fez com que o país pudesse respirar de novo, lembra a historiadora Ursula Rombeck-Jaschinski, da Universidade de Stuttgart. "Pode-se até mesmo afirmar que o milagre económico não teria sido possível sem o perdão da dívida", afirma.
30.000 milhões de marcos de dívidas
Naquela época, cerca de 70 países cobravam dinheiro à Alemanha – dívidas contraídas em parte antes e em parte depois da guerra. No total, o país devia 30.000 milhões de marcos, e economizar e pagar aos poucos não era uma alternativa viável. Pelo contrário: a economia alemã precisava de investimentos, a fim de que a reconstrução e o crescimento pudessem ser financiados.
Para o banqueiro Hermann-Josef Abs, que conduziu a delegação alemã nas negociações em Londres, essa ideia estava mais do que clara. As suas palavras de ordem eram: os credores de hoje têm que se transformar nos investidores de amanhã.
As negociações começaram em meados de 1952 e foram lentas e difíceis. Não se sabia ainda ao certo se os credores iriam de facto abdicar dos seus créditos, nem se iriam confiar nos alemães. "Houve até mesmo um momento em que as negociações quase fracassaram", conta Rombeck-Jaschinski. "Os alemães apresentaram aos credores estrangeiros uma proposta que, na visão do então Ministério das Finanças, era o máximo da viabilidade. Os credores acharam a sugestão um descaramento."
Desconfiança dos credores
Os alemães foram obrigados a mudar o documento e as negociações então continuaram. Os paralelos com as atuais conversas entre a Grécia e os seus credores são evidentes. Naquela altura, em Londres, a meta também era encontrar um equilíbrio. Os credores queriam reaver o máximo possível dos seus recursos, mas, ao mesmo tempo, a Alemanha não deveria ficar sobrecarregada. "Principalmente os britânicos defendiam a ideia de que os alemães poderiam, na verdade, pagar tudo de volta", diz Rombeck-Jaschinski. "Mas os americanos passaram à frente. A eles interessava-lhes que a Alemanha tivesse recursos para outras coisas, especialmente para o rearmamento."
O acordo, selado, enfim, no dia 27 de fevereiro de 1953, foi sensivelmente favorável à economia alemã: pelo menos metade das dívidas foram perdoadas. O resto foi remanejado a longo prazo.
O nascimento da nação exportadora
Além disso, era colocada naquele momento a pedra fundamental para o nascimento de uma nação exportadora. A Alemanha só teria que pagar as suas dívidas se ganhasse dinheiro com o comércio exterior. Os credores tinham interesse em comprar mercadorias alemãs, lembra Jürgen Kaiser. Segundo ele, uma solução parecida poderia ajudar hoje a endividada Grécia – sobretudo porque o país, antes da crise, gastou milhares de milhões de euros para pagar tanques de guerra comprados à Alemanha.
Já Rombeck-Jaschinski afirma que a situação de há 60 anos não pode ser simplesmente comparada com a de hoje. Apesar disso, ela recomenda aos alemães não esquecerem, no meio das negociações com a Grécia, que a própria Alemanha já esteve desesperadamente afundada em dívidas, precisando de ajuda.

Ecos da blogosfera – 28 fev.

Os afilhados da Angela, um a um, caem como tordos!

Os eleitores rejeitaram Mario Monti e a tutela de Angela Merkel, sabotando assim a estratégia da chanceler de "congelamento" da crise do euro até às eleições alemãs de setembro. Mas, para evitar que o consenso relativamente à Europa se desintegre totalmente, o processo de integração europeia tem de ser retomado com urgência.
Angela Merkel tem feito de tudo para desviar o perigo de novos surtos de instabilidade na Europa da sua eleição de setembro. Em Itália, jogou forte em Monti, sem, no entanto, ir além de repetidas declarações de estima, com medo de repetir o efeito de bumerangue que teve, no ano passado, o seu apoio explícito a Nicolas Sarkozy, em França.
Depois disso, tentou compor a situação com François Hollande. E para salvaguardar a tranquilidade dos mercados, foi mesmo ao ponto de "despenalizar" o desrespeito de Paris pelos compromissos de redução do défice, formalizando por carta da Comissão Europeia a nova linha de abrandamento da execução das normas, interiorizando os efeitos produzidos em Portugal, Grécia e Espanha.
A estratégia da chanceler não funcionou. A resposta italiana nas urnas reabriu dramaticamente a chaga da instabilidade, dentro e fora de fronteiras. Como era previsível, os mercados voltaram ao ataque. A Europa treme e sonha em colocar a Itália sob tutela, para travar os danos, na eterna ameaça de retorno ao campo dos países sob alta vigilância, onde já habitam Grécia e companhia.
Grumos vêm à superfície
Na realidade, a crise de nervos eleitoral de Itália ultrapassa em muito a dimensão do descontentamento nacional e coloca a Europa, sempre esquiva, perante um conjunto de verdades incómodas. Coloca-lhe diante do nariz os grumos voluntariamente deixados na sopa e que começam a vir à superfície.
O que pode colocar o euro novamente à prova. Não tanto devido à nova explosão da questão italiana, mas porque a Itália, a 3.ª maior economia do clube do euro, tem interferência em todos os problemas da moeda única que até agora tentaram consertar à pressa, ou melhor, meteram apressadamente para baixo do tapete.
A votação de domingo e segunda-feira diz muito sobre a saturação geral em relação às políticas de austeridade e aos impostos, num país prostrado pela recessão e o desemprego. Expressa sobretudo a revolta contra os mandarins de um sistema que, tendo decidido entrar no círculo da moeda única, não fizeram as escolhas necessárias para lá se manterem. Não se modernizou. Não foram introduzidas reformas. Não se liberalizou com vista a tornar a economia mais competitiva e em sintonia com os seus parceiros. Este sistema criou apenas a ilusão aos italianos de que podiam continuar a desenrascar-se como antes, perpetuando clientelismos, dos mais pequenos aos mais chorudos, sem nunca pagar o preço.
Rigor das reformas à alemã
Mas os italianos não são os únicos na Europa que não mediram as consequências da escolha da moeda única. Daí o dilema de "mais ou menos Europa", "ficar ou sair do euro". O dilema não é apenas italiano: mas é um tabu, muito mais difundido do que se pensa, entre os membros do clube do euro e os que aspiram a entrar nele.
A questão agrava-se continuamente desde há 4 anos, num contexto de crise, e o clube não parece ter outra resposta que não o dogmatismo do rigor e das reformas forçadas à alemã, sem o amortecimento do crescimento e menos ainda da solidariedade intraeuropeia. Isto para não falar da recusa em recorrer à dinâmica democrática normal, em nome de uma opção tecnocrática supostamente mais eficaz.
Entretanto, agrava-se a divisão Norte-Sul e a Europa e respetiva indústria continuam a perder pontos no mercado global. Os sacrifícios não agradam a ninguém. Muito menos àqueles que, por toda a parte, observam que "a Europa tem dinheiro para salvar os bancos, mas não para relançar o crescimento e o emprego". Os mercados, por seu turno, precisam de garantias sobre o futuro e a integridade do euro para recuperarem a calma. Basta a que lhes é oferecida pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi? E até quando, agora que a Itália pode ter aberto a caixa de Pandora, expondo à vista de todos os excessivos problemas não resolvidos em torno do euro e da UE?
Momento da verdade adiado
Enquanto o consenso popular relativamente à Europa se desintegra por toda a parte, a moeda única precisa paradoxalmente de acelerar a sua integração para resistir aos problemas internos, promovendo a ratificação da tripla união – bancária, política e fiscal. Precisa de decidir, de uma vez por todas, se realmente aceita um destino partilhado a todos os níveis e seguindo o modelo alemão, agora dominante e invasivo, determinada a levá-lo até ao fim.
As eleições alemãs deste ano e as eleições europeias de 2014 congelaram temporariamente o debate e as negociações, adiando por alguns meses o momento da verdade e as escolhas entre as inúmeras contradições de que é feita a Europa. Mas as inquietações permanecem e crescem até, um pouco por toda a parte. Inclusivamente na França de François Hollande.
Um abrandamento do rigor por parte de Angela Merkel bastará para acalmar os mercados e aguentar até setembro, sem grandes problemas? A Itália fez soar o alarme, um alarme estridente. É perigoso ignorá-lo. Para a Europa e para todos.
Visto da Alemanha - Mario Monti, vítima de Angela Merkel
Será que Angela Merkel também perdeu as eleições italianas?
Na imprensa alemã, a constatação do “caos político na Itália” associa-se ao fracasso político da austeridade defendida pela chanceler.
O Süddeutsche Zeitung realça, portanto, que
o realismo frio com que Berlim insiste nas reformas e marca a UE é visto como uma exigência hostil. Monti e Bersani – bem como Berlim e Bruxelas – não conseguiram transmitir aos italianos que é necessário um remédio drástico para ficarem curados.
Mais vale portanto recusar seguir Merkel na sua política económica, recomenda o jornalista Eric Bonse no Cicero. Nicolas Sarkozy em França, Mark Rutte na Holanda e agora Mario Monti demonstraram que “aprender com Angie significa... aprender a perder!”.
Resta saber por que motivo Merkel arrecada com todas as culpas. Esta deixa rastos de terra queimada. Que ninguém diga que não tem a ver com a sua política...
É, no entanto, o que explica o Frankfurter Allgemeine Zeitung. O diário conservador denuncia os “partidos políticos descontrolados que continuam desta forma a roubar” a Itália:
Este paradigma da destabilização da nação e da União Europeia só foi possível com o método de escrutínio revoltante dos políticos manhosos – sob o Governo de Berlusconi –, que o adaptaram às suas necessidades. [...] O número 357, valor histórico destas eleições, representa a soma da idade dos 4 candidatos e do Presidente. Para os milhões de jovens italianos que, neste paraíso de deputados corruptos, não encontram trabalho, formação, universidades com as devidas condições, nem reformas, nada mudará após estas eleições.

Goldman Sachs, RUA! O POVO é quem mais ordena!

A vitória, por escassa margem, da coligação de centro-esquerda nas eleições de 24 e 25 de fevereiro, não permite destacar uma maioria clara. A imprensa europeia tenta perceber e preocupa-se com as consequências que os resultados eleitorais poderão ter para a Europa.
O resultado das eleições legislativas e senatoriais italianas surge como uma rejeição das políticas de austeridade do primeiro-ministro cessante, Mario Monti, o grande perdedor da votação. É o que atestam o sucesso do comediante e populista assumido Beppe Grillo e o regresso em força de Silvio Berlusconi, que, no entanto, é considerado responsável pela crise que o país atravessa.
"O populismo, o alvoroço e as mentiras dominam", comenta o Süddeutsche Zeitung, na sequência das eleições legislativas e senatoriais em Itália. Sem Mario Monti, o grande perdedor, a Itália nunca teria sobrevivido à crise, sublinha este diário de Munique, segundo o qual
o escrutínio italiano é uma lição especial para todos os envolvidos na crise da UE: quem hesita perde; quem gagueja será castigado, porque as coisas feitas pela metade não contam. Os eleitores italianos deixaram nas urnas uma mensagem muito clara: “não estamos a perceber nada”. Não podemos invetivá-los por isso, porque vivem num clima político que favorece as meias verdades e que eleva a sátira à categoria de razão de Estado. Os dois comediantes que se apresentaram ao eleitorado foram recompensados pelas suas afirmações quase difamatórias: Silvio Berlusconi e Beppe Grillo.
"Os eleitores lançam a Itália no caos", lamenta De Volkskrant, que considera que "a Europa é o grande perdedor destas eleições", devido à derrota eleitoral de Mario Monti:
Em Bruxelas e na maior parte das capitais europeias, existia a esperança de que Monti, que entrou em funções em 2011 para salvar a Itália da ruína financeira, pudesse prosseguir a sua política de reformas, formando uma coligação com Pier Luigi Bersani [...]. A ascensão de Silvio Berlusconi e do partido contestatário de [Beppe] Grillo devem inquietar os dirigentes europeus, tanto mais que a mistura perigosa de cólera perante a austeridade e de corrupção também se faz sentir em Espanha.
Em Atenas, o Kathimerini mostra-se preocupado com o "risco de anarquia em Itália". Cerca de um ano depois das eleições na Grécia, que conduziram a um bloqueio político e a um novo escrutínio, este diário estabelece uma analogia entre os 2 países:
Na Grécia, os Indignados distribuíram-se, eleitoralmente, em 3 direções: o partido da esquerda radical SYRIZA, já com assento no parlamento, o partido populista Gregos Independentes e os neonazis do Aurora Dourada. Em Itália, o conjunto da população foi subjugado pela posição antissistema do não fascista Grillo, que apostou na comédia, e, em menor grau, pelo veterano da política [Silvio] Berlusconi e pelos seus gestos teatrais. Além do populismo, uma das características que, a um nível diferente, aproximam Grillo e Berlusconi é a sua resistência à hegemonia da Alemanha e o despertar do orgulho nacional.
"Tudo indica que o novo primeiro-ministro [Pier Luigi] Bersani irá ficar de mãos atadas, uma vez que a forte oposição de direita o impedirá de dar seguimento às reformas iniciadas por Mario Monti", escreve, em Varsóvia, o Rzeczpospolita. Segundo este diário conservador,
será de considerar vários cenários. Possivelmente, será preciso realizar novas eleições. Contudo, o problema é que, para evitar a repetição da situação atual, a lei eleitoral teria de ser alterada. Mas como fazer isso, num parlamento dividido? Eleger um novo parlamento apenas para uma lei? A Itália está presa numa armadilha.
Por seu turno, Le Monde refere que "a Itália anti austeridade assusta a Europa". No seu editorial, este diário francês considera que o impasse político em que a Itália se encontra depois das eleições reflete o "Basta Così!" [Já chega!] dos eleitores italianos, uma palavra de ordem "preocupante para a Península e assustadora para a Europa":
O impasse italiano é também uma séria advertência dirigida à Europa. Acontece que, neste país signatário do Tratado de Roma, em 1957, e cujo compromisso europeu era sólido, mais de metade dos eleitores apoiaram candidatos que fizeram toda a campanha com base no ‘não’ à ‘Europa alemã’ (Berlusconi) ou no ‘não’ à Europa, sem mais, ao euro e aos constrangimentos que este impõe (Grillo). É para Bruxelas, Berlim e Paris que a questão é agora remetida: até quando será possível impor políticas de austeridade a opiniões [públicas] que cada vez mais as rejeitam, em Itália, e também em Espanha, na Grécia e em Portugal? Até quando será isso possível, sem tornar ainda mais profunda a preocupante fratura democrática? Até quando será sustentável essa contradição, sem ameaçar, no futuro, a própria unidade da União Europeia? Os responsáveis europeus não podem continuar a evitar dar resposta a estas perguntas.
"A Europa tropeça em Berlusconi", diz, em Madrid, o título do ABC, segundo o qual a União Europeia "se confronta com o populismo". Face ao triunfo do antigo primeiro-ministro e de Beppe Grillo, a derrota de Mario Monti parece ser a derrota da "ortodoxia reformista europeia". "A UE e os dirigentes que prepararam a ‘operação Monti’ devem refletir sobre as razões desta confusão", comenta o mesmo diário. Por seu turno, o editorialista Ignacio Camacho pergunta-se se o sucesso do Movimento 5 Estrelas de Grillo poderá propagar-se a outras partes da Europa, designadamente ao Sul:
A sua forte irrupção revela uma patologia social comum à região mediterrânica que, no marasmo político de Itália, encontrou a sua via de expressão numa fobia antissistema. As tentativas de imitação serão fáceis em países que, como a Espanha, vivem uma forte perda de prestígio das suas elites.

Contramaré… 28 fev.

O presidente do grupo Jerónimo Martins critica “mensagens difíceis de compreender” de ódio e insulto e diz: “Temos é de nos sentar à mesa e definir um rumo para o nosso país. É esse o meu apelo à Assembleia da República, aos partidos e aos Governos. Deixem de pensar nas eleições que se aproximam, de pensar apenas nos vossos interesses pessoais e pensem no povo, no país, no futuro”, afirmou. E continuou: “Isto só se consegue quando há consenso sobre o tipo de sociedade que queremos, ouvindo as pessoas, sejam representantes de empresas, sejam normais”.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Para a agenda da 7.ª avaliação da borrada da troika…

Os precários e os desempregados em Portugal são 2.989.000, revelou a Associação contra a Precariedade - Precários Inflexíveis (ACP-PI), com base em dados do 4.º trimestre de 2012.
Ana Feijão, ativista da ACP, estimou que "19.000 pessoas perderam os seus postos de trabalho, em média, por cada mês, desde a chegada da troika". "Este é o cenário que considerámos ser importante os senhores da troika conhecerem, num momento em que se preparam para a 7.ª avaliação do plano de austeridade", explicou. "No último ano não só desapareceram postos de trabalho, como não se reabilitou a economia. Além de se registar uma acentuada diminuição do valor do salário direto", acrescentou.
Portugal estava em 2011 entre os países em que o risco de pobreza e exclusão social nas crianças e nos idosos suplantava a média da UE, revela um relatório divulgado pelo Eurostat.
O relatório do gabinete de estatísticas da UE indica que na população em geral, os resultados mostram também que entre 2010 e 2011 baixou ligeiramente – de 25,3% para 24,4% – o número de portugueses em risco de pobreza e exclusão social, um dado que se deve apenas ao facto de nesse período ter baixado também o rendimento medio do país que serve de base ao cálculo das taxas.
Em apenas dois anos - 2011 e 2012 -, Portugal foi o país da Europa que mais cortou na despesa social, tendo reduzido o bolo em 3.700 milhões de euros, quase o valor pretendido para a redução permanente na despesa pública (4.000 milhões) para 2013 e 2014.
Assim, a 7.ª avaliação ao programa de ajustamento português, servirá para tentar suavizar a referida redução das funções do Estado e, com ela, as metas do programa para a redução do défice público, de maneira a não mergulhar o país numa espiral recessiva e a conter a subida explosiva do desemprego. Segundo as últimas previsões da Comissão Europeia, divulgadas na sexta-feira passada, Portugal é o recordista europeu na redução dos chamados benefícios sociais (em dinheiro) e das transferências sociais (em espécie).
Já falta pouco para que o governo, cumprindo as receitas da troika, faça a implosão social de um país e de um povo, que lhe confiou (em eleições) a oportunidade de solucionar os problemas existentes e graves (para os credores), à tomada de posse…
Como “eles” gostam de dizer, os números falam por si!
De acordo com os dados do INE, a população empregada em dezembro era de 4.532.000 de pessoas e tendo em conta os números do Pordata, que apontam para 5.494.800 de população ativa, em 2012, quer dizer que haveria 962.800 “inativos”… É obra!
Apesar de “oficialmente”, no último trimestre de 2012, estarem “apenas” desempregados 923.200 (ou 962.800) de portugueses, na realidade eram já mais de 1.400.000 os desempregados, dos quais 798.000 desses portugueses não recebiam qualquer subsídio, o que revela que haveria cerca de 1.589.000 precários (mas necessários e sem futuro). É obra!
2.989.000 de pessoas desempregadas e com empregos precários (sem grande rigor). É obra!
Claro que esta panaceia da “economia social”, que absorve serviços obrigatoriamente do Estado ou das Empresas, que são transferidos para a sociedade civil (ou 3.º Setor), alivia as responsabilidades do Estado e das Empresas e deixa as vítimas entregues à caridadezinha, enquanto acrescenta alguns postos de trabalho, normalmente feito pelas IPSS… É preciso ter lata!
O pior é que o futuro, no que ao desemprego diz respeito, vai piorar, sem que a “promotora” troika confesse ou peça desculpa pelas burrices de que é responsável ou pelo plano maquiavélico que engendrou, com o apoio do governo… É preciso ter lata!
Inexplicavelmente, vem o Eurostat dar a conhecer que o risco de pobreza em Portugal diminui entre 2010 e 2011, sem que ninguém diga que este resultado é anterior à vinda da troika e à entrada deste governo, que inverteu a situação em 2012, embora não haja estatísticas. Mas os números acima permitem concluir… É preciso ter lata!
Desonesto, é o Eurostat não dizer que os cálculos para medir o risco de pobreza, que tem como base o rendimento médio nacional, dão um resultado “fabricado”, já que esse rendimento médio nacional baixou e de que maneira, o que a continuar a baixar, como dizem, acabará, estatisticamente, com a pobreza em Portugal… É preciso ter lata!
Entretanto, no meio desta miséria, Portugal foi o país da Europa que mais cortou na despesa social, tendo cortado 3.700 milhões de euros e que o governo pretende ainda cortar mais 4.000 milhões, em 2013 e 2014… É preciso ter lata!
Já não bastava que tivéssemos os impostos mais elevados da Europa, com redução do direito ao retorno, como estamos no pódio das desigualdades sociais… É preciso ter lata!
Mas mais grave que tudo, com tudo, é pensar-se que a 7.ª avaliação da troika será para tentar suavizar a redução das funções do Estado (continuando a destruição do Estado Social) e fazer de conta que vamos reduzir o défice público (que vai crescendo), para não mergulharmos numa espiral recessiva (como se não estivéssemos) e a conter a subida explosiva do desemprego (que geraram), sem qualquer medida, seguramente! É preciso ter lata!
E é esta a agenda e o rol de problemas que a troika teria que resolver, mesmo sabendo nós, que não sabem ou não querem resolver, caso contrário já o teriam feito… É preciso ter lata!
Vaffanculo!

Ecos da blogosfera – 27 fev.

Torrentes de palavras, disparadas como armas…

Terminou a expedição pelo mundo das letras que, durante 3 dias, conduziu, pelos mais variados e inebriantes itinerários, um público apaixonado. Um reencontro que, pelo 14º ano consecutivo, reuniu, na Póvoa de Varzim, a família Correntes d’Escritas com elementos vindos um pouco de todo o país e de fora dele.
A cumplicidade que carateriza o Encontro levou Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, a reconhecer que “deve ser o único evento no país em que toda a gente se trata por tu, exceto dois, que são o Professor e o Maestro”, Eduardo Lourenço e António Victorino D’Almeida, respetivamente.
Foram perto de 60 os escritores participantes nesta edição, protagonistas das 7 mesas de debate que, a partir de um verso geraram vários momentos de manifesto perante a atualidade que vivemos, não fosse o Correntes d’Escritas um Encontro de Escritores, aqueles que dominam a palavra, e não deixaram de a usar para exprimirem a sua insatisfação e revolta face ao atual estado político, social e cultural do país.
Helder Macedo referiu-se ao desinvestimento cultural de que o país tem sido alvo, demonstrando a falta de reconhecimento pelo valor e trabalho de muitos, escritores, músicos, artistas, compositores, atores, pintores, entre outros.
Este aspeto também foi referido por Hélia Correia, Vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa, que fez um grande louvor ao Correntes d’Escritas, “uma festa contínua da palavra”, que deve ser tomado como exemplo, e, por isso mesmo, terá de continuar, “não vai poder absolutamente acabar” e, se para isso “for preciso fazer-se a revolução aqui, faz-se”.
Vergílio Alberto Vieira justificou a sua presença na 14ª edição do Correntes d’Escritas explicando que tinha decidido retirar-se, mas estava a participar por entender que era uma cobardia, numa altura em que todas as vozes são poucas para se fazerem ouvir neste país. 
Cristina Carvalho disse que “parece incompreensível e inatacável esta situação que agora vivemos, desgraça a todos os níveis”. E por achar que “neste momento todas as ocasiões são insuficientes”, aproveitou a ocasião para “expressar a minha mais profunda indignação, revolta e impotência pelo nosso futuro, pelo futuro da juventude de Portugal que se apresenta muito escuro e desanimável. Nunca pensei vivermos numa situação destas numa Europa que sempre sonhei já que nasci europeia”.
Rui Zink assumiu que ele próprio procura escrever e entrosar-se com o que se passa à sua volta e ser um bom cidadão, defendendo que “o nosso dever é ler e escrever com os olhos bem abertos”. Mas o melhor momento foi quando exigiu que a plateia o ‘grandolizasse’, até porque ele é “doutorado e o ministro Relvas teve uma licenciatura, portanto se ele teve direito, porque é que eu não tenho? Venha daí essa ‘Grândola’, vá!” A plateia do Auditório levantou-se e cantou a bons pulmões a canção de Zeca Afonso.
Estes são só alguns dos exemplos que, durante o evento, deram voz aos sentimentos dos participantes.
E sobre a viagem Correntes d’Escritas, que todos pretendem repetir, Luís Diamantino referiu que, “neste momento, está em velocidade de cruzeiro, diria quase que já foi ligado o piloto automático”. Prova disso é que “temos cada vez mais público, temos cada vez mais dificuldade em acomodar o público, sendo que a maior parte dele está sem qualquer tipo de conforto porque o espaço não comporta toda a gente que nos procura e também não gostaríamos de limitar a presença do público”. E, neste sentido, “entendemos que, no próximo ano, o grande desenvolvimento e crescimento em número de pessoas presentes, será colmatado com a abertura do Cine-Teatro Garrett, pronto para receber o Correntes d’Escritas, um espaço confortável que concentrará tudo.”
Lembrando, uma vez mais, o principal objetivo do Correntes d’Escritas atestou: “queremos promover o livro e a leitura e, por isso, é que não abdicamos de ir às escolas e de receber aqui escolas de outros concelhos, não abdicamos de ter prémios para crianças e jovens. É semear para colher mais tarde e penso que esta sementeira deu resultado porque temos, nestes 14 anos, mais público jovem, que está interessado”.
O Vereador da Cultura e Educação considera que temos que “acreditar que Portugal tem futuro e o futuro é através da educação e da cultura. Não há melhor para promover turisticamente uma cidade, região ou país do que a cultura”. O Correntes d’Escritas é um exemplo deste investimento cultural, assinalou, constatando que “é por isso que todas as pessoas que vêm até à Póvoa, os leitores, os ouvintes, os expectadores, os escritores, os editores, ficam sempre extasiados com o número de pessoas que aqui estão para ouvir falar de poesia, de literatura, de livros, isto é único em Portugal. É, como dizem, o maior evento literário em Portugal”. É isto que promove a nossa cidade e região dentro e fora do país, o que nos dá muito orgulho e nos envaidece bastante pelo que temos feito em prol da cultura em Portugal.
E na esperança de que o Correntes d’Escritas não perderá a sua força e continuará a ultrapassar todas as dificuldades, para o ano cá estaremos, num novo espaço mas com a mesma vontade.