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sábado, 9 de agosto de 2014

É tudo gente séria, mas a “solidariedade” é um valor da classe…

Na quinta-feira, 31 de julho, o Governo aprovou a alteração à lei do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, que permitiu que apenas os depósitos dos acionistas com mais de 2% do capital do BES passassem para o BES-mau.
Mas o comunicado do Conselho de Ministros que se realizou nesse dia não fez qualquer menção à alteração. E não houve qualquer comunicação ou contacto com a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o "polícia" da Bolsa. Ou seja, durante 28 horas, as ações do BES estiveram a ser negociadas na Bolsa, quando já deviam ter sido suspensas. Só a 4 de agosto, já depois do anúncio da solução para o BES, é que a CMVM foi informada sobre o conteúdo da lei. Por outro lado, durante esta fase, o Banco de Portugal não informou a CMVM de que o BES fora suspenso do eurosistema, um fator que influenciaria negativamente o preço das ações.
A CMVM garantiu que desconhecia a decisão sobre o BES e que só suspendeu as ações na sexta-feira passada quando soube que estavam iminentes novos acontecimentos no banco e que abriu uma investigação para apurar se houve fugas de informação ou violação de defesa do mercado.
Podem ser dezenas as pessoas ouvidas pela CMVM para apurar se houve abuso de informação privilegiada e manipulação de mercado no processo BES. Entre os responsáveis a ser ouvidos podem estar ministros, secretários de Estado, juristas e outros técnicos envolvidos na preparação do Decreto-Lei n.oº114-A/2014, aprovado no Conselho de Ministros de quinta-feira, 31 de julho, que pavimentou a intervenção no Banco Espírito Santo.
André Macedo
A dimensão da investigação ainda está por apurar, visto que a CMVM desconhece quantas pessoas no governo e na sua órbita souberam que, entre quinta-feira (31 de julho) e as 15h50 de sexta-feira (1 de agosto) - altura em que as transações do banco foram suspensas -, o Banco de Portugal se preparava para usar a bomba atómica no BES; ou seja, que o governador Carlos Costa, usando poderes reforçados e inéditos acabados de aprovar, se preparava, durante o fim-de-semana, para desviar todos os acionistas do banco, os obrigacionistas subordinados e os ativos tóxicos para um banco-mau, salvando assim a parte boa e poupando os contribuintes, mas arrasando tudo o resto.
Para a CMVM a questão é a seguinte: as ações do BES poderiam ter sido suspensas logo na quinta-feira para evitar que qualquer fuga de informação pudesse chegar ao mercado. Se alguém soube que o BES podia ser partido e que todos os acionistas poderiam ser penalizados, e se usou essa informação para benefício próprio ou de terceiros, isso configura crime de mercado. Neste sentido, a prudência poderia ter aconselhado o governo a comunicar à CMVM, logo na quinta-feira, que se preparava para tomar uma decisão, que embora não especificamente dirigida ao BES - as leis são gerais e abstratas - aplicar-se-ia ao banco e, de certa forma, era feita à medida dele.
Mas não foi o que aconteceu. O decreto-lei foi aprovado pelo Conselho de Ministros de quinta-feira de manhã e, ainda no mesmo dia, foi promulgado pelo Presidente da República. Tudo isto aconteceu com as ações do BES a serem transacionadas normalmente no mercado, embora a certa altura a cair a pique (bateram nos 10 cêntimos) e com volumes anormais: nos últimos 42 minutos de negociações, na sexta-feira, mudaram de mãos mais de 80.000.000 de títulos, o dobro da média diária.
Terá havido fuga de informação e crime de mercado ou o governo conseguiu, ainda assim, manter a informação secreta e restrita a um número mínimo e controlado de pessoas? A CMVM vai querer saber quantas pessoas e quem em concreto entrou (e quando) em contacto com a nova legislação que transpôs para o quadro jurídico português a diretiva do Conselho Europeu de 14 de maio deste ano. Esta é única maneira para tentar perceber qual o risco de propagação indevida de um dos factos relevantes mais sensíveis de sempre em Portugal.
O Dinheiro Vivo procurou obter junto do governo a lista de ministros e secretários de Estado que estiveram presentes no Conselho de Ministros de quinta-feira, mas até ao fecho desta edição não foi possível, sendo que os ministérios estiveram todos representados pelo respetivo ministro ou por um dos seus secretários de Estado. Isto é: 13 ministérios, mais o vice-primeiro-ministro Paulo Portas (Passos Coelho estava de férias).
Aliás, esta legislação, que voltará a ser retocada mais para a frente para corrigir o que, entretanto, se descobriu estar mal, mas também para transpor o que falta da diretiva europeia, já tinha passado pela reunião de secretários de Estado que antecede sempre - porque prepara - as reuniões de Conselho de Ministros. Segundo fonte do governo, esta legislação já vinha a ser preparada de trás, mas na última semana teve de ser acelerada. A CMVM vai, portanto, ter de reconstituir todo este percurso, já que assim as dúvidas afetam não apenas o período sensível entre a última quinta e sexta-feira, mas também a fase anterior.
Quanto ao governo, a decisão de não ter informado a CMVM (foi o Banco de Portugal que o fez, sem detalhes, apenas a meio da tarde de sexta-feira, através de um telefonema de Carlos Costa para Carlos Tavares, presidente da CMVM), encontra uma possível explicação, embora ninguém a assuma: embora correndo o risco de haver insider trading, esse perigo pode ter sido considerado, pelo Executivo, menos destruidor do que uma corrida aos depósitos que poderia ter ocorrido se, na quinta-feira, dia seguinte à apresentação dos resultados do BES (prejuízo de 3.600 milhões), o mercado fosse surpreendido com a suspensão das ações.
Ou seja, entre defender os acionistas e evitar o contágio sistémico, a opção foi pela segunda. Será que foi assim? O tema é de gestão politicamente sensível e a CMVM não quer levantar suspeitas, mas o assunto não ficará por aqui.

Ecos da blogosfera - 9 ago.

Para o entendimento cabal(ístico) do desporto da moda…

Assumindo a relação que tem com a família Espírito Santo, ao ser casado com uma prima de Ricardo Salgado, Miguel Sousa Tavares salientou, no seu comentário semanal na SIC, que a história construída em torno do ex-presidente do BES “tem 2 versões” e que “até agora só vimos uma”.
Aqui vão 2 versões…
Julgar o antigo banqueiro não é apenas injusto, é perigoso: se pusermos Ricardo Salgado no banco dos réus, o mais provável é que o banco dos réus comece a dever dinheiro a toda a gente.
Ricardo Araújo Pereira
O 32.º caminho é a Inteligência Administrativa,
segundo o Tratado de Numerologia Cabalística
Como diz Miguel Sousa Tavares, atacar Ricardo Salgado é agora uma espécie de desporto nacional. Há coisas realmente incompreensíveis, neste país. Sucedeu o mesmo com Vale e Azevedo, e também com Oliveira e Costa: só porque eram suspeitos de crimes graves e levaram à ruína as instituições que lideravam, desatou tudo a atacá-los. As duas primeiras ainda se toleram, mas à terceira Sousa Tavares não conseguiu calar o seu grito de revolta. Eu, que prezo muito a originalidade na vida pública, estou com ele. Basta de ataques a Ricardo Salgado. Que diabo, já cansa. Sousa Tavares e eu estamos fartos. É tempo, aliás, de serem desmistificadas algumas mentiras descaradas que a comunicação social tem divulgado acerca do antigo presidente do BES. Por exemplo, tem sido dito que Salgado recebeu uma prenda de 14 milhões de euros. Não é preciso investigar muito para saber que é falso. De uma vez por todas: as pessoas da classe social a que Ricardo Salgado pertence não recebem prendas, recebem presentes. Também não é verdade que a credibilidade do BES tenha ido pela sanita abaixo. Foi pela retrete. Sejam rigorosos.
A detenção de Salgado também me chocou, e espero sinceramente, para bem do país, que a justiça pare de o importunar. Julgar o antigo banqueiro não é apenas injusto, é perigoso: se pusermos Ricardo Salgado no banco dos réus, o mais provável é que o banco dos réus comece a dever dinheiro a toda a gente.
Por outro lado, e como também é costume da comunicação social, só se fala das vidas que Ricardo Salgado arruinou. Não se diz uma palavra sobre as pessoas que beneficiou. A reputação de Alves dos Reis, por exemplo, merece uma reavaliação.
Além do mais, os Espírito Santo continuam a fazer falta à banca portuguesa. O tribunal de comércio do Luxemburgo aceitou o pedido de gestão controlada feito pelas empresas do Grupo Espírito Santo. É uma mudança bastante grande relativamente ao regime de gestão descontrolada que vigorava até aqui. Receio que seja necessário um período de adaptação. Talvez a transição deva ser feita por uma administração mista, com membros da família Espírito Santo e pessoas que percebam mesmo de finanças. E só depois será possível nomear um conselho de administração mais credível do que o anterior. Por exemplo, com administradores recrutados no estabelecimento prisional do Linhó.
Folheio as páginas dos jornais, leio os comentários, ouço certos políticos e opinion-makers, e tenho de concluir que o país está cheio de fervorosos fãs de Philip K. Dick – para muito boa e indignadíssima gente, nós vivemos no mundo de Relatório Minoritário, onde existem uns “adivinhos mutantes” chamados precogs que vêem o futuro e permitem que os crimes sejam impedidos ainda antes de serem cometidos.
As paisagens de Portugal e as páginas dos jornais estão adornadas com vastos rebanhos desses precogs, agraciados com o maravilhoso dom da presciência. Infelizmente, porque não se pode ter tudo, são precogs com delay: só depois de as coisas acontecerem é que eles ficam absolutamente convencidos de que já as conheciam por antecipação. E então dizem: “Ora, ora, não se estava mesmo a ver que isto do BES ia acabar como acabou? Como é possível que ninguém tenha percebido no que isto ia dar? Os sinais não estavam já todos aí?”
E claro está: sendo o precog lusitano portador de tão magníficas qualidades, ele não as quer guardar só para si. Ou melhor: está convencido que os outros também as possuem. Tão convencido, aliás, que se alguém tem o azar de admitir não ter visto chegar a tragédia a léguas de distância, então é porque fechou os olhos de propósito. Segundo a teoria precogógica mais recente, foi precisamente isso que aconteceu ao governador do Banco de Portugal.
No mundo Relatório Luso-Minoritário, o governador do Banco de Portugal desempenha o papel que Steven Spielberg atribuiu a Tom Cruise na adaptação do conto ao cinema: ele é o chefe da Divisão Pré-Crime. Ou seja, é suposto Costa agarrar todos os ladrões antes de roubarem, todos os banqueiros antes de afundarem os bancos. E não vale a pena ele argumentar que não é precog nem tem precogs na Rua do Comércio – se resmas de precogs tugas vêem a ruindade chegar a léguas de distância, por que raio é que Costa se mostrou incapaz de caçar Ricardo Salgado antes de ele empurrar o BES pela varanda abaixo?
precog lusitano vê cair o BES e pergunta: “Onde estava o regulador?”. Vê cair o BPN e questiona: “Onde estava o regulador?” Vê cair o BPP e inquere: “Onde estava o regulador?” Vê cair a Dona Branca e interroga: “Onde estava o regulador?” Vê cair o Lehman Brothers e demanda: “Onde estava o regulador?” Vê cair o Northern Rock e indaga: “Onde estava o regulador?” Vê cair Bernard Madoff e interpela: “Onde estava o regulador?” Vê cair Alves dos Reis e perquire: “Onde estava o regulador?”
Caros leitores, mas, sobretudo, caros precogs: ninguém tem dúvidas de que o sistema financeiro actual é de uma tremenda complexidade e de uma terrível opacidade. Nenhuma pessoa decente aprecia offshores, sedes no Luxemburgo ou falhas de regulação. Mas ficarmos por sistema a queixar-nos do sistema é uma estupidez, sobretudo quando uma parte essencial do sistema mudou para melhor. Esse é o problema do precog lusitano: está preso no passado a fingir que olha para o futuro e esquecendo-se de verificar o presente. E o presente é este: accionistas responsabilizados, sistema financeiro chamado a pagar a conta, e pais, filhos e netos Espírito Santo com o seu dinheiro congelado. Esta é uma mudança radical, que milhares de precogs parecem não querer ver, preferindo antes alimentar a sua 3.897ª teoria da conspiração. É preciso uma certa paciência para aturar tanto visionário.

Contramaré… 9 ago.

Arlindo de Carvalho, antigo ministro da Saúde de Cavaco Silva, e o ex-presidente do BPN Oliveira Costa e outros arguidos foram acusados de ilícitos relacionados com a aquisição de terrenos, através de crédito obtido junto do Banco Português de Negócios (BPN), num valor superior a 50 milhões de euros começam a ser julgados a 06 de janeiro de 2015 por burla qualificada, abuso de confiança e fraude fiscal qualificada.
A acusação, de março do ano passado, refere que a empresa do ex-ministro e do sócio José Neto, também arguido, revendiam os terrenos depois ao banco, que acabou por ser nacionalizado em novembro de 2008.
Este é mais um processo do universo BPN em julgamento. O principal começou a ser julgado a 15 de dezembro de 2010, com José Oliveira Costa e mais 15 arguidos.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O estrabismo dos senhores do “império dos comentadores”…

Do maior ao mais pequeno acionista, todos perdem. Quem tem ações do BES fica apenas com direitos sobre o "banco mau" - fora de Bolsa.
Segundo o comunicado do Banco de Portugal, estarão no "bad bank", os "ativos problemáticos, que, no essencial, correspondem a responsabilidades de outras entidades do Grupo Espírito Santo e às participações no Banco Espírito Santo Angola, S.A., por cujas perdas respondem os acionistas e os credores subordinados do Banco Espírito Santo".
Os depósitos de todos os acionistas do antigo BES poderiam, neste momento, estar em risco, se não tivesse sido feita, à última hora, uma alteração à lei do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (RGICSF).
O Governo procedeu à alteração da lei a 1 de agosto, em vésperas da criação do Novo Banco, permitindo que passassem para o BES-mau - veículo no qual estão concentrados os ativos tóxicos do BES - apenas os depósitos dos acionistas com participação qualificada, ou seja, com mais de 2% do capital do banco. Os depósitos dos acionistas do BES com uma participação igual ou superior a 2%, assim como os dos antigos administradores do banco e respetivos familiares em primeiro grau, viram os seus depósitos passarem para o BES-mau.
Um advogado responsável pelo departamento bancário e financeiro de uma sociedade explicou que "a atuação do Banco de Portugal é legal" e que está prevista "no artigo 145-H do RGICSF, que regula o património e financiamento do banco de transição (neste caso, o Novo Banco)".
No entanto, o advogado alertou para o facto de a alínea que se refere à transferência dos depósitos para o “banco mau” ter sido alterada a 1 de agosto para se "limitar apenas aos acionistas com participação qualificada". É que antes disso, a lei não fazia distinção entre pequenos acionistas e quem tinha uma participação qualificada. Ou seja, seriam colocados no “BES-mau” todos os depósitos de todos os acionistas. "Isso seria um escândalo. Já não bastava os pequenos investidores perderem as ações e ainda ficariam sem os depósitos", afirmou uma fonte do sector financeiro.
Mas a verdade é que, antes da alteração de última hora - que resultou da transposição de uma diretiva europeia em 2012 -, a lei indicava que não poderiam ser transferidas para o banco de transição [Novo Banco] quaisquer obrigações contraídas pela instituição de crédito originária perante "os respetivos acionistas, membros dos órgãos de administração ou de fiscalização, os revisores oficiais de contas ou sociedades de revisores oficiais de contas ou as pessoas com estatuto semelhante noutras empresas que se encontrem em relação de domínio ou de grupo com a instituição".
O diploma publicado a 1 de agosto (e que entrou em vigor no dia seguinte) diz que não podem passar para o Novo Banco os depósitos dos "respetivos acionistas, cuja participação no momento da transferência seja igual ou superior a 2 % do capital social, as pessoas ou entidades que nos 2 anos anteriores à transferência tenham tido participação igual ou superior a 2 % do capital social, os membros dos órgãos de administração ou de fiscalização, os revisores oficiais de contas ou sociedades de revisores oficiais de contas ou as pessoas com estatuto semelhante noutras empresas que se encontrem em relação de domínio ou de grupo com a instituição".
A lei prevê que passem para o BES-mau "os depósitos dos cônjuges, parentes ou afins em 1.º grau ou de terceiros que atuem por conta das pessoas ou entidades referidos nas alíneas anteriores", ou seja, familiares de acionistas ou administradores.
Sem querer meter-me onde não sou chamado, embora esteja a pagar há 3 anos, como todos os portugueses, mas mais os Funcionários Públicos e Pensionistas, as fraudes, incompetências ou malabarismos de banqueiros, fico perplexo com a súbita e intempestiva preocupação do “império dos comentadores” com a perda do valor das ações dos pequenos acionistas do BES, sem que tenham perdido os seus depósitos.
Pelo que se lê, só perderam as ações e os depósitos os acionistas que no momento da transferência tinham 2% ou mais do capital social, as pessoas ou entidades que nos 2 anos anteriores à transferência tinham tido participação igual ou superior a 2 % do capital social (lá se foi o truque do Goldman Sachs e da PT) e mais os responsáveis diretos na administração do banco…
Assim sendo, relativamente aos pequenos acionistas, perderam as ações e pronto! Ou seja, arriscaram e perderam. Quem os deveria indemnizar, se investiram num jogo de risco e tiveram azar, como qualquer “capitalista” ou empresário? O Estado, ou seja, os contribuintes? Não faltaria mais nada!
E a minha perplexidade tem a ver com o estrabismo dos membros do “império dos comentadores”, que durante 3 anos, aceitaram e defenderam, sem despudor, que os contribuintes em geral e até os de mais baixos rendimentos, pagassem com toda a austeridade a que foram condenados, os desmandos da banca, que deram origem à intervenção da troika e à impagável dívida.
E com mais denodo, aceitaram e defenderam, aceitam e defendem, que se cortem salários aos Funcionários Públicos (com aumento de horário) e se corte nas pensões dos Reformados, enquanto eles, os senhores do “império dos comentadores”, todos do setor privado, são excluídos da penitência. Como pretendem agora demonstrar a injustiça de haver cortes (das ações) de uns pequenos acionistas de um banco?
Como podem ser tão facciosos?
Ou propõem a exclusão do grupo destes pequenos acionistas os FP e os Pensionistas, retirando-lhes também os depósitos? Já agora, sejam coerentes e continuem a castigar apenas os FP e os Pensionistas.
E eles, particularmente, ficam de fora, só por serem estrábicos…

Ecos da blogosfera - 8 ago.

Os “sinais exteriores de riqueza” são sinais da pobreza interior

A razão confere ao ser humano a capacidade de escolha frente às possibilidades que a vida lhe oferece. Porquanto o homem pode optar, ao contrário de se submeter, se assim lhe interessar.
Por tal condição, avançou aos estágios tecnológicos tão apreciáveis atualmente, além de estimular a sua continuidade em direção ao que a imaginação e a realização permitirem no futuro.
Armando Correa de Siqueira Neto
Do ponto de vista da preservação da espécie e do aperfeiçoamento, os fins estabelecidos inspiraram-no na jornada evolutiva. E, para atingir cada fim pretendido, procurou-se a criação dos respetivos meios. Mas ocorreu uma séria incompreensão, levando-o a trocar o fim pelo meio. Mais: a troca revestiu-se de verdade inquestionável e absoluta. Diz-se, sem pestanejar: “É assim mesmo!” Medo de eventual revisão?
Com o desenvolvimento da sociedade, novos interesses ganharam espaço na vida comum, incluindo-se, notoriamente, a posição social que tantos aspiram atingir. A partir dessa perspetiva, os meios que deveriam servir para se alcançar a sobrevivência, mesclaram-se com o status quo, e, em vários casos, resultou em exagero. Por exemplo, a moradia (meio) para a proteção (fim) pessoal e familiar, tornou-se a finalidade em si mesma, haja em vista muitas pessoas a predisporem-se mais a conquistá-la para a satisfação das aparências sociais do que propriamente para a sua segurança – ainda que não se perceba -, pois as dimensões arquitetónicas e os padrões de luxo servem, consideravelmente, de modo estatisticamente comprovado, para atrair o perigo do roubo e, nos casos extremos, da morte.
Entretanto, o autoengano faz o seu autor alegar que só quer maior conforto e segurança, e que, infelizmente, alguns assim não o permitem. Porém, equivale a dizer que há efeito sem causa. Reação sem ação. É prudente lembrar que quem pretende chamar a atenção da sociedade para a sua abundância, atrai não apenas aquele do seu interesse, mas outros cujo objetivo é perigosamente distinto... Ainda: verifica-se que mesmo que a troca do fim pelo meio salte aos olhos, a cegueira causada pela autoilusão impede de se observar criticamente tal equívoco, e faz ainda concluir-se, de forma imperativa, que morar modestamente é pouco, e que a riqueza simboliza inteligência superior. Será mesmo?
Portanto, ao contrário de tentar reduzir as hipóteses de sofrer os perigos através da ponderação e da modéstia, age-se contrariamente à lógica da segurança, erguendo enorme chamariz através da irrefletida necessidade da opulência. Não se aprecia sequer que houve uma alteração do fim pelo meio, e que a simples sobrevivência foi engolida pela complexa dimensão da aparência e da satisfação acerca da localização na pirâmide social. Não é arriscado demais?
É claro que há lugares ao redor do mundo onde a segurança se mostra melhor instalada. Não obstante, inexiste a garantia de que se perpetue tal proteção, pois o descuido é filho da acomodação, e somos sempre tentados a tal relaxamento. E mesmo nos casos em que aparentemente a segurança se encontra em alta, a realidade impõe-se inexorável. Logo, emerge uma pergunta: Nas atuais condições sociais, não se anda na contramão do bom senso ao mostrar grandeza (e gastar com ela) e se expor tão abertamente?

Contramaré… 8 ago.

O nível de depósitos da Caixa foi registando um volume crescente ao longo do mês de Julho, à medida que ia aumentando a instabilidade à volta do banco e do grupo Espírito Santo. O pico aconteceu esta segunda-feira, num dia em que 200 milhões de euros de clientes particulares, na maioria antigos clientes do BES, foram depositados aos balcões da Caixa.
A Caixa, que é um banco do Estado, é vista por muitos portugueses como um banco de refúgio em alturas de turbulências no sector financeiro. Além disso, no final do mês passado, a CGD apresentou lucros no semestre e um rácio de solidez (common equity Tier 1) de 10,7%, acima dos 7% exigidos pelas autoridades europeias.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Retrato de um país de bosta de que alguma gente gosta…

Há cada vez menos portugueses a receber prestações sociais.
Os dados do Instituto de Segurança Social relativos a junho revelam que:
Rendimento Social de Inserção (RSI) - receberam 219.374 pessoas (menos 1.563 do que em maio), menos 45.757 do que em 2013;
Complemento Solidário para Idosos – receberam 173.450 (menos 14.650 do que em maio), menos 52.265 do que em 2013;
Subsídio de Desemprego - receberam 328.229 pessoas (menos 13.179 do que em maio), menos 64.790 do que em 2013;
Abono de Família – receberam 1.169.146 crianças e jovens (mais 1.391 beneficiários do que em maio) e menos 38.280 do que em 2013.
Resumindo: Só num mês (em maio), 28.001 portugueses perderam os subsídios a que tinham direito e num ano (2013/14), perderam os subsídios a que tinham direito, 201.092 portugueses.
Feitas as contas, conclui-se que neste momento há 1.890.199 de portugueses (17,78%) a receberem subsídios para sobreviverem, que há um mês eram 1.918.200 (18,65%) e que há um ano eram 2.091.291 (19,68%).
Apesar de as percentagens estarem a diminuir ao mês e ao ano, não quer dizer que haja “milagres”, tendo em conta que a cada mês, por atingirem o limite estabelecido para alguns dos subsídios, cada vez mais portugueses perdem direito aos direitos, pelo que podemos concluir que a coisa, ao contrário do que parece, está sempre a piorar, apesar de o país estar (estava) a melhorar (?)…
Basta ter em mente que neste momento, há 201.092 pessoas que deixaram de receber os apoios sociais, e que quase todas têm família constituída, quer dizer que todas estas pessoas têm que inventar um expediente para subsistir e dar subsistência aos seus (sabe-se lá como), enquanto os vigaristas, ativos e passivos, também vão surgindo em crescendo, apropriando-se do que é de todos e destes desafortunados também…
É caso para dizer que enquanto o Sistema Judicial não for eficaz, nunca mais a Justiça (social) se implantará… E com menos tribunais, o que se espera?
Ainda bem que as taxas de desemprego descem (?), ao que dizem, embora as taxas de emprego também, o que é um contrassenso ou intrujice para enganar os néscios:
Em 2011, 53,9% das pessoas no ativo estava, empregadas;
Em 20012, já só havia 51,8% a trabalhar e
Em 2013, eram só 50,6%.
Deixem-se de comparar as taxas do desemprego e vamos aos números e taxas de emprego!
A demagogia é uma bosta, de que o Marco António Costa gosta:

Ecos da blogosfera - 7 ago.

Uma solução nova com dinheiro da velha almofada dos tansos?

Sem uma nova política jamais teria sido possível um Novo Banco – e isso deve ser sublinhado.
Seria muito fácil estar aqui a fazer a lista de todas as coisas que podem correr mal, ou que simplesmente não estão bem explicadas, na solução encontrada pelo Banco de Portugal e pelo Governo para o descalabro do BES. Também não seria difícil apontar contradições nos discursos de Carlos Costa e Passos Coelho. Mas, muito de vez em quando, convém pôr em suspensão o modo-trauliteiro com que habitualmente nos dirigimos a quem manda em nós, olhar bem para o contexto, e reconhecer o esforço feito para encontrar uma saída justa e decente para a injusta e indecente gestão do Banco Espírito Santo.
Isto não é, de todo, habitual. A política e a economia não são actividades de meninos de coro, e num país tão pequeno e informal como o nosso os interesses corporativos têm uma força desmesurada. E é precisamente por ser tão pouco habitual que deve ser celebrado – este fim-de-semana houve muita gente, do Banco de Portugal ao Governo, passando pela própria Presidência da República, que esteve empenhada em defender o interesse nacional, e que quando foi obrigada a escolher entre contribuintes e accionistas, optou por proteger os contribuintes e deixar cair os accionistas. Parece evidente, não é? Só que ninguém antes o tinha feito. Há 1 ou 2 anos, o BES teria sido considerado too big to fail.
Perante isto, reagir à solução encontrada por Carlos Costa, Vítor Bento e governo com o velho encolher de ombros é apenas uma forma cínica de igualar tudo, como se entre BPN e BES não existissem diferenças radicais. Convém tirar a rezinga do piloto-automático. A solução encontrada para o caso BES foi o anti-BPN – antes, o que era bom (a SLN) permaneceu escandalosamente nas mãos dos accionistas, enquanto o que era mau (o BPN) ficou nas mãos dos contribuintes; agora, o que é bom fica nas mãos dos contribuintes (o Novo Banco), enquanto o que é mau (o lixo do BES) fica nas mãos dos accionistas. Esta solução, para os pequenos accionistas e para alguns credores, poderá até ser injusta – mas, por uma vez, ninguém poderá acusar o Estado de estar a manobrar para proteger os “poderosos”. Mesmo que a venda do Novo Banco fique aquém dos 4.900 milhões agora injectados, é o sistema financeiro português que terá de assumir a diferença. O Zé Povinho fica de fora.
Claro que ainda falta um 2.º momento em todo este processo – aquele em que os administradores do BES serão punidos pela justiça. As acusações de Carlos Costa foram de tal forma explícitas que ninguém pode acreditar que um buraco de 5.000 milhões de euros se cavou sozinho. O povo precisa desesperadamente de ver certos frequentadores da Comporta atrás das grades: nós não podemos continuar a viver num país em que o Sr. Santos vai preso porque roubou 100.000 euros com uma pistola, enquanto o Dr. Espírito Santo é convidado a demitir-se porque fez desaparecer 100.000.000 de euros com uma caneta.
Mas se há muito por fazer, muito por julgar, e muita coisa para correr mal, a verdade é que nos últimos dias as instituições portuguesas e europeias enfrentaram competentemente uma situação dificílima. Quando até o PS reconhece isso, é porque estamos perante o óbvio ululante. Mais: se o governo vier a conseguir vender o Novo Banco até ao fim do ano, chutando-o para fora das contas do défice, então este será, após o “irrevogável”, o segundo coelho consecutivo que Passos tira da cartola. O Verão faz-lhe bem.
Não será cedo para dar a “vitória” no fim da 1.ª parte?
Afinal os 4.400 milhões de euros não veem da almofada para os bancos, em consequência do empréstimo da troika que o BPN acelerou? E não estamos já a pagar todas as penas de ganso dessa almofada com todos os cortes em salários, pensões e direitos sociais?
"O Governo está a enganar os portugueses" quando diz que a operação de resgate do BES não terá custos para os contribuintes, acusa Paul De Grauwe, professor de Economia na Universidade de Leuven, na Bélgica, e ex-conselheiro da Comissão Europeia.
A dura crítica é extensível ao governador do Banco de Portugal, que anteontem garantiu que a medida "não terá qualquer custo para o erário público, nem para os contribuintes".
As autoridades têm repetido que o salvamento do BES não vai ser feito pelo Estado, nem com o dinheiro dos contribuintes e por isso não há risco. Os recursos a usar na capitalização do Novo Banco (parte boa do BES) são dos bancos e "não incluem fundos públicos".
Na verdade, o Fundo de Resolução, que é dos bancos, será o acionista único do Novo Banco. Problema: o fundo, criado em 2012, tem apenas 500 milhões de euros disponíveis. Serão os contribuintes a emprestar aos bancos, por um prazo de até 2 anos, o que falta para chegar ao capital necessário: 4.400 milhões de euros. É o valor de uma reforma do Estado.
De Grauwe, uma autoridade mundial em economia monetária, arrasa a ideia de que o contribuinte português está isolado dos riscos. O empréstimo pode não ter risco, mas o Tesouro está a emprestar dinheiro e, no limite até terá de ir ao mercado. Corre riscos. Considera mesmo que isto até pode significar um reforço do empréstimo da troika. "Sei que o Governo está a recapitalizar a parte boa do BES num montante de 4.900 milhões de euros. Isto significa que o Governo português está a assumir uma dívida, seja ela depois compensada mais à frente, com um empréstimo do FMI e da UE, ou não, é indiferente".
O professor belga tem a certeza que, "ao fazer isto, o Governo põe os contribuintes em risco, como acontece sempre que emite mais dívida". O Tesouro ficará mais exposto a problemas futuros. A almofada que estava reservada à banca vai agora mirrar dos 6.400 milhões de euros para 2.000 milhões.
Paul De Grauwe diz ainda que "pode acontecer que quando o Governo vender o BES, faça lucro". "Isso serão boas notícias para os contribuintes. Mas isso é o futuro. Hoje, ninguém sabe se isso irá acontecer. Também pode acontecer o contrário, isto é, o Governo pode incorrer em perdas." Assim, "a conclusão é que está a colocar em risco os futuros contribuintes. Se o Governo diz que isto não é verdade, está a enganar os portugueses".
Se acontecer mais algum problema em algum banco, com as verbas existentes, a decisão tomada no domingo, "pode limitar a eficácia" da almofada reservada à banca, avisou também a agência Fitch, e "poderá ocorrer um impacto orçamental se outros bancos precisarem do apoio".
Para o ex-consultor da Comissão Barroso, isto é tanto mais grave porque "falhou o 1.º teste às novas regras de ‘bail in’". "A recapitalização do BES pelo governo português implica o envolvimento dos contribuintes. Já se esperava", escreveu no Twitter.

Contramaré… 7 ago.

A Comissão de Trabalhadores da Portugal Telecom (PT) pediu aos administradores envolvidos no empréstimo de 900 milhões de euros à Rioforte, do Grupo Espírito Santo, para devolverem os bónus anuais que receberam desde 2010,ou seja, desde a venda da participação da PT na Brasilcel à Telefónica, incluindo os bónus extraordinários", acrescentam os representantes dos trabalhadores.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Há gente que vai à bruxa ou há “bruxos” que se pagam bem?

O regulador decidiu que os acionistas com mais de 2% do capital do BES terão os depósitos transferidos para o BES Mau.
Foi devido aos seus clientes que o Goldman Sachs superou os 2% (2,27%) no BES. Uma justificação que chegou numa sessão em que as acções do banco português subiram mais de 14%.
O banco norte-americano vendeu mais de 4 milhões de ações do BES no passado dia 23 de julho, ou seja poucos dias antes da CMVM ter decidido a suspensão da negociação dos títulos em bolsa.
No entanto, na passada sexta-feira, o Goldman Sachs, que conta com o ex-ministro-adjunto de Durão Barroso, José Luis Arnaut, no seu conselho consultivo internacional, anunciou que, no passado dia 23 de julho vendeu 4,45 milhões de ações do BES, deixando de ter uma participação qualificada, ou seja passou a deter menos de 2% do capital do BES. Após esta venda, o Goldman Sachs ainda ficou com uma participação no BES, detendo 107,2 milhões de ações do banco, correspondentes a uma posição económica longa de 1,91% do capital do BES.
Recorde-se que, no mesmo dia desse anúncio, a CMVM decretou a suspensão da negociação das ações do BES e, com a decisão ontem anunciada pelo Banco de Portugal, serão os acionistas que assumem prioritariamente os prejuízos resultantes do desequilíbrio financeiro do BES.
A PT levantou todos os seus depósitos no BES antes de o Banco de Portugal resolver o caso. O regulador decidiu que os accionistas com mais de 2% do capital do BES terão os depósitos transferidos para o BES Mau, mas a PT salvou os seus depósitos ao levantá-los antes da resolução do caso. O levantamento desses depósitos em momento tão oportuno possibilita suspeitas de que a PT poderá ter sido avisada atempadamente da decisão do Banco de Portugal.
O levantamento dos negócios bolsistas está já a ser feito pela CMVM. Num primeiro momento, tudo o que há é a identificação dos intermediários financeiros; a CMVM está a pedir a informação detalhada de quem foram os comitentes, os investidores que deram as ordens. Tudo para perceber se o fizeram na posse de informação privilegiada e de onde ela veio. Uma das dúvidas é, por exemplo, se a família Espírito Santo esteve ou não entre os vendedores.
Da mesma forma, há dúvidas sobre a retirada de depósitos da PT do BES, que poderá ou não ter resultado de uma informação à PT - accionista e parte relacionada com o BES - de que o banco seria alvo de intervenção pública. Caso esse dinheiro não tivesse sido retirado, a perda para a PT ascenderia, só em depósitos, a quase 130 milhões de euros.
O comunicado da CMVM refere ainda outras suspeitas.
Na altura, até parecia que o Goldman Sachs pensava comprar em saldo o “maior” banco privado português, o BES, sem saber ainda que estava cheio de clientes, mas privado de dinheiro vivo…
Timidamente, lá comprou mais de 2%, que dá (?) direito a alguma coisa…Saiba-se lá como, poucos dias antes da CMVM ter decidido a suspensão da negociação dos títulos em bolsa, o banco americano, com amigos e funcionários espalhados em todos os países, vendeu parte da parte adquirida, reduzindo para 1,91% do capital do BES…
Por coincidência, a CMVM viria a decidir que os acionistas com mais de 2% do capital do BES teriam os depósitos transferidos para o BES Mau, ou seja para o lixo não reciclável…
É caso para dizer que há gente que vai à bruxa ou que há “bruxos” que se pagam bem…
Outra coincidência tem a ver com idêntica decisão, agora da PT, de retirar a tempo todos os depósitos que tinha no BES, em momento tão oportuno que permite haver suspeitas de que alguém a avisou, atempadamente, da “futura” decisão do BdP…
A PT detinha 2,1%...
Por coincidência, a CMVM viria a decidir que os acionistas com mais de 2% do capital do BES teriam os depósitos transferidos para o BES Mau, ou seja para o lixo não reciclável…É caso para dizer que há gente que vai à bruxa ou que há “bruxos” que se pagam bem…
Para desvendar estas coincidências e outras, em que ninguém acredita, muito menos quem está por dentro da tribo, a CMVM está a investigar se esta gente (e outra) foi à bruxa ou se há “bruxos” que se pagam bem para “adivinhar” o que se passará nos dias seguintes…
E como isto é crime, lá vamos ter mais trabalho para os juízes e mais uma oportunidade de comprovarmos se, realmente, há uma Justiça para pobres, outra para ricos e agora outra para ex-ricos…
Eu disse ex-ricos?

Ecos da blogosfera - 6 ago.

Quanto vale o futuro de uma criança? A pensar nas “tréguas”…

Norbert Hirschhorn encontrou a proporção certa para o soro caseiro, salvando milhões de pessoas.
Norbert Hirschhorn
A fórmula, hoje, é mundialmente conhecida: uma solução simples de açúcar, sal e água. Uma mistura que pode ter salvado 50.000.000 de pessoas.
Açúcar, sal, água. Encontrar um equilíbrio entre estes elementos foi a proeza essencial da receita do soro caseiro, e o médico Norbert Hirschhorn teve um papel-chave na descoberta das medidas certas na sua preparação.
É uma história emblemática: em 1983, depois de 2 dias com diarreia, um bebé egípcio de 3 meses não tinha forças sequer para levantar a cabeça e mamar no peito da mãe. Os médicos temiam o pior. A diarreia grave é uma das principais causas de morte nos países em desenvolvimento.
Mas com um tratamento simples, pouco mais de 4 horas depois, o pequeno bebé egípcio já estava suficientemente bom para retomar a amamentação – tudo graças a uma solução barata de açúcar, com sal em água.
Norbert Hirschhorn descreve a mudança no Mundo causada pela terapia de reidratação oral, ou soro caseiro, como “incrível”.
“Entramos numa sala e uma criança ou um adulto, estão às portas da morte. Têm os olhos fundos, respiram aceleradamente, a pele e as unhas estão azuladas”, conta Hirschhorn. Ver alguém recuperar-se de repente depois de tomar o soro “é como ver Lázaro voltar dos mortos – um milagre”, diz.
A medida certa
Hirschhorn envolveu-se na investigação da terapia de reidratação oral em 1964.
Na altura, o médico prestava serviço militar nos Estados Unidos, no serviço público de saúde, e foi enviado para o que é hoje o Bangladesh, que sofria de uma grave epidemia de cólera.
A cólera causa diarreia grave e os pacientes perdem rapidamente muita água e sais. Os infectados ficam extremamente desidratados e podem entrar em choque e morrer em poucas horas.
Na região, 40% dos moradores com cólera estavam a morrer.
À época, o tratamento de reidratação era administrado por via intravenosa, no hospital. Era caro, e muitas vezes, fora do alcance dos que mais precisavam dele.
O objetivo era encontrar uma maneira de dar o tratamento por via oral e assim ajudar muito mais gente. Outros tinham antes tentado encontrar o equilíbrio certo de açúcar, sais e água para um tratamento oral. Hirschhorn trabalhava com o capitão Robert Phillips, que tinha tentado ele próprio anos antes, sem sucesso, encontrar uma mistura correcta.
Vários pacientes morreram durante os testes.
“Phillips já tinha tentado a solução quando estava na Marinha em Taiwan e nas Filipinas, mas não acertou na medida, que era muito concentrada, e piorou as coisas”, disse Hirschhorn. Phillips tinha por isso bastante receio de deixar Hirschhorn avançar com a sua própria investigação.
O trabalho de Hirschhorn baseou-se nos estudos de Phillips e de outro colega, David Sachar, que tinha mostrado que o corpo poderia transportar sódio desde que fosse adicionada glicose – algo fundamental no combate à desidratação.
Mas a proporção correta era fundamental. Uma quantidade maior ou menor de qualquer um dos ingredientes poderia fazer com que a solução não apenas não funcionasse, mas ainda causasse danos mais graves. “As proporções são cruciais. Para obter a absorção ideal de água, precisamos da mesma quantidade de glicose e sódio”, conta Hirschhorn.
Mas os resultados provaram que a combinação funcionava e a proporção certa estava encontrada.
No hospital e em casa
Hirschhorn conta que ninguém acreditava que uma mistura tão simples pudesse ser tão eficaz. “A sua simplicidade era sua inimiga. Levou muito tempo, muito tempo, para convencer os pediatras de que era segura.”
A publicação científica Lancet descreveu a terapia de reidratação oral como “potencialmente o avanço médico mais importante do século XX”.
A UNICEF, fundo da ONU para a infância, diz que nenhuma outra inovação médica do século “teve o potencial de evitar tantas mortes num curto período de tempo e com um custo tão pequeno”.
Agora, a eficácia é mundialmente conhecida e usada por médicos em clínicas no mundo inteiro e em casa por pais que tratam de filhos desidratados.
As medidas: 8 colheres de chá de açúcar e 1 colher de chá de sal para 1 litro de água.
Hirschhorn fez um pequeno estudo, com apenas 8 pacientes, no qual a terapia de reidratação foi aplicada usando uma sonda nasogástrica.
Segundo a OMS, a diarreia é a segunda principal causa de morte de crianças menores de 5 anos, responsável pela morte de cerca de 760.000 crianças por ano.
Salvar milhões de pessoas – e o bebé de um taxista
Hirschhorn conta a história de uma viagem que fez ao Egito, muitos anos depois de o seu trabalho clínico ter permitido o uso do soro caseiro.
Durante uma viagem de táxi, no Cairo, o taxista contou-lhe que o seu filho, em bebé, tinha tido uma terrível diarreia e tinha sido salvo pelo soro caseiro num centro de reidratação oral.
Hirschhorn lembrava-se.
Esse bebé, o bebé egípcio do início da nossa história, tinha sobrevivido, crescido, estudado, e é hoje um jovem médico, que faz investigação científica nos Estados Unidos.
“Este episódio”, diz Hirschhorn, ainda visivelmente emocionado, “teve um impacto muito grande em mim – tanto quanto todas as estatísticas juntas”.
Imagem 1 e 2

Contramaré… 6 ago.

O vice-primeiro-ministro afirmou que a solução do Banco de Portugal para o BES “trava ruturas no crédito, contribui para a estabilidade do sistema financeiro como um todo, evitando uma crise desordenada e não controlada que destabilizaria todo o sistema financeiro”. Além disso, continuou, “protege os depósitos, os contribuintes, salvaguarda postos de trabalho e evita ruturas de crédito à economia no preciso momento em que a economia mais precisa”, como não aconteceu com o BPN, que obrigou o contribuinte a pagar milhares de milhões de euros. Seria "passar para o contribuinte a fatura do prejuízo”.