(per)Seguidores

sábado, 3 de novembro de 2012

Esta paz podre pode levar-nos a guerras?

Joseph Stiglitz, Nobel da Economia em 2001, discorda dos líderes europeus que recentemente têm insistido em passar a mensagem de que a crise está a ser ultrapassada. Stiglitz afirma que a verdade é exatamente o inverso dessa afirmação: a Europa está pior hoje do que estava há 5 anos e não se vislumbra nenhum indício de melhoria.
Joseph Stiglitz sublinha os esforços para a instauração de harmonização fiscal e união bancária na Europa, mas destaca negativamente o que diz ser a falta de vontade política e o desconhecimento (também por parte da classe política) do papel dos bancos na resposta à crise.
A recuperação dos milhões de postos de trabalho que já se perderam desde o início da crise é fundamental para a revitalização da Economia, adianta ainda o Nobel norte-americano, que manifesta ainda pouca confiança na moeda única europeia.
“Todos os observadores externos concordam que o euro e as políticas destinadas a salvar o euro dividem os europeus neste momento. Trata-se de divisões entre Estados, mas também no interior dos próprios Estados, onde os movimentos extremistas e nacionalistas se tornam cada vez mais fortes. Isto não é bom para a paz. No geral, o euro foi contraproducente”, declarou Joseph Stiglitz.
“A situação atual é instável e levará a mais, ou a menos, integração. É possível que os fundadores tivessem razão [ao criar a moeda única], mas imaginaram certamente que se evoluiria naturalmente para uma união política, e não uma união forçada para evitar um desastre”, acrescentou o economista neo-keynesiano.
Joseph Stiglitz felicitou, no entanto, a atribuição do Prémio Nobel da Paz à União Europeia. “A União Europeia foi criada como um projeto de paz e assegura a paz na Europa. Por isso, merece o Prémio”, declarou. Mas “a União Europeia não é a mesma coisa que a zona euro”, salientou.
Quando um Prémio Nobel vem dizer que a mensagem que os líderes europeus estão a passar de que a crise está a ser ultrapassada não é verdade, antes pelo contrário, está a piorar, temos logo a tendência de lhe dar todo o crédito (os cientistas não costumam mentir) e de concordar com ele, porque quem não for mentirosos não pode ser político…
Toda a gente sabe que a falta de crédito da Banca às empresas as leva à falência e ao desemprego dos trabalhadores e à necessidade de importar o que cá não se produz, por isso também temos que concordar com Stiglitz quando diz que não há vontade política dos líderes europeus, agravada pelo desconhecimento da classe política, que confirmamos todos os dias e em todas as Cimeiras…
E para quem vive preocupado no presente com o futuro, no que ao desemprego diz respeito, não das taxas colossais, mas dos casos de pessoas que nos rodeiam e nos cerca, é imperioso recuperar os milhares de postos de trabalho, para bem das pessoas, para angariação de fundos para o peditório da dívida e para a recuperação da soberania nacional. Percebe-se que o economista não tem muita fé enquanto o Euro servir de "faz de conta que vamos ficar todos melhor". Já antes tinha dito que, no geral, o euro foi contraproducente. E basta ter em conta que é na Eurozona onde residem todos os males e todos os maus…
Aquando da atribuição do Nobel da Paz à União Europeia, Stiglitz reconheceu o merecimento da distinção, mas foi dizendo para quem quisesse entender, que a União Europeia não é a mesma coisa que a zona euro e que o Euro não é bom para a Paz.
Não é por acaso que se ouve muita gente, cada vez mais, conhecida e anónima, admitir a possibilidade de guerras tradicionais (a que está em curso é coisa de finanças e quase virtual) nesta Europa, que se quis que fosse uma União. O grave, a acontecer, será o começo por guerras civis (entre a sociedade civil e os seus governos, governantes e políticos), que a solidariedade entre cidadãos poderá alastrar ao continente…
É triste e preocupante, que já se pense e se fale em golpes de Estado, feitos por militares, contra os golpes de Estado palacianos e por desrespeito e desprezo pela Constituição…
Claro que dentro da filosofia daqueles que dizem que “a guerra nos leva à paz”, ninguém gostaria de ver provado que “a paz podre nos leva à guerra”…
Quem tem responsabilidades, que as assumam ou que sumam!
E ouçam, de uma vez por todas, quem sabe mais do que todos os nossos ministros juntos!

Ecos da blogosfera – 3 nov.

A falta de bom senso à solta! Com senso?

O debate sobre a reforma do Estado social dominou esta semana, da esquerda à direita. Passos convidou Seguro a contribuir, mas não lhe deu tempo para refletir. Pior, chamou o FMI, rosto da troika em Portugal, a participar num processo que devia ser interno.
André Macedo
1. Quem confia no FMI para dar ideias?
O primeiro erro é evidente: o FMI não devia ter emprestado dinheiro a Portugal. O mecanismo de financiamento da UE e o BCE deveriam assumir essa responsabilidade por inteiro: têm capacidade financeira para o fazer, cobram até juros mais baixos e politicamente faz sentido que a União Europeia resolva os seus problemas sem precisar de muletas. Além disso, se tivesse sido assim, o FMI seria agora apenas um consultor bem informado e com experiência em catástrofes orçamentais, o que talvez ajudasse a UE a encontrar soluções mais depressa para sair da Grande Recessão. Desde esta semana, há mais um argumento para que as coisas tivessem sido assim: se o FMI não fizesse parte da troika, o pedido de Passos para que os seus técnicos ajudassem a redesenhar as funções do Estado não teria problema algum, nem seria recebido com tanta desconfiança. Mas não se pode pedir ao capataz que se transforme de repente em conselheiro. O FMI é a cara da troika. Misturá-la com a reforma do Estado cria o ambiente errado para a discussão.
Ponto final. O FMI gera desconfiança no país inteiro. Passos errou ao envolver o Fundo na reforma do Estado, apesar de esta consultoria não custar diretamente um cêntimo.
2. Passos não confia em Seguro?
Depois dos erros de política orçamental (financeira e económica) em 2012, estamos agora ao nível dos erros de estratégia política. O primeiro-ministro geriu mal este processo da refundação do Estado. Se queria genuinamente envolver o PS, tinha falado com António José Seguro antes de anunciar a ideia. Não o fez e, em resposta, o secretário-geral do PS respondeu-lhe com pedras na mão. Além desta asneira, fez logo outra: o convite ao FMI. Além do argumento que usei em cima, há outro: o FMI começou logo a trabalhar no dossiê, reuniu-se com os ministros da Defesa e Administração Interna para ver onde cortar. O que podia ser um sinal de eficiência (e é), também revela a falta de calma do governo, incapaz de dar uma semana ao PS para refletir sobre o assunto. Mesmo que a resposta fosse negativa, Passos tinha o dever de tentar que o processo político fosse o mais abrangente possível desde o início. Porquê? Porque o que está sobre mesa implica mudanças estruturais. Assim, além de convidar desde a primeira hora o PS, deveria ter nomeado uma comissão de economistas nacionais e internacionais para apresentarem soluções.
Ponto final. A reforma das funções do Estado começou muito mal.
3. Confia em Gaspar para pensar o país?
A reforma das funções do Estado tem de conseguir poupanças anuais de 4.000 milhões. É revelador que o problema seja visto assim. Passos tem um número como meta e não uma percentagem do PIB como objetivo. É enorme a diferença entre uma e outra abordagem. Pensar numa poupança de 4.000 milhões traduz uma preocupação contabilística imediata, o que sendo legítimo também tem as vistas curtas: se a economia crescer e as receitas aumentarem, o buraco fica logo mais pequeno; se a economia continuar em espiral recessiva, nem estes 4.000 milhões serão suficientes. Não se pode mudar o país radicalmente só a pensar no imediato. É um disparate, é um absurdo, é um perigo. Além de sabermos onde gastamos hoje (em percentagem do PIB) e onde podemos poupar, temos de saber onde temos de continuar a investir para chegarmos ao nível dos países com que nos comparamos. Olhemos para a educação: o Estado gastará 4% do PIB em 2013, a zona euro gastará 5%. Faz sentido aumentar esta diferença?
Ponto final. As funções do Estado não podem depender só da situação orçamental em 2013. Se for assim, vamos ter um Estado mínimo.
4. Confia nos bombeiros contabilistas?
Temos um governo de bombeiros que agora se quer transformar num governo de arquitetos. Refundar o Estado é isto: exige conhecimento da realidade, claro, mas também requer um olhar maior e mais amplo dos interesses que estão sobre a mesa. Não se pode redesenhar o Estado a pensar apenas nos atuais problemas orçamentais, embora eles não possam ser afastados da equação. O drama é que Gaspar vê tudo no curtíssimo prazo. Ele é como aqueles CFO que gerem para o trimestre, nunca querem investir em nada. Portanto, o primeiro-ministro tem aqui outro desafio: a centralidade do processo de revisão das funções do Estado não pode estar no Ministério das Finanças - seria mais um grave erro político. Erro porque seria dar ainda mais poder a um ministro que já o tem de mais; e erro porque até hoje não se viu em Gaspar qualquer sinal de inteligência estratégica, política e social que ajude a engrandecer o país. O assunto tem de passar já para as mãos de Passos Coelho ou vai dar muito mau resultado.
Ponto final. A reforma do Estado tem de estar centrada em Passos e Portas, não em Vítor Gaspar.
5. Confia que os impostos vão baixar?
Deixo para último talvez o mais importante. Passámos a semana a ouvir falar em refundação(?) do Estado, mas não se ouviu falar em impostos. É preciso que fique claro o seguinte: o recuo do Estado - na saúde, na educação, nas pensões, etc. - tem de implicar uma imediata e proporcional redução dos impostos diretos. Não podemos pagar como suecos e ser tratados como americanos, até porque não temos nem dinheiro nem economia para isso. Esta questão tem de estar sobre a mesa desde o primeiro momento, apesar de ter sido chutada pelo governo para um futuro distante. O difícil não é reduzir as funções do Estado - cortar é fácil; o complicado é, ao mesmo tempo, baixar os impostos e, mesmo assim, conseguir manter o sistema a funcionar com qualidade para os que continuarão 100% dependentes do sistema público. O desafio é esse, até porque há áreas - a saúde, por exemplo - em que o público é bem melhor do que o privado. Como se fará a transição sem deitar a perder tudo o que se ganhou até aqui? Como mudar sem que isso represente um tremendo atraso civilizacional?
Ponto final. Menos Estado igual a menos impostos - o governo não se pode esquecer disto. Ou pode?

Na “União” Europeia já há “cemitérios de elefantes”…

A Alemanha envelhece. No entanto, o país tem falta de pessoas qualificadas para tomarem conta dos seus reformados e os lares de terceira idade são caros. Agora, as famílias estão a enviar os seus idosos para países onde tomar conta deles é mais barato.
A partir de agora, é a Eslováquia. Frau Ludl não sabe de nada, por causa da sua demência – ou, neste caso, talvez devêssemos dizer: “graças” à sua demência. Há mais de um mês que o filho e a nora instalaram a velha senhora numa autocaravana e a trouxeram para aqui, para Zlatná na Ostrove, não muito longe da fronteira húngara. 700 quilómetros separam agora a sua nova casa da sua morada de sempre, na Baviera, e a viagem dura um dia inteiro. Na Alemanha, um lar de terceira idade é demasiado caro. Pelo menos, foi isso que o filho, gerente de uma loja de brinquedos na Alemanha, contou.
A “última viagem” leva cada vez mais alemães para lares da terceira idade no estrangeiro. Em países como a Eslováquia, a República Checa ou a Hungria, mas também em Espanha e na Tailândia, aumenta o número destas casas especializadas que se encarregam de tomar conta de clientes da Europa Ocidental e chega a acontecer serem administradas por alemães. Têm em comum o facto de oferecerem cuidados a preços mais baratos do que os lares alemães. Porque, aqui, o preço desses estabelecimentos é cada vez mais alto – o nível de cuidados 3 [o nível máximo correspondente a uma assistência de 24 sobre 24 horas] custa, ultimamente, 2.900 euros.
Nos últimos tempos, as reformas têm estagnado e, entre os beneficiários da segurança social, o número de pessoas dependentes sobe em flecha. Segundo números ainda não publicados do Statistisches Bundesamt [o INE alemão], o número de pessoas que obteve “ajuda para cuidados”, uma forma de prestação social, passou, em 2010, de 392.000 pessoas para 411.000 – ou seja, um salto de cerca de 5%. Mas é um outro argumento que pesa na balança: no quadro da “ajuda para cuidados”, o Estado pode obrigar os filhos a contribuir e fazê-los pagar uma parte desse custo. Resultado: os filhos voltam-se muitas vezes para a Europa de Leste.
Pais enviados para o estrangeiro
Se quisermos ser maus, podemos dizer que cada vez mais alemães estão a enviar os seus pais para o estrangeiro por razões pecuniárias, e a esquecê-los. No entanto, quando os interrogamos sobre as suas motivações, muitos deles dão-nos uma resposta igual à do filho de Frau Ludl: “A minha mãe está melhor ali do que na Alemanha”.
O lar de terceira idade onde vive agora a velha senhora abriu as portas apenas há alguns meses. O edifício novo, com vários andares, destoa um pouco na pobre comunidade agrícola onde foi construído: relvados bem tratados, aquários luminosos cheios de peixinhos coloridos, elevadores ultramodernos. No quarto de Frau Ludl, pelo contrário, predomina a nostalgia: na parede, o filho pendurou algumas fotografias a preto e branco, emolduradas. Ali está ela quando era pequena, na companhia de parentes há muito desaparecidos. No centro, uma imagem da papelaria de que, durante décadas, foi a proprietária e onde também vendia bilhetes de lotaria. “Agora, a minha loja está algures, lá fora, já não posso ir lá”, diz ela, lançando um olhar nostálgico à janela.
Quando partiu para Zlatná na Ostrove, esta idosa senhora já tinha atrás de si quase 6 anos de cuidados especiais. Primeiro, num lar bávaro, onde a enchiam, à força, de psicotrópicos. Rapidamente, deixou de reconhecer o filho e também deixou de conseguir andar. Tudo isto pela quantia de 3.100 euros por mês. Depois, a nora passou a tomar conta dela. Mas quando a idosa de cada vez mais escassos caracóis brancos começou a perder a razão, a nora ameaçou fazer as malas e sair de casa. Nessa altura, o casal começou à procura de uma outra solução. Encontraram um intermediário alemão na Internet.
O homem em questão, que coloca seniores alemães na Europa de Leste, chama-se Artur Frank. Serve de intermediário para pessoas dependentes, de origem alemã e austríaca. Os lares de terceira idade para onde os encaminha correspondem a um “nível de qualidade muito correta na Alemanha”, garante.
1 em cada 15 alemães ficará dependente até 2050
Não é o único a pensar que os alemães idosos podem ser cuidados por menos dinheiro, no estrangeiro. Encontramos estabelecimentos especializados em acolhimentos de idosos alemães em Lanzarote, na Grã Canária, na Polónia, e mesmo na Península Ibérica. Muitas vezes, esses estabelecimentos até são geridos por alemães. Por causa da sua elevada taxa de desemprego, a Espanha é um forte candidato ao acolhimento de alemães em situação de dependência, revela Günter Danner, lobista da segurança social alemã, em Bruxelas.
Mas, para os Ludl, esta solução já se está a revelar rentável, apesar da caixa de previdência não pagar senão cerca de metade daquilo que deveria pagar por um lar alemão. Com comida incluída, o lar de terceira idade de Zlatná na Ostrove custa cerca de 1.100 euros por mês. O subsídio de dependência é de 700 euros, o que significa que o casal tem apenas de desembolsar os restantes 400 euros. E a reforma de Frau Ludl é suficiente. A segurança social alemã teria muito a ganhar se assinasse contratos com lares de terceira idade estrangeiros. Porque, noutros países, os custos salariais dos funcionários desses estabelecimentos são muito mais baixos. Quem diz salários mais baixos diz encargos menores para quem ainda está no ativo e cujo número não para de diminuir: segundo as previsões, até 2050, 1 em cada 15 alemães estará em situação de dependência.
São muitos os diretores de lares de terceira idade que temem esta concorrência estrangeira. Ao ouvir o filho de Frau Ludl elogiar, extasiado, o clima mediterrânico da Eslováquia ou a gentileza das suas gentes, há que reconhecer que esse temor tem fundamento. No futuro, tenciona vir, com a mulher, visitar a sua velha mãe de 2 em 2 ou de 3 em 3 meses. Não sente que se está a ver livre da idosa senhora: “As pessoas que sofrem de demência não têm a mesma noção de tempo que nós. Para ela, virmos visitá-la de 3 em 3 dias ou de 3 em 3 meses é a mesma coisa, não há diferença nenhuma” e sublinha: “Pelo contrário, quando a venho visitar aqui, com a minha mulher, a visita é mais calorosa”.

Contramaré… 3 nov.

A agência de notação norte-americana acredita que os mercados podem voltar a abrir-se aos principais bancos portugueses, o que permitiria diminuir a dependência das instituições face ao Banco Central Europeu; mas avisa que o programa de ajustamento enfrenta riscos e duvida que Portugal consiga sobreviver sem um 2º resgate antes de regressar aos mercados, o que contaminaria o sector bancário.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Há maus, que podem vir por bem…

O FMI está em Portugal para dar apoio técnico à "revisão da despesa pública pelo Governo", revelou uma fonte da instituição, acrescentando que "o fundo disponibiliza assistência técnica de forma rotineira à reforma de finanças públicas a todos os países membros".
A proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano contraria a principal exigência da troika, que segundo a fórmula dos credores internacionais, a consolidação orçamental devia ser feita 2/3 pelo lado da despesa e 1/3 pelo do lado da receita. Mas é ao contrário. Aliás, mais do que ao contrário: a redução do défice vai fazer-se em mais de 80% com aumento de impostos e para a despesa ficam menos de 20% do esforço de ajustamento.
O FMI revelou que o "multiplicador" para o efeito recessivo no PIB por parte das políticas de ajustamento orçamental é muito superior ao que os governos usam. A revisão das metas em Portugal deveu-se à "correção" desse erro de origem.
O efeito "multiplicador" delas é muito superior - muito mais "amplo", no dizer do FMI - ao que estimam os governos envolvidos em tais políticas e as entidades internacionais que deram luz verde aos planos de resgate (troika). Os governos consideram implicitamente, regra geral, um efeito recessivo de 0,5, quando, segundo os estudos do FMI agora divulgados no "World Economic Outlook" (WEO), o multiplicador move-se, provavelmente, num intervalo entre 0,9 e 1,7. Ou seja, por cada euro "poupado" com o ajustamento orçamental, o efeito recessivo no PIB varia entre 90 cêntimos a 1,7 euros (muito acima da unidade) e não de 50 cêntimos, como se julgava. Enfim, a quebra no PIB no decurso desta Grande Recessão é muito superior às previsões. A espiral recessiva é muito mais ampla.
Um estudo de dois economistas do FMI reforça os argumentos das principais críticas à proposta de Orçamento de Estado: o aumento da carga fiscal ou das contribuições sociais são fatores que prejudicam o crescimento da economia no longo prazo.
O aviso está lá: o documento foi elaborado para discussão pelo FMI, mas não significa que a instituição esteja de acordo. O caso do estudo realizado pelos economistas Santiago Acosta-Ormaechea e Jiae Yoo confirma a regra, pois contraria aquilo que o FMI, enquanto membro da troika, tem avalizado em Portugal.
"O FMI já disse várias vezes que é importante que as medidas económicas sejam partilhadas de forma justa e equitativa pela população grega numa altura em que são pedidos grandes esforços para voltar a meter o país nos eixos", disse o porta-voz.
Não deixa de ser vexante, para um professor de Economia e de currículo internacionalmente reconhecido, como o ministro das Finanças, ser assessorado por uns funcionários de 5ª ou 7ª categoria de uma instituição internacional, composta por estrangeiros (e não por isso mais capacitados), para lhe dar assistência técnica na revisão da despesa pública pelo Governo, apesar de dizerem que é rotina e dispensada a todos os países membros. Estranha-se que outros técnicos do BCE e da CE não fazem parte dos “contabilistas”, já que são 3 as instituições a comer da “ajuda” com que nos querem “resgatar”…
Mas mais vexante para Portugal, é a leitura que somos obrigados a fazer de que cá não temos gente competente para fazer tal trabalho, sendo ele de cariz técnico.Ainda mais vexante para todos nós portugueses, é pensar que o apoio técnico não se traduz em apoio técnico, mas em imposição de medidas de caráter político e sistémico…
Por outro lado, tendo em conta que o OE 2013 já aprovado, contraria, e de que maneira, as exigências da troika, ainda bem que cá vieram, para puxarem as orelhas a Vítor Gaspar, que não costuma ler documentos do FMI, muito menos ir ao Facebook ler os recados do Presidente da República, embora perca algum tempo no blogue de Paul Krugman, mas sem lhe dar o devido crédito…
Assim sendo, tenhamos a esperança de que os “contabilistas”, que nas visitas anteriores nunca detetaram os buracos enormes, desta vez não deixem passar esta cambalhota e obriguem Gaspar a repor o compromisso assinado (e o ministro é mais do que rigoroso no cumprimento dos compromissos do memorando) e refazer o OE 2013…
Mas há ainda outro fator positivo nesta assessoria, que pode favorecer “os mais desfavorecidos” com este Orçamento, que tem a ver com um erro COLOSSAL dos infalíveis técnicos do FMI, que se enganaram no chamado efeito “multiplicador” aplicado nas medidas de austeridade impostas aos países “resgatados”, que resultaram em mais 340% no desvio previsto da recessão, de que fomos vítimas. Inacreditável, mas verdade!
Valha-nos a “sinceridade” e a “coragem” de o FMI se retratar publicamente e fique-nos a esperança de, em coerência, retificar a bestialidade.
E é mais uma razão para pensarmos, que os “contabilistas” do FMI estão cá, exclusivamente para corrigirem esse “lapso”, por indicação da sua patroa…
Mas o maior sinal de esperança na reposição da justiça, da equidade e do rigor nas medidas constantes no OE 2013, é o estudo de dois economistas do FMI, que reforça os argumentos das principais críticas à proposta de Orçamento de Estado: o aumento da carga fiscal ou das contribuições sociais são fatores que prejudicam o crescimento da economia no longo prazo!
Ora assim sendo, e detetando-se todas as incoerências entre o OE e as teorias ou modelos do FMI, se forem corrigidos na discussão da especialidade, só podemos ficar satisfeitos com a vinda dos “contabilistas”, apesar de nos vexarem (o Gaspar que se lixe!), porque há maus que até podem vir por bem…
Como reforço das boas intenções do FMI em pugnar pela equidade e partilha dos sacrifícios pelos que mais tem, registe-se o conselho dado ao governo grego…
Tudo isto não legitima os confiscos e os aumentos de impostos feitos a quem não contribuiu para a dívida soberana, feita pela Banca nacional e internacional e se serve da conivência do PODER para poderem assaltar quem trabalha para viver…
Quem não deve, não treme, muito menos tem medo!

Ecos da blogosfera – 2 nov.

Mais um cancro de uma austeridade maligna!

Os sucessivos orçamentos de austeridade deixaram centenas de milhares de desempregados gregos sem seguro de saúde. Uma situação desesperada que uma rede paralela de médicos procura aliviar.
O Dr. Kostas Syrigos, chefe do maior serviço de oncologia da Grécia, pensava que já tinha visto tudo. Mas nada o preparara para Elena, uma mulher desempregada, com um cancro da mama diagnosticado um ano antes de o procurar. Nessa altura, o cancro atingira o tamanho de uma laranja e rasgara a pele, deixando à vista uma ferida que Elena drenava com guardanapos de papel. "Ficámos sem fala, quando a vimos", disse o Dr. Syrigos, chefe de oncologia do Hospital Geral de Sotiria, no centro de Atenas. "Toda a gente chorou. Os livros de estudo descrevem coisas como aquela, mas nunca as tínhamos visto até então. Todas as pessoas que ficam doentes neste país deviam sempre ter ajuda."
A vida na Grécia ficou de pernas para o ar desde que a crise da dívida se instalou. Mas são poucas as áreas nas quais a mudança tenha sido mais impressionante do que nos cuidados de saúde. Até há pouco tempo, a Grécia tinha um sistema de saúde normal. As pessoas que perdiam os empregos recebiam cuidados de saúde e subsídio de desemprego durante um ano, mas continuavam a ser tratadas nos hospitais quando não podiam pagar, mesmo depois de o subsídio ter terminado.
As coisas mudaram em julho de 2011, quando a Grécia assinou um acordo de empréstimo suplementar com os mutuantes internacionais, para evitar o colapso financeiro. Agora, conforme estipulado no acordo, os gregos têm de pagar do seu bolso todos os custos, depois de o subsídio expirar.
Cerca de metade dos 1.200.000 de desempregados de longa duração não têm seguro de saúde, esperando-se que esse número venha a aumentar drasticamente, num país com uma taxa de desemprego de 25% e uma economia moribunda, disse Savas Robolis, diretor do Instituto do Trabalho da Confederação Geral dos Trabalhadores gregos.
As mudanças estão a obrigar um número crescente de pessoas a procurar ajuda fora do sistema de saúde tradicional. Elena, por exemplo, foi enviada ao Dr. Syrigos por médicos de um movimento paralelo surgido no país, para cuidar dos que não têm seguro de saúde. "Neste momento, na Grécia, estar desempregado significa morte", disse o Dr. Syrigos, um homem de modos austeros que se tornam brandos quando fala dos tormentos dos doentes com cancro.
Rede clandestina Robin dos Bosques
A situação é nova para a Grécia – e talvez também para a Europa. A mudança é especialmente impressionante no caso do cancro, cujos tratamentos são longos e caros. Quando o cancro é diagnosticado em pessoas sem seguro, "o sistema ignora-as simplesmente", afirma o Dr. Syrigos, que acrescenta: "Não têm acesso à quimioterapia, à cirurgia e nem mesmo a simples medicamentos”.
O próprio sistema de saúde é cada vez mais disfuncional e poderá ficar pior, se o Governo cortar mais 1,5 mil milhões de euros em despesas de saúde, corte que o Executivo propôs como parte de um novo plano de austeridade que tem por finalidade travar mais financiamentos. Os cofres do Estado estão vazios e os stocks são tão reduzidos que alguns doentes são obrigados a levar consigo para os tratamentos aquilo de que precisam, como seringas e endopróteses.
Os hospitais e as farmácias exigem agora o pagamento imediato dos medicamentos, o que, para os doentes com cancro, pode ascender a dezenas de milhares de euros, dinheiro que a maior parte deles não possui. À medida que o sistema se deteriora, o Dr. Syrigos e vários colegas decidiram tomar o problema em mãos.
No princípio deste ano, criaram uma rede clandestina para ajudar doentes com cancro e outros doentes que não têm seguro de saúde. Esta funciona fora da rede oficial, utilizando apenas medicamentos não usados doados por farmácias, algumas empresas farmacêuticas e até famílias de doentes com cancro que morreram. Na Grécia, os médicos que sejam apanhados a ajudar doentes sem seguro, usando medicamentos dos hospitais têm de pagar os custos do seu próprio bolso.
"Somos uma rede Robin dos Bosques", declarou o Dr. Giorgos Vichas da Clínica Social Metropolitana, nos arredores de Atenas. Vichas é um cardiologista que fundou o movimento paralelo em janeiro. "Mas esta operação tem uma data de validade", acrescentou. "Vai chegar uma altura em que as pessoas deixarão de poder doar, por causa da crise. É por isso que estamos a pressionar o Estado para voltar a assumir a responsabilidade."
Confiança aos que quase tinham desistido
Enquanto o Dr. Vichas falava, entrou Elena, com uma touca plissada e uma blusa larga. Vinha buscar medicamentos para a ajudar a suportar os efeitos da quimioterapia que lhe fora administrada havia pouco pelo Dr. Syrigos.
Elena conta que ficou sem seguro depois de ter deixado de trabalhar como professora, para tomar conta dos pais, que tinham cancro, e de um tio doente. Na altura em que eles morreram, a crise financeira tinha atingido a Grécia e agora, aos 58 anos, não consegue arranjar emprego.
Diz que entrou em pânico, quando se descobriu que tinha o mesmo tipo de cancro da mama que matara a sua mãe: disseram-lhe que os tratamentos custariam pelo menos 30.878 euros e o dinheiro da família tinha-se esgotado. Tentou vender uma pequena parcela de terra mas ninguém comprava.
O cancro alastrou e Elena não conseguiu encontrar tratamento até há alguns meses, quando procurou a clínica paralela do Dr. Vichas, de que ouviu falar. "Se não pudesse vir aqui, não fazia nada", disse. "Hoje, na Grécia, temos de fazer um contrato com nós próprios e tentar não ficar muito doentes."
Elena conta que ficou chocada por, como parte do resgate, o Estado grego ter recuado em relação a um pilar de proteção da sociedade. Mas o facto de os médicos e os cidadãos comuns se organizarem para ajudar naquilo em que o Estado falhava deu-lhe esperança nos momentos mais sombrios. "Aqui, há pessoas que se preocupam", disse.
Para o Dr. Vichas, a terapia mais poderosa pode não ser os tratamentos mas a confiança que o grupo Robin dos Bosques dá àqueles que quase tinham desistido. "O que ganhámos com a crise foi termo-nos aproximado", observa.
"Isto é resistência", acrescenta, olhando para os voluntários e doentes, que se movimentam pela clínica. "É uma nação, um povo que consegue voltar a pôr-se de pé, com a ajuda que as pessoas dão umas às outras."

Mais um remédio (não comparticipado) fora de prazo?

Para suportar os custos da crise, a zona euro começou recentemente a apostar muito na exportação, a comprimir os salários em toda a União e a tentar seduzir clientes no estrangeiro. No entanto, é precisamente isso que os países da América e da Ásia pretendem fazer.
Era visível o orgulho na cara do ministro de Estado das Finanças irlandesas, Brian Hayes, quando foi felicitado, recentemente em Berlim, pelo facto de a Irlanda poder servir de modelo para os outros países em crise. Na verdade, há já alguns meses que o país está a receber elogios de toda a parte, apesar da dimensão do seu défice e da sua dívida, e ainda da sua taxa de desemprego elevada e dos salários baixos. Porém, a Irlanda tem uma mais-valia: os seus excedentes na exportação. O país vende os seus produtos por todo o mundo e endireita as suas finanças à custa do estrangeiro. Aos poucos, os outros países da zona euro seguem o seu exemplo. O que incomoda a América e a Ásia.
É esta a principal estratégia anticrise. As medidas de estabilização da zona euro, a compra de obrigações por parte do Banco Central Europeu e a imposição de medidas de austeridade servem apenas para tranquilizar os investidores nos mercados financeiros. O caminho para a estabilidade, esse, passa pelo crescimento económico. Pela exportação. A zona euro muda de modelo económico – e o exemplo a seguir nem é o da Irlanda, mas o da campeã na exportação, isto é, a Alemanha.
Para reforçarem a sua posição no mercado internacional, os países-membros da zona euro, nomeadamente os países em crise, apostam nos salários. Estes últimos devem ser diminuídos para baixar os custos de produção. E esta diminuição divide-se em 3 fases, explica Christoph Weil, do Commerzbank. Primeiro, a recessão e a subida do desemprego limitaram a margem de manobra dos sindicatos. Depois, muitos países da periferia diminuíram os salários dos seus funcionários públicos. E por fim, entre outras medidas, as reformas do mercado de trabalho, a supressão de feriados e a redução do salário mínimo contribuíram para pressionar os salários.
Resultado: “A periferia da zona euro está a progredir consideravelmente em matéria de competitividade”, reconhecem os economistas do Crédit Suisse. No entanto, são progressos que empobrecem as famílias, que veem o seu poder de compra a diminuir drasticamente. Nos países do Sul da união monetária, a procura interna registou uma contração de cerca de 15% em termos reais. Devido à crise, a Grécia reduziu as suas importações em 13% nos primeiros 7 meses deste ano, a Itália e Portugal em 7% e a Espanha em 3%. O facto de as exportações terem vindo a aumentar progressivamente, faz com que os défices do comércio externo diminuam lentamente.
Europa tenta apoderar-se de quotas de mercado
A Espanha e a Itália apresentam novamente um saldo positivo. “A zona euro assemelha-se cada vez mais à Alemanha”, constata o Crédit Suisse. No entanto, a Grécia, a Espanha e Portugal correm o risco de terem dificuldades em liquidar a sua dívida desta maneira no seio da zona euro – a República Federal já está muito adiantada. Os países exportadores como a Alemanha ou a Holanda reagiram à queda dos custos de produção dos seus concorrentes da Europa do Sul revendo em baixa os seus preços. O que explica o facto de os países da zona euro tentarem a sua sorte mais longe e cobiçarem os mercados do Extremo Oriente e da América.
A América e a Ásia, que optaram pela mesma estratégia, veem nisto uma provocação. Assim sendo, Barack Obama, o Presidente americano, já anunciou que os Estados Unidos pretendem aumentar o seu crescimento a nível internacional. No mercado europeu, a estratégia americana não está a resultar. Em agosto, as exportações americanas com destino ao Velho Continente estagnaram. Assim como as exportações para a China. O Japão também mostra sinais de preocupação, uma vez que as exportações para a Europa caíram 6% este ano, enquanto as importações oriundas do Velho Continente aumentaram 18%.
Ao apostar na exportação, a Europa tenta apoderar-se de quotas de mercado de outros países. “O aumento dos atuais excedentes na zona euro tem um impacto negativo na economia mundial”, comenta o Crédit Suisse, aumentando assim o risco dos diferendos comerciais.
Os grandes “blocos comerciais” estão a tentar transferir o custo da crise para os outros.

Contramaré… 2 nov.

Rui Rio afirmou que a crise é culpa de “opções políticas completamente erradas” de ministros, primeiros ministros e presidentes de câmara que gastaram “dinheiro dos impostos das pessoas no seu benefício político”, nomeadamente para ganhar eleições. Para o social-democrata, “a miserável situação em que nos encontramos” tem origem “na política, na falta de conhecimento de muitos políticos e, acima de tudo, na falta de seriedade dos políticos”. “A maior parte era consciente e sabia que estava a fazer o errado”, acusou.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Os conspiradores do golpe já tem plano, o de Trói(k)a!

O Governo português começou há uma semana um conjunto de reuniões com alguns técnicos do FMI para preparar a reforma do Estado, disse um membro do Governo.
Na quarta-feira, o antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes e actual conselheiro de Estado, anunciou que as reuniões aconteceram nos ministérios da Administração Interna e na Defesa.
De acordo com o antigo líder social-democrata as alterações podem passar por mais concessões a privados, nomeadamente nos centros de saúde e nos transportes públicos, pelo aprofundamento da mobilidade especial na função pública e por um aumento dos copagamentos dos cidadãos na Saúde e na Educação e revelou também os 'timings' destas alterações, afirmando que a ideia é aprovar o estudo em 2013 para depois ser implementado no ano seguinte. Assim, em Novembro o Executivo apresentaria à 'troika' de credores internacionais os princípios essenciais das reformas no Estado e depois em Fevereiro elencaria o conjunto de medidas concretas a tomar para os concretizar.
O primeiro-ministro afirmou no sábado que até 2014 vai realizar-se uma reforma do Estado que constituirá "uma refundação do memorando de entendimento" e defendeu que "deve comprometer todos aqueles que assinaram ou negociaram o memorando de entendimento", como é o caso do PS.

De acordo com Passos Coelho, esta "nova fase" de redução da despesa através da reorganização das estruturas e funções do Estado vai ser "uma transformação para melhor e não uma compressão ou redução daquilo que existia até agora", feita "em nome do interesse comum de todos os portugueses".

Sem se referir a nenhuma área ou função em concreto, o primeiro-ministro defendeu que "o Estado só deve fazer aquilo que faz bem, e deve fazer muito melhor aquilo que não pode deixar de fazer".
Ou seja, antes da discussão e “aprovação” do OE 2013, já Gaspar (e Passos Coelho) andava a fazer desenhos do Portugal Liberal, com os funcionários da troika, que se traduz no trespasse dos serviços sociais do Estado para os PRIVADOS, a custo simbólico, retirando os direitos que os impostos tem que garantir aos contribuintes, como “regalia” que todos os acionistas tem em qualquer sociedade anónima, que no caso é conhecida… Ai o carago!
Ou seja, quando Passos Coelho inventou o neologismo da “refundação” já andava a refundar-nos, que não significa outra coisa que tornar a afundar-nos! Ai o carago!
Ou seja, quando Coelho disse que ia convidar o PS para entrar no barco a afundar, cujo leme tinha estado nas suas mãos, queria um vice-comandante (o Portas só sabe de submarinos) prevendo que o barco vai afundar ainda mais e não quer ir sozinho para o fundo (embora sejam todos ratinhos d’água)… Ai o carago!
Ou seja, antes da aprovação do OE 2013, incompreensivelmente, já estão a desenhar o OE 2014, como se nessa data ainda fossem governo e nós os suportássemos até lá, ao governo e à troika, não por falta de resistência, mas pelas condições de subsistência… Ai o carago!
E para ajudar à missa, o independente Conselheiro de Estado, Marques Mendes (todos os comentadores do PSD e todos os Conselheiros de Estado são independentes), já sabia da missa toda e toca de mostrar o desenho, que mais não é do que o retrato chapado de um Estado Neoliberal, em vez de um Estado Social, que consta da Constituição e garantido pelos nossos impostos e confiscos que o garantem… Ai o carago!
E lá veio depois Passos Coelho, feito “Bispo” da IURD, falar numa "nova fase", a da salvação, que passaria pela redução de tudo a que temos (ainda) direito, para ficarmos melhor (pensa que somos burros?), em nome do interesse comum de TODOS os portugueses… Ai o carago!
E eis que Pedro revela (o que só costuma fazer nas entrelinhas) a substância da “refundação”: o Estado só deve fazer aquilo que faz bem (e deixar aos privados o que dá lucro) e deve fazer muito melhor aquilo que não pode deixar de fazer (com mais dinheiro das sobras dos impostos e dos confiscos)… Ai o carago!
Ou seja, “Menos Estado, melhor(?) Estado”, com mais impostos e os mesmos incompetentes a geri-los, para manterem os mesmos tachos, sem gorduras e muita chicha… Ai o carago!
Ou seja, este social-democrata, PM de um governo do sul da Europa, renega a mesma doutrina dos governos sociais-democratas do norte da Europa e beija a mão aos troikanos apátridas e mercenários do capital… Ai o carago!
E ainda tem a coragem de dizer, claramente, que não precisa alterar a Constituição para fazer o que lhe dá na gana… Ai o carago!
Ou seja, com tantas omissões e mentiras, ainda pensa que há alguém que acredita no que ele diz e com isso ainda nos goza…
AI O CARAGO!
Vítor Gaspar deu o mote e definiu a “nova” linha política do Governo: os portugueses querem mais Estado do que aquele que estão dispostos a pagar e, portanto, é necessário uma redefinição do Estado.
Mariana Vieira da Silva, Socióloga
Este discurso parece novo e já se ouvem as vozes de sempre bramar que sim, que este é o debate que se impõe e que só peca por tardio. Na verdade, trata-se de uma versão requentada do projeto de revisão constitucional que o PSD apresentou há 2 anos e que, misteriosamente, foi apagado durante o período eleitoral. Para essa revisão o PSD pede agora que a ‘troika' lhe sirva de bengala e - pasme-se - o apoio do PS.
Depois do mito de que tudo resolveriam eliminando as gorduras e as mordomias; depois da farsa de que renegociariam as PPP e retirariam o apoio às fundações; finalmente o governo chega ao ponto onde sempre quis chegar, àquilo que o PSD sempre defendeu que estivesse incluído no memorando de entendimento. Primeiro acena-se o Estado social como principal responsável pela crise e depois programa-se o seu desmantelamento. Primeiro eleva-se a carga fiscal ao seu limite para criar a ideia da inevitabilidade, para depois procurar legitimar uma transformação que sempre teve uma oposição muito alargada.
A culpabilização do Estado social não resiste ao teste dos factos. Até à crise de 2008, a despesa social em percentagem do PIB era menor do que a média da UE. Portugal não é - infelizmente, aliás - esse País com um Estado social de tipo nórdico de que fala o Governo. É, por exemplo, um dos países da OCDE em que os pagamentos diretos das famílias em saúde são mais elevados - 26%; e um dos países em que é maior a parcela do financiamento do ensino superior suportado pelas famílias - 22%.
Com a refundação do memorando, Passos procura tornar inevitável uma revisão constitucional para a qual não tem apoio e o desmantelamento do SNS, da escola pública e da rede de mínimos sociais. Aqueles que se opõem à destruição que Passos agora promete não podem faltar ao debate, começando por desmontar os mitos que o alimentam.

Ecos da blogosfera – 1 nov.

Porque há gente a catar comida nos caixotes de lixo…

Em 2010, a chamada "lista Lagarde", que identifica mais de 2.000 gregos com grandes fugas a impostos, foi entregue ao Governo grego. Mas nada foi feito. Kostas Vaxevanis, chefe de redação da revista Hot Doc, foi recentemente preso por publicá-la. Para ele, é um sintoma da corrupção que grassa na Grécia.
"Quanto mais leis tem um país, mais corrupto é", costumava dizer o historiador romano Tácito. A Grécia tem muitas leis. Tantas, na verdade, que a corrupção pode viver em grande segurança. Um clube exclusivo de gente poderosa envolve-se em práticas ilegais, depois usa as leis necessárias para legalizar essas práticas, concedendo-se amnistias, e, no final, não há meios de comunicação que exponham o que realmente aconteceu.
No momento em que escrevo, as atribulações de uma revista independente grega, a Hot Doc, que eu chefio, estão a ser debatidas em todo o mundo. A publicação de uma lista de supostos titulares de contas bancárias suíças e a minha posterior prisão provocaram uma tempestade. Mas não nos meios de comunicação gregos. Há alguns meses, a Reuters e a imprensa britânica revelaram os escândalos envolvendo bancos gregos. Os meios de comunicação gregos também não escreveram nada nessa altura. O espaço que deveria ter sido dedicado a análises desses escândalos foi ocupado por anúncios patrocinados pelas mesmas pessoas que causaram a falência dos bancos gregos.
O caso Lagarde, na Grécia, é apenas uma expressão extrema da situação que se vive na imprensa grega. Em 2010, Christine Lagarde [diretora do FMI] entregou ao então ministro das Finanças, George Papaconstantinou, uma lista de gregos que tinham contas bancárias no exterior. Parte era "dinheiro sujo" – dinheiro que não terá sido tributado ou precisava de ser “lavado”. Numa sucessão turbulenta de acontecimentos, Papaconstantinou admitiu ter perdido os dados originais, mas conseguiu fazer chegar outra cópia ao seu sucessor, Evangelos Venizelos, que já admitiu tê-la visto, mas até agora ainda não teve oportunidade de apreciá-la. Em suma, a lista continua sem ter sido devidamente investigada.
Corredores sombrios do poder corrupto
Nestes 2 anos, a questão da identificação de pessoas que se presume terem contas bancárias na Suíça tem envenenado a vida política grega, com chantagens políticas e financeiras a decorrer nos corredores sombrios do poder corrupto. Foi neste contexto que a Hot Doc publicou 2.059 nomes de gregos que supostamente têm contas bancárias na Suíça, sem especificar os montantes dos seus depósitos nem qualquer outra informação pessoal.
E então, com a máxima hipocrisia, os poderes aperceberam-se da questão. O Ministério Público de Atenas saiu do seu acantonamento e ordenou a minha prisão imediata. É invocada a lei sobre dados pessoais como base para a acusação. Na realidade, porém, não estão envolvidos dados pessoais – apenas o facto de certos indivíduos terem conta num determinado banco. Nem sequer alegámos que esses indivíduos fossem culpados, apenas pedimos uma investigação.
As relações com os bancos são realizadas em público, não em segredo. A existência de uma conta bancária não é, portanto, um dado pessoal. Dados pessoais seriam o montante e o tipo de transações. Na Grécia, os bancos enviam por correio envelopes com os respetivos logótipos, onde encerram detalhes sobre transações de clientes; por outras palavras, declaram a sua relação com os clientes. No entanto, a publicação de uma simples lista de nomes e um pedido de investigação foram considerados exposição de dados pessoais.
Justiça grega pisca o olho e abana a cabeça
Na mitologia grega antiga, a justiça é apresentada como sendo cega. Na Grécia moderna, ela apenas pisca o olho e abana a cabeça. O estudo da lista Lagarde é altamente revelador. Editores, empresários, armadores, todo o sistema de poder aparece envolvido em transferências de dinheiro para o estrangeiro. E isto é informação de apenas um banco. Enquanto isso, na Grécia, as pessoas andam pelos caixotes à procura de comida.
A crise na Grécia não foi causada por toda a gente. E nem todos estão a pagar a crise. O clube exclusivo e corrupto do poder tenta salvar-se a si próprio, ao mesmo tempo que finge fazer esforços para salvar a Grécia. Na realidade, estão a exacerbar as contradições da Grécia, enquanto a Grécia oscila à beira de um precipício.
Se, na Bíblia, os pecadores "coam o mosquito e engolem o camelo", na Grécia, os poderes pecadores atuais sugam as pensões e engolem listas – para as fazer desaparecer, evidentemente. São as listas dos seus amigos, conhecidos, favoritos e companheiros de trapacice.
No país que, como gostamos de recordar, deu à luz a democracia, esta tornou-se uma criação nova e estranha. Os responsáveis certificam-se de que o direito de voto faz as vezes de democracia, negando a democracia na maneira como abusam dos direitos que os eleitores lhes deram.
E a justiça continua dominada pela política.
Atualizado às 21:55
O Fundo Monetário Internacional defendeu hoje que "os mais favorecidos" devem "pagar aquilo que é justo" referindo-se ao escândalo da lista com nomes de gregos com contas bancárias na Suíça.

"Portugal e o Holocausto - Aprender com o Passado, Ensinar para o Futuro"

Judeus na rampa de Auschwitz-Birkenau
O risco de o Holocausto voltar a acontecer não está completamente afastado, o alerta é do embaixador dos EUA em Portugal, Allan Katz, no dia em que arranca em Lisboa uma conferência sobre "Portugal e o Holocausto - Aprender com o Passado, Ensinar para o Futuro", uma organização conjunta da embaixada, Fundação Luso - Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e Fundação Calouste Gulbenkian.
"Porque é que haveremos de pensar que não há risco de acontecer outra vez", alerta o embaixador dos EUA em Portugal, Allan Katz. "Também ninguém pensava que fosse possível acontecer na Alemanha e aconteceu", recorda. "No contexto de crise em que vivemos há fenómenos perigosíssimos que podem levar a situações muito complexas, como os nacionalismos exacerbados e regimes autoritários", para além da ascensão de partidos neonazis em diversos países, acrescenta.
"Estas situações têm que ser faladas para evitar que voltem a acontecer", sublinha o mais alto representante dos EUA em Portugal. Talvez por isso um dos motes da conferência é a frase de Barak Obama, presidente norte-americano: "Nunca mais! Nunca mais é um desafio às nações. É uma verdade amarga - muitas vezes o mundo falhou ao não evitar a morte de inocentes numa escala massiva".
O objectivo da conferência é “contribuir para o desenvolvimento do conhecimento académica e promover a compreensão do Holocausto e do papel de Portugal durante esse período da história, bem como apoiar o ensino do Holocausto em Portugal", explica-se na apresentação do programa.
Ehud Gol, embaixador de Israel em Lisboa, considerou que "o ensino do Holocausto devia ser do interesse de Portugal" e referiu um acordo com Israel para formação de professores portugueses pelo Yad Vashem.
Maria de Lurdes Rodrigues, presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, defendeu que o Holocausto não deve ser transformado em matéria curricular, mas tratado nas escolas portuguesas no âmbito do desenvolvimento da cidadania ou em áreas de projetos.
Marta Torres, presidente da Associação dos Professores de História, reconheceu tratar-se de um tema difícil de ensinar, por isso defende a necessidade de criação de "situações de empatia", através de vários materiais de estudo ou de viagens aos locais relacionados com o Holocausto, como este grupo de profissionais já tem feito.
Isabel Capeloa Gil, investigadora da Universidade Católica, referiu que no ensino secundário, o Holocausto "nem faz parte dos currículos, é referenciado no programa de História o antissemitismo do regime nazi" e no ensino superior, o "Holocausto está praticamente acantonado nos cursos de História, nos seminários de História Contemporânea, o que pode ter a ver com a profundidade que o tema exige", embora também seja analisado nos Estudos Alemães. "Hoje, os alunos [universitários] sabem o que é, mas quando confrontados com imagens brutais dos campos [de extermínio], é a primeira vez que as veem e ficam chocados", acrescentou.
Helmut Elfenkamper, embaixador alemão em Portugal, declarou que o Holocausto "continua muito presente" na Alemanha, adiantando que "a memória não esmoreceu" sobre o que classificou de "crime único contra a humanidade" que constituiu uma marca na identidade alemã e considerou existir atualmente na sociedade alemã um "sólido consenso" de que o Holocausto "é definidor de como os alemães se veem e veem o mundo".
Bernhard Wrabetz, embaixador austríaco em Portugal, disse que o modo como a Áustria se foi relacionando com o seu passado foi um "processo longo e difícil".
Tal como na vizinha Alemanha, o ensino do Holocausto ao nível dos programas escolares e da formação de professores emergiu nos anos 1990 e, nos últimos anos, tem aumentado a investigação sobre aquele período da história da Áustria, adiantou. A propósito, referiu que uma investigadora austríaca inicia no próximo ano um trabalho sobre os refugiados austríacos que terão fugido para Portugal durante o Holocausto.
Manuel Loff, historiador da Universidade do Porto, disse que o discurso antirracista foi fabricado pelo Estado Novo e que Salazar foi cúmplice involuntário do genocídio. "Salazar não actuava na ignorância das questões do Holocausto", disse, para explicar que, no limite, as indicações de Lisboa durante a guerra foram a de "proteger" judeus nos locais onde se encontravam.
Avraham Milgram, investigador do Yad Vashem em Jerusalém, disse que o Estado Novo evitou ajudar judeus portugueses na Holanda e na Grécia. “O caso mais conhecido foi quando Salazar não reconheceu os 4.000 judeus de origem portuguesa, na Holanda, mas sem vínculo formal a Portugal. Este episódio faz de Salazar um cúmplice involuntário”, disse o investigador israelita, referindo-se também aos casos sobre os judeus portugueses da origem turca ou grega.
Segundo Avrahm Milgram, criou-se uma memória positiva mas, contudo, a memória em Portugal é parcial e não compreende todos os aspetos e é preciso compreender certos aspetos do passado para se compreender toda a História.
Jorge Sampaio disse que a herança traumática da II Guerra Mundial e a catástrofe do Holocausto "marcaram o século XX" e por isso, afirmou, é preciso fazer tudo para que a "as vítimas não fiquem em silêncio". Recordou também que a "Europa política" foi construída nos escombros "da tragédia".
No comments…