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quarta-feira, 20 de março de 2013

Com “evidências científicas” nos querem enganar…

Na Administração Pública as funções de menor exigência e responsabilidade são mais bem pagas do que no sector privado, enquanto as funções de maior complexidade e exigência são menos valorizadas em termos salariais do que no privado. A conclusão é divulgada pelo Ministério das Finanças, de acordo com um estudo encomendado pelo Governo à consultora Mercer.
Nas funções de topo, as remunerações pagas pelo sector privado podem exceder, em média, 30% as praticadas no sector público. Nos cargos de direcção intermédia o sector privado “tende a ser mais competitivo”, mas esse diferencial tende a esbater-se quando se desce na hierarquia.
Na análise feita às profissões menos qualificadas, a Mercer conclui que há duas realidades. No caso dos assistentes técnicos e pessoal administrativo, os salários são superiores na administração pública. Já quando se passa para as profissões com conteúdos funcionais mais baixos (assistente operacional, operário e auxiliar) o privado paga melhor.
Para a realização do estudo não foram tidas em conta as componentes de remuneração variável, nem foram considerados os efeitos das medidas salariais temporárias decorrentes das leis dos Orçamentos do Estado de 2011, 2012 e 2013.
O estudo teve como base uma amostra de 554.362 trabalhadores do sector público e 38.325 trabalhadores de 289 empresas do sector privado. Não incidiu sobre os órgãos de soberania, não incluindo por isso deputados, juízes, membros do Governo e funcionários da Presidência da República.
O estudo, frisou fonte do Ministério das Finanças, “visa perceber o posicionamento relativo do sector público face ao privado”.
Antes da encomenda deste estudo, muita gente dizia à boca cheia, governantes inclusive (Paulo Portas foi o paladino), que os Funcionários Públicos ganhavam mais do que os do Setor Privado (para justificar os cortes salariais e confiscos), mesmo quando “avisados” de que tal conclusão empírica não era comparável, pelo enorme número de FP com habilitações superiores às dos privados, até surgir este documento, encomendado e com conclusões “credíveis”, que ao contrário do que se diz, contraria o “achismo” reinante e manipulatório…
Não li na íntegra o trabalho divulgado, mas com a leitura enviesada detetei de imediato, como o artigo regista, que havia alguns pormenores, que inviabilizam uma leitura objetiva, dando origem a várias interpretações, à vontade do freguês, que dão origem a contradições.
Em primeiro lugar, os dados referem-se a salários de 2011, sem terem em conta os cortes entretanto efetuados, o que quer dizer que nada tem a ver com a realidade no dia de hoje e por isso nada valem…
Em segundo lugar, o universo de ambos os setores trabalhados é imensamente diferente, maior no público, em que as tabelas salariais são rígidas e uniformes por categoria e menor no privado, em que há muitas exceções às tabelas salariais. Acresce que no setor privado existem bónus e regalias, que alteram (e de que forma) o salário nominal, que não devem constar dos números “oficiais” do estudo.
Em terceiro lugar, se entrarmos com a média dos salários de todas as funções, para podermos comparar duas empresas iguais, uma pública e outra privada, chegamos à conclusão de que, no que respeita às remunerações, no setor público é de 2.290 euros e no privado é de 2.200 euros, inferior ao público.
Mas se procurarmos a mesma média no que aos ganhos diz respeito, já encontramos 2.275 euros para o público e 2.994 euros para o privado, superior ao público. Penso que podemos concluir que os ganhos no privado, em média são bem mais altos do que no público, embora a remuneração seja ligeiramente superior no público (não nos esqueçamos dos bónus e regalias do privado).
Pelos títulos dos vários jornais, verificamos que há diferentes leituras e diferentes conclusões, com algumas contradições, que contrariam a decisão do governo de negociar rescisões indemnizadas com assistentes operacionais, operários e auxiliares, em que o privado paga melhor… Quererá dizer que vão recorrer a serviços privados para superar as falhas e pagarem mais, em benefício dos lucros dos privados?
Mas vem agora “a pergunta do macaco”: Serão os Funcionários Públicos que estão a “ganhar mais” ou os do setor privado que estão a “ganhar menos”? Se se quer igualar ambos os setores, por que igualar por baixo? Afinal, se a justificação para os salários exagerados dos nossos gestores é o da concorrência com os estrangeiros (mais baixos) por que não usar o mesmo critério para as restantes funções?
Curiosamente, constata-se que nem no público, nem no privado, aparece qualquer referência ao Salário Mínimo Nacional… Estanho!
Com a verdade (dos estudos “científicos”) nos querem enganar…

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