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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Uma “banqueira” (do povo) que armazena bacoradas…

A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome volta a falar sobre a crise e o impacto da austeridade na vida dos portugueses, dizendo que "não se pode impor mais cortes a quem não aguenta mais", referindo-se às possíveis novas medidas a aplicar às pensões e reformas, impostas pelo Governo.
Em relação aos desempregados, afirmou que o seu "pior inimigo são as redes sociais. Muitas vezes as pessoas ficam desempregadas e ficam dias e dias inteiros agarradas ao Facebook, ou agarradas a jogos, agarradas a amigos que não existem e vivem uma vida que é uma total ilusão."
Há gente que passa a vida a fazer julgamentos morais sobre os comportamentos alheios, reduzindo toda a análise da realidade à sua visão estreita, curta e superficial.
Eduardo Luciano
Quando o conhecimento dos seus julgamentos morais se ficam pelos mais próximos e se limitam a sorrir a acenar à populaça, a coisa até parece correr bem, o pior é quando lhes colocam um microfone na frente e não resistem à tentação de comunicar ao mundo o que pensam dos pecadores.
É o caso de Isabel Jonet, que resolveu brindar os ouvintes da Renascença com a sua aprofundada análise sobre a utilização das redes sociais pelos desempregados.
A senhora entendeu por bem afirmar que as redes socias eram “um dos maiores inimigos das pessoas desempregadas” criticando os que nessa situação “ficam dias inteiros agarrados ao fecebook quando poderiam participar em acções de voluntariado que lhes aumentassem as chances de arranjar emprego”.
Já tinha decretado que não havia miséria em Portugal, já tinha culpado os pobres por terem comido bifes todos os dias, já tinha culpado os pais das crianças que chegam com fome às escolas de não terem tempo para os filhos, agora critica os desempregados que ficam todo o dia nas redes sociais.
Sobre as causas do desemprego não consta que a senhora tenha produzido qualquer teoria mas quase que aposto que encontrará como culpados… os desempregados.
A teoria não é nova e insere-se nas balelas sobre zonas de conforto de onde os desempregados não querem sair e na proverbial falta de espírito empreendedor da maioria dos portugueses e que a existir transformaria todos os desempregados em magnatas de um qualquer negócio de sucesso.
O que parece novo (mas não é) nesta julgadora de pecadores é a teoria de que perante o desemprego e a ausência de rendimentos os desempregados deveriam apostar no trabalho gratuito na esperança que alguém dê por eles e lhes ofereça uma oportunidade de emprego.
Todos nós conhecemos jovens que saltam de estágio em estágio, de “trabalho voluntário” em “trabalho voluntário”, na vã esperança de que um dia essa actividade se transforme em trabalho remunerado e com direitos.
Provavelmente um dia destes terão Isabel Jonet a culpar estes jovens por não tentarem o suficiente ou por não estarem de forma desinteressada a exercer o “voluntariado”.
Nada tenho contra o voluntariado, enquanto acção exercida nos tempos livres de cada um após o trabalho remunerado, que permite a construção de um projecto de vida.
Mas chamar trabalho voluntário aquilo que se é obrigado a fazer gratuitamente na esperança que daí surja um emprego é esticar o conceito até limites intoleráveis.
Eu também preferia que os desabafos e indignações saíssem do mundo virtual e viessem para a rua de forma organizada e consequente, mas quem sou eu para julgar o estado de ânimo de quem vive o desespero de não ter trabalho.

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